Marcio Fernandes/AE
"Dirceu vota escoltado por militantes petistas em colégio na Saúde"
O
ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, mobilizou no domingo, 7,
uma tropa de choque de cerca de cem militantes e sindicalistas que o
blindaram na hora da votação e impediram que jornalistas se aproximassem
dele.
Principal réu do mensalão, já condenado por três ministros do
Supremo Tribunal Federal pelo crime de corrupção ativa, Dirceu chegou à
Escola Estadual Princesa Isabel, no Bosque da Saúde, às 16h25, em um
Ômega australiano preto.
Muito magro, longos cabelos grisalhos,
abatido, Dirceu saltou do veículo ainda no meio da rua Ibirarema.
Imediatamente, viu-se cercado pelos simpatizantes ruidosos que vestiam
camisetas vermelhas e empunhavam faixas e bandeiras do PT e o
aplaudiram. "Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro", entoou o grupo, que
invadiu a escola sob o olhar complacente de dois soldados da PM que ali
davam plantão.
A turma de Dirceu distribuiu empurrões,
cotoveladas e socos e abriu caminho ao ex-ministro até a 93.ª seção
eleitoral, instalada na sala 3, térreo. Em menos de dois minutos, ele se
identificou ao mesário e votou. Quando saiu do recinto, seus aliados já
haviam formado um corredor e, de braços dados, novamente hostilizaram
os repórteres. "Orgulho da democracia brasileira", fez coro o aparato.
"Ei Zé, estamos com você."
Escoltado à saída do colégio, praticamente carregado, Dirceu não fez declaração e se foi.
A
claque agressiva passou o dia em um bar da esquina com a Rua Porangaba.
"Nossa parte nós fizemos", afirmou uma mulher, ao lado do deputado
Vicente Cândido (PT-SP). "(A ação) é solidariedade dos militantes do PT,
tem que fazer com todos os nossos dirigentes que estão sendo linchados
pela imprensa, só isso", disse o parlamentar, um dos coordenadores da
campanha de Fernando Haddad à Prefeitura.
"A agressão é
recíproca", insistiu Cândido, "Tinha repórter com material indecente só
para provocação. Vocês são um monte de santo? Vocês são anjinhos e o
pessoal do PT é um monte de bandido, é isso."
Portão dos fundos.
Daniel Reis, diretor da CUT, disse que ele e seus colegas foram prestar
solidariedade a Dirceu. "São sindicalistas que têm relação pessoal com
ele, químicos, bancários, professores. O mensalão é um julgamento
precipitado, toda a sociedade já o condenou, antes mesmo da Justiça",
afirmou.
O ex-ministro almoçou em Vinhedo, onde reside, na
companhia do filho, Zeca do PT. Antes de sua chegada ao Bosque da Saúde,
batedores de confiança fizeram uma varredura no entorno da escola. Pelo
rádio ou por celulares eles mantinham o ex-ministro informado passo a
passo da movimentação. Falhou o plano de entrar por um portão dos fundos
porque a diretoria do Princesa Isabel não autorizou.
Dirceu
votava em outra seção, na Avenida Iraí, domínio da classe média alta. No
pleito de 2008, ele ouviu impropérios de eleitores, que o chamaram de
mensaleiro e arremessaram pastéis em sua direção. Em 2010, o ex-ministro
entrou escondido no prédio. No domingo ele foi à forra.
Para
evitar novos constrangimentos, Dirceu havia requerido mudança de seção,
para esses lados do Bosque da Saúde, endereço predominantemente de
famílias e comércio modestos. A Justiça negou a solicitação, sob
argumento de que ele está com os direitos políticos suspensos por oito
anos. Por meio de mandado de segurança, que o Tribunal Regional
Eleitoral acolheu, ele conseguiu enfim o deslocamento para o Princesa
Isabel, com 13 seções e 4.810 eleitores.
Sob o impacto da
condenação iminente no STF, como mentor do mensalão e chefe de
"organização criminosa", ele chegou a cogitar, na noite de sábado, da
possibilidade de não votar e justificar depois a ausência.
Dirceu chegou quase no encerramento do horário eleitoral por uma questão estratégica.
Integrantes
do PT acreditavam que se ele votasse no início da manhã poderia
eventualmente comprometer a campanha de Haddad à medida que seria
divulgado que um réu graúdo do mensalão escolhera o petista.
http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/mensalao/story.aspx?cp-documentid=254111000
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