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sexta-feira, dezembro 28, 2012

PRODUTO INTERNO BRUTO. PÍFIO ! (só 'gogó'...)



Relação PIB-IPCA será a pior desde 2003



Autor(es): Por Tainara Machado | De São Paulo
Valor Econômico - 28/12/2012
 

O crescimento de apenas 0,6% da economia brasileira no terceiro trimestre levou a uma rodada de ajustes nas projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, agora situadas em 1%, de acordo com o último Boletim Focus do Banco Central. Como a inflação também frustrou expectativas nas últimas leituras, as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram para 5,7% nesta semana, ainda de acordo com o documento do BC. Se confirmadas as projeções, o ano de 2012 deve ter a pior combinação entre crescimento e inflação desde 2003, quando o PIB brasileiro avançou 1,1% e o índice oficial de preços subiu 9,3%.
Para Tony Volpon, diretor da Nomura Securities, a inflação neste ano será mais alta do que era estimado por causa do choque de commodities, que afetou preços de alimentos em meados do ano, mas também há o efeito da desvalorização do real, quice começa a fazer com que os preços dos bens comercializáveis subam com mais intensidade.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), lembra que, embora as cotações da soja e do milho tenham disparado em meados do ano por causa da forte seca no Meio-Oeste americano, houve também alívio em função de medidas como a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e linha branca. "Mesmo sem o choque de oferta, dificilmente a inflação neste ano ficaria abaixo de 5%", afirma.
Para Silvia, era esperado uma queda mais forte de alimentos nos meses recentes, o que não ocorreu. Como a inflação de serviços continua pressionada, é bastante possível que, no primeiro trimestre, a inflação alcance 6% no acumulado em 12 meses, o que será uma má notícia, segundo a economista, porque em março também será divulgado o fraco resultado do PIB de 2012.
Volpon argumenta que ainda há o agravante de que as expectativas estão mal ancoradas. "A inflação só se aproxima de 4,5% quando há um choque externo, como ocorreu no início deste ano, mas o BC não age para perseguir o centro da meta. A convergência fica sempre para o futuro, e pelo terceiro ano consecutivo a inflação ficará acima de 5,5%."
Para Volpon, houve um ruído quando, em agosto do ano passado, o BC optou por reduzir juros em um momento em que a inflação acumulada em 12 meses estava acima do teto da meta, de 6,5%, e as expectativas dos agentes econômicos para o ano seguinte já não indicavam convergência para o centro da meta. Em 26 de agosto do ano passado, dias antes de o BC começar o ciclo de afrouxamento monetário, o Focus projetava IPCA de 5,2% em 2012.
Naquele momento, vislumbrando um cenário internacional potencialmente mais arriscado, o BC acreditou no viés deflacionário do ambiente externo e passou a reduzir a taxa básica de juros. Para os economistas, também esteve embutida nessa decisão, e nos cortes posteriores, preocupação com o crescimento econômico, que já dava sinais de desaceleração.
Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e hoje sócio-diretor da consultoria Schwartsman & Associados, como as expectativas não estavam sob controle, a troca (ou "trade-off", no jargão do mercado) entre inflação e crescimento não ocorreu. "Há evidências de que o BC passou a se preocupar mais com o nível de atividade do que com a inflação", afirma, e essa percepção foi incorporada às expectativas, que apontam para IPCA acima do centro da meta até 2016. "Se as expectativas pioram, o BC não consegue comprar mais expansão do PIB."
Em relação ao crescimento, afirma Schwartsman, há ainda restrições importantes do lado da oferta. "A percepção que tínhamos de que o Brasil poderia crescer entre 4% e 4,5% ao ano ocorreu, em grande parte, porque absorvemos mão de obra que estava ociosa. Com a taxa de desemprego que temos hoje, o potencial de crescimento do PIB também fica mais restrito."
Para Volpon, da Nomura, a sistemática decepção dos economistas com as taxas de crescimento em relação ao projetado demonstram que a capacidade do investimento de reagir aos estímulos está caindo, o que, segundo o economista, tem a ver com a competitividade reduzida da indústria em função de custos elevados sem ganhos equivalentes de produtividade.
Uma evidência disso, afirma, é que, ao contrário do que se antecipava, a política monetária expansionista e a desvalorização do câmbio não foram suficientes para fazer deslanchar a economia doméstica. "Há um ano, o foco eram questões macroeconômicas. Hoje, o governo reconheceu que há problemas de oferta e competitividade", afirma Volpon. "Soma-se a isso a falta de confiança, que tomou conta de parte do mercado, por causa da postura mais intervencionista do governo. Ainda que na direção correta, há pouco diálogo com o setor privado. "
Silvia Matos, do Ibre, faz afirmação semelhante. Para a economista, as dificuldades são estruturais. "O desafio é muito maior do que apenas juros e câmbio. O ano de 2012 foi frustrante". A grande decepção, em sua opinião, pelo lado da demanda, foi o investimento.
Pelo lado da oferta, apesar da recessão vivenciada pela indústria, o setor de serviços também desacelerou e contribuiu menos para o crescimento no ano. Nos quatro trimestres encerrados em setembro de 2011, o setor de serviços avançou 3,6%. Neste ano, a alta foi de apenas 1,5% até o terceiro trimestre, na mesma comparação.
Como os serviços representam cerca de dois terços do PIB, Silvia avalia que o governo deveria dar mais atenção à necessidade de se ganhar produtividade no setor, por meio de desonerações horizontais de tributos, em vez de medidas para setores específicos. Para ela, o setor de serviços também limita o potencial de crescimento do país.

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