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terça-feira, outubro 09, 2012

''... É POR DEBAIXO DOS PANOS" *



JULGAMENTO DE DIRCEU ESQUENTA O 2º TURNO

MENSALÃO DÁ O TOM DO SEGUNDO TURNO


Autor(es): PAULO DE TARSO LYRA
Correio Braziliense - 09/10/2012
Petistas e tucanos decidiram como utilizarão o julgamento no Supremo durante a campanha para prefeito de São Paulo. Enquanto a equipe de Haddad fará o máximo para escondê-lo, Serra vai abordar o esquema de corrupção

O PT comemorou o fato de o mensalão ter feito pouco estrago no partido durante o primeiro turno das eleições municipais. Fernando Haddad poderia ter subido mais rápido em São Paulo, o partido enfrentou dificuldades em cidades conservadoras como a capital paulista, no entanto, no fim das contas, os petistas ganharam mais prefeituras do que em 2008. Mas existe uma guerra pela frente: a disputa do segundo turno para a prefeito de São Paulo. No dia 28, quando as urnas forem abertas na maior cidade do país, são grandes as chances de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares já terem sido condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nos próximos 19 dias até o segundo turno das eleições municipais, o trabalho do PT será esconder isso. Ou, mais calculadamente impossível, desmembrar os dois movimentos — o julgamento do STF e a candidatura de Fernando Haddad. "O PT está no segundo turno. Se Haddad ganhar, ficou claro que o antigo PT levou o partido para o Supremo e o novo PT conquistou a prefeitura de São Paulo", disse um aliado do governo.
Serra, mais do que nunca, vai apostar todas as fichas em unir todas as pontas dessa estrela em um embrulho único. Começou a traçar esse roteiro já na noite de domingo, na coletiva dada logo após a confirmação da passagem para o segundo turno das eleições em São Paulo. "A população gosta de discutir valores, que é uma coisa que no Brasil ameaçou sair de moda", frisou, em uma referência clara ao PT e ao escândalo do mensalão.
Ontem, o candidato do PSDB foi ainda mais explícito. Ainda reuniu, em uma mesma frase, o julgamento do Supremo e o mote da campanha do PT em São Paulo, que é a apresentação de Haddad como a representação do novo. "Fala-se muito de novidade no Brasil. A grande inovação hoje em dia é a corrupção levando gente à cadeia, é a impunidade que começa a acabar. Não tem (novidade) maior para quem está atrás de novidade na vida pública brasileira", completou. "O PT vai querer usar essa eleição para abafar a questão do mensalão. Isso é muito claro."
Para Serra, não há como dissociar, em uma disputa como a de São Paulo, as questões nacionais da realidade local. "É evidente que, na questão nacional, há um mal que não pode ser ignorado, que é a questão da ética, da verdade e da corrupção", acrescentou Serra.
Preocupação
Em entrevista à rádio Estadão/ESPN, Haddad disse que não fugirá de qualquer pergunta sobre o tema, embora, até o momento, garante ele, jamais foi abordado sobre esse assunto em qualquer situação. "Nas minhas andanças por São Paulo, nunca fui perguntado sobre este assunto. O eleitor está preocupado com a administração local, ele quer uma nova cara para São Paulo. Está preocupado se sua vida vai mudar", declarou.
O secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, reconheceu que o PT está receoso com o impacto negativo que o julgamento do mensalão poderia provocar na opinião pública. Mas afirmou que o bom resultado obtido pelo PT nas urnas reverteu parte dessas expectativas. "Foi uma eleição em que nós estávamos sob uma saraivada, uma pressão muito forte em relação à maneira como está sendo visto o julgamento", disse o ministro.
Para Gilberto Carvalho, a maior preocupação, de fato, era em relação aos grandes centros. Mas a arrancada de Haddad na reta final da campanha dissipou os temores. "O resultado veio como uma reafirmação muito forte do reconhecimento do trabalho do partido ao longo desses anos no país", afirmou.
O ministro acredita que o grande antídoto foi a presença maciça do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo e no ABC paulista, além do comício feito com Dilma Rousseff na Zona Leste paulistana (Itaquera/Guaianases). "Essa presença forte foi fundamental para contrastar essa influência muito negativa, pesada, quase que massacrante que veio nos últimos dias de campanha. É provável que tenhamos perdidos votos, mas não o suficiente para tirar aquilo que nós agregamos com as presenças de Lula e Dilma."
Alianças
Dilma começou a ajudar, ontem, nas negociações para as alianças de Fernando Haddad no segundo turno. Logo após a reunião com os ministros políticos petistas, ela encontrou-se com o vice-presidente Michel Temer. Na capital paulista, Temer lançou o candidato Gabriel Chalita, que encerrou o primeiro turno com 13,6% dos votos válidos, na quarta colocação.
Temer avisou a presidente que fará hoje uma reunião com os representantes dos diretórios estadual e municipal do PMDB para definir os rumos do partido em São Paulo a partir de agora. Questionado se a parceria seria natural, o vice-presidente disse que preferia, antes, consultar os correligionários, embora admita que não há possibilidades de neutralidade da legenda na capital paulista. Também está descartada, nesse momento, qualquer sinalização de reformas ministeriais em troca de apoio. "Damos um ministério para o PMDB e o Haddad perde. Fazemos o que, pedimos a pasta de volta?", provocou um interlocutor da presidente.
O outro apoio desejado por Haddad, contudo, ainda não está consolidado. O candidato do PT disse que vai procurar, nos próximos dias, o candidato derrotado do PRB, Celso Russomanno, que teve 21,6% dos votos válidos. O PRB já tem o Ministério da Pesca, ocupado por Marcelo Crivella. Dilma deve conversar com seu subordinado para buscar uma aliança formal a partir de agora. A chapa de Russomanno, contudo, deve rachar. Se são boas as possibilidades de o PRB ligar-se a Haddad, o PTB, do vice Flávio D"Urso, deve apoiar formalmente José Serra (PSDB). O presidente estadual do PTB, Campos Machado, é amigo pessoal do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
O PT vai querer usar essa eleição para abafar a questão do mensalão. Isso é muito claro"
José Serra, candidato do PSDB a prefeito de São Paulo
"O eleitor quer uma nova cara para São Paulo. Está preocupado se sua vida vai mudar"
Fernando Haddad, candidato do PT a prefeito de São Paulo
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(*) Ney Matogrosso.
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