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segunda-feira, outubro 29, 2012

ELEIÇÕES 2012: PROMESSAS DE CAMPANHA E O ''VALE AAS''



Periferia prioriza saúde



Valor Econômico - 29/10/2012
 

Moradores do Grajaú, que chamam a região de "esquecida", foram às urnas como se estivessem apenas cumprindo uma obrigação. Para parte daqueles ouvidos ontem pelo Valor , independentemente do prefeito eleito, as dificuldades diárias que enfrentam nas áreas de saúde, transporte, violência e educação dificilmente mudarão.
Grajaú está na periferia de São Paulo, no extremo sul da cidade. O bairro ficou na segunda posição - Parelheiros ficou em primeiro e Cidade Tiradentes em terceiro - na contribuição de votos para o prefeito eleito, Fernando Haddad (PT), no primeiro turno eleitoral.
Alguns entrevistados pela reportagem se declararam antigos eleitores de Serra, mas mudaram "após os abandonos de mandatos do tucano", como diz Fernando Luiz Nunes Teixeira, ao se referir ao fato de o tucano ter renunciado à Prefeitura de São Paulo em 2006 para disputar o governo estadual. "O Serra não fez nada por nós. Pelo contrário, deixou um sucessor [Gilberto Kassab] que acabou com a região", afirma, ao dizer que por isso deu uma chance a Haddad.
Na região, a maior parte dos moradores usa o sistema público de saúde. Por isso, a área foi citada como prioridade por quase todos entrevistados. "Aqui, se você tem uma urgência e precisa ir ao hospital, está morto. Até ser atendido, o cara já morreu. Minha sogra teve um derrame. Demoraram tanto para atendê-la, que acabou morrendo", diz Teixeira. A saúde é também a principal preocupação do casal Valdinei e Paloma Martins da Silva. "Tentei marcar uma consulta em junho e só consegui em outubro", diz Silva.
Francisco Cândido Nascimento Filho também disse que deixou de votar pela primeira vez no tucano. "Ele não cumpre nenhum mandato, então votei no outro", diz. Nascimento Filho afirma que, por pior que seja o problema de saúde, só se consegue marcar uma consulta após quatro meses de espera.
Já o discurso de renovação política levou Vanilda Pinto da Silva a escolher Haddad. Moradora de Parelheiros, local onde o candidato petista recebeu mais votos no primeiro turno, ela diz ter dado uma chance ao "novato". "É como no primeiro emprego. Ninguém tem experiência, mas todo mundo teve uma chance." A demora para marcar exames e cirurgias, o mau atendimento em postos e hospitais e a falta de médicos são reclamações comuns de quem mora em Parelheiros. Por isso, entre as preocupações de Vanilda está a saúde, que vem em primeiro lugar, seguida pelo transporte urbano. "Sou sozinha e não tenho condições de ficar na fila o dia todo esperando para marcar um exame", diz.
O mesmo afirma a aposentada Fátima Fernandes, que já perdeu a conta dos anos em que vive em Parelheiros. "No ônibus, eu ando todos os dias como uma sardinha, mas o que está ruim mesmo é a saúde. Você vai no postinho e não tem nem um AAS", diz. "O governador do Estado veio aqui e prometeu ajudar uma amiga que estava com câncer. Ela morreu sem nada acontecer. Eu não tenho educação, mas não sou burra", conclui.
Em Cidade Tiradentes, extremo leste da capital, o transporte é uma das demandas dos moradores. O conferente de transportes Lecival Moreira, por exemplo, precisa deixar o bairro todos os dias às 5h da manhã para estar às 7h na Vila Guilherme. Na volta, a viagem toma outras duas horas. "Precisa melhorar o transporte. Às vezes fico um tempão esperando no ponto", diz o eleitor do PT. Cidade Tiradentes ficou na terceira posição entre votos para Haddad no primeiro turno. Marcel Roberto da Silva, de 29 anos, votou em Haddad. Ele quer melhorias na saúde pelas dificuldades que encontra no seu cotidiano. "Outro dia indicaram uma injeção para minha esposa que estava com dor no estômago, mas não tinha no hospital".

Felipe Marques, Karin Sato e Luciana Seabra

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