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terça-feira, fevereiro 19, 2013

CARNES: PANGARÉS EM ALTA

19/02/2013
Caso da carne de cavalo atinge Nestlé e JBS
Escândalo da carne de cavalo na Europa atinge a Nestlé e o JBS


Jamil Chade
Correspondente / Genebra


O escândalo da fraude no comércio de carne na Europa respingou no grupo brasileiro JBS. Ontem, a suíça Nestlé revelou que realizou testes em alguns de seus produtos e constatou que eles continham carne de cavalo, e não de vaca, como suas embalagens informavam. 

A carne era fornecida pelo JBS, o maior produtor de carnes do mundo, que havia comprado o produto de outra empresa na Alemanha antes de repassar para a Nestlé.

O escândalo na indústria alimentícia foi primeiro revelado na Inglaterra, há pouco mais de duas semanas, indicando a presença de carne de cavalo em produtos que se apresentavam como sendo carne de vaca, até mesmo em grandes redes de fast-food, como a Burger King.

A polêmica, em poucos dias, se espalhou por vários países europeus, escancarando falhas no sistema de controle sanitário da União Européia (UE) e uma cadeia de produção envolvendo intermediários, produtos e empresas que, no final da linha, nem mesmo sabem a origem do que estão vendendo. Mas se até agora o escândalo envolvia empresas de porte médio, a nova revelação demonstra que a fraude está instalada no setor de carnes da Europa e respinga nas maiores empresas do setor.

Exames. 

A Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo, confirmou ontem que, depois de realizar exames em seus produtos, constatou que também teria sido vítima da fraude. A informação foi revelada uma semana depois de a própria Nestlé ter emitido um outro comunicado garantindo que seus produtos não haviam sido afetados pelo escândalo europeu. Segundo um comunicado da companhia com sede na Suíça, o fornecedor seria a empresa alemã HJ. Schypke, que fornece a carne à JBS Toledo N.V., uma subsidiária do grupo brasileiro na Europa. Já a JBS usaria carne da empresa alemã para repassá-la para a Nestlé. 

O JBS, em seu site, informa que fornece "a carne processada de mais alta qualidade, sem concessões". O JBS comprou a Toledo, com sede em Gent, na Bélgica, em 2010, por € 11 milhões. Procurado no Brasil, o JBS não se pronunciou até o fechamento desta edição.

"Nossos testes encontraram DNA de cavalo em dois produtos feitos com a carne fornecida pela H.J. Schypke", indicou a Nestlé, que garante já ter avisado as autoridades de sua constatação e insistindo que não existe risco para a saúde dos consumidores.

Mesmo assim, a Nestlé optou por retirar das prateleiras dos supermercados produtos como o ravióli e o tortelini de carne da marca Buitoni. Essas substituições ocorreram na Itália e na Espanha. Já na França, o produto afetado é a lasanha à bolonhesa Gourmandes. Os testes nesses produtos revelaram que mais de 1% da carne testada não era de vaca.

Pedindo desculpas aos consumidores, a Nestlé insiste que vai aumentar a partir de agora os programas de controle de qualidade, adicionando aos exames a verificação de DNA de cavalo em sua produção na Europa. A companhia garantiu que suspendeu todo o fornecimento vindo da empresa alemã e que vai substituir os produtos atingidos por carne 100% de vaca.

Nas últimas duas semanas, empresas registraram a queda da venda de alimentos prontos em quase 50%, enquanto as autori­dades políticas do continente não disfarçam a saia-justa diante do escândalo.

Para lembrar: Medo de queda nas vendas

As informações sobre a venda de carne de cavalo com sendo carne de boi provocaram uma série de questionamentos na Europa. Em Bruxelas, o comissário europeu de Saúde, Tonio Borg, chegou a convocar a imprensa para esclarecer que o escândalo não configurava uma crise de segurança alimentar, já que não há risco no consumo. "Nós não devemos semear o pânico", disse. O problema é que as suspeitas de fraude despertaram temor na população, ainda traumatizada pelo mal da vaca louca no Reino Unido. E há ainda o fato de que os produtos com carne de cavalo não teriam sido submetidos ao teste para verificar a presença de feniíbutazona, uma substância comumente usada nesses animais que é banida por ser insegura para o consumo humano. Ela poderia causar, em casos raros, doenças no sangue.

Consumidores acusam as autoridades sanitárias de falta de controle sobre os alimentos na Europa. Como consequência, empresas do setor temem uma crise econômica causada pela queda nas vendas. Produtos como lasanhas, canelones e massas congeladas em geral vêm sendo retirados das prateleiras de grandes redes supermercadistas da França, como Carrefour, Monoprix e Picard, e de outros países europeus.

O consumo de carne de cavalo é um hábito difundido na França, mas é reprovado pela maioria dos consumidores em outros países, como o Reino Unido, onde a Agência de Segurança Alimentar localizou desse tipo de carne em 29 produtos, entre 2,5 mil investigados.
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