Visão do Correio ::
Dilma e as metas de inflação
Em campanha eleitoral ou fora dela, é importante que a autoridade de qualquer país que se pretende sério guarde estreita relação com a verdade e, se possível, se esmere em expor com clareza seus pontos de vista sobre os temas realmente importantes. Um deles é o bolso do cidadão e, particularmente, um de seus maiores inimigos, a inflação.
Nesse sentido, os brasileiros podem se orgulhar do sucesso que obtiveram a partir de 1994, ao derrotar uma inflação que, só no primeiro semestre daquele ano, tinha acumulado alta de 758,59%. Nenhum governo democrático conseguiria isso sozinho, sem o envolvimento da maioria da população. Por isso mesmo, a conquista é um patrimônio do brasileiro. Mas nenhum povo chegaria lá se não pudesse contar com um governo que, no caso, se tornou confiável por ter sido claro e convincente.
Em sua última visita a Minas, a presidente Dilma Rousseff, certamente preocupada em tranquilizar uma plateia de empresários que enfrentam diariamente a batalha de administrar custos financeiros e de produção, discursou: "Quero lembrar que, pelo 10º ano consecutivo, a inflação vai fechar o ano dentro da meta". Mas todos ali sabiam que a meta anual fixada pelo Conselho Monetário Nacional é de 4,5% desde junho 2006, ano em que o IPCA ficou em 3,14%, e que, desde então, essa meta só foi alcançada mais duas vezes — 4,46%, em 2007, e 4,31%, em 2009, penúltimo ano do governo Lula.
No governo da presidente, que claramente optou pela superada tese de que "um pouco de inflação não faz mal e favorece o crescimento", o dragão não esteve à solta, mas ameaçou o teto de sua prisão. Somou 5,91% em 2010, 6,50% em 2011, 5,84% em 2012 e, tudo indica, vai bater em 5,70% em 2013. Pior: sem a prometida contrapartida do crescimento.
A "solução" de marketing tem sido adotar o teto como meta. Está errado. É certo que, nos dois governos anteriores, as metas foram raramente cumpridas. Mas ninguém tentou confundi-las com o limite da faixa de tolerância. Também é certo que o país tem memória curta. Nem todos lembram que, pelo fato de o Brasil ter preferido manter o ano calendário para cumprir o objetivo fixado dois anos antes, foi necessário estabelecer bandas de dois pontos percentuais. Na maioria dos outros países que adotaram o sistema, a meta é permanente, medida em 12 meses (anualizada).
Melhor e mais seguro para a presidente é não dar ouvidos senão aos que preferem jogar duro com a inflação mais cedo e colher o resultado mais tarde, por mais tempo. Isso passa por severo controle do gasto público (fator de aumento de consumo e pressão sobre os preços) e, no tempo certo, por política monetária restritiva, que não eleva os juros para agradar aos rentistas, mas para evitar o pior: a perda do poder de compra do salário nos meses seguintes. Perda que, aliás, é risco político que não vale a pena correr.
adicionada no sistema em: 16/10/2013 01:50 |
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