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terça-feira, fevereiro 19, 2013

VENEZUELA: O RETORNO

19/02/2013
Ditaduras e democracias: Chávez anuncia volta, mas não aparece

Chavistas comemoram e opositores questionam veracidade da notícia.
Após dez semanas internado em Cuba para tratamento de um câncer, o presidente Hugo Chávez anunciou, pelo twitter, ter voltado de surpresa à Venezuela. Apenas fontes do governo confirmaram o retorno, e nenhuma imagem foi divulgada, deixando muitos venezuelanos descrentes. Alheios às suspeitas, os chavistas celebraram em frente ao hospital militar, para onde ele teria sido levado. Por outro lado, estudantes fizeram protesto em frente à Embaixada de Cuba contra a ingerência de Havana no país.

Retorno na surdina

Chávez anuncia ter voltado a Caracas após dez semanas internado em Cuba, mas não aparece
Janaína Figueiredo
Correspondente

BUENOS AIRES 
A comparação causou furor entre os internautas venezuelanos ontem: 

"Chávez é como Papai Noel: se veste de vermelho, chega de noite, ninguém o vê e somente os inocentes acreditam nele". 

Por volta das 6h de ontem, o presidente da Venezuela informou por meio de sua conta no Twitter que estava novamente em seu país, após dez semanas de ausência. 

Não foram divulgadas imagens de sua chegada e as únicas fontes que confirmaram o retorno foram funcionários do governo e membros do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

"Chegamos novamente à Pátria venezuelana. Obrigado meu Deus! Obrigado Povo amado!! Aqui continuaremos o tratamento", tuitou o presidente.

Muitos chavistas comemoraram a volta de seu comandante na porta do hospital militar de Caracas, para onde Chávez foi levado, de acordo com o Palácio de Miraflores, e em outros pontos da cidade. Já opositores manifestaram suas suspeitas sobre as informações oficiais nas redes sociais, e dirigentes da Mesa de Unidade Democrática (MUD) exigiram transparência ao governo chavista. Estudantes que passaram quatro dias acorrentados em frente à Embaixada de Cuba em Caracas para protestar contra a suposta ingerência de Havana no governo venezuelano suspenderam a manifestação com o retorno de Chávez.

Rumores ininterruptos

A famosa frase de Bertolt Brecht - "De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida" - reflete, em grande medida, o clima de ontem na Venezuela. Três dias depois da publicação das primeiras fotos de Chávez no Centro de Investigações Médico-Cirúrgicas de Havana, onde foi internado em 10 de dezembro para submeter-se à quarta cirurgia após o diagnóstico de câncer em junho de 2011, o presidente anunciou sua volta à Venezuela, mas não conseguiu conter os rumores sobre seu estado de saúde e o futuro político do país. Informações extraoficiais divulgadas pela imprensa local indicaram que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) estaria a postos para realizar a cerimônia de posse do quarto mandato do presidente - a data original do juramento era 10 de janeiro passado, mas a corte permitiu que o trâmite fosse adiado. A diretoria do PSUV assegurou que nada acontecerá enquanto o mandatário estiver sob tratamento médico.

- (Chávez) prestará juramento quando estiver bem e são - disse o governador do estado de Anzoátegui e dirigente do PSUV, Aristóbulo Istúriz.

Para Ignácio Ávalos, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), o retorno de Chávez não resolve a crise política local. Segundo Ávalos, "a sensação de desconfiança está instalada":

- As pessoas se perguntam: para que veio Chávez? Ele está melhor? Vai governar? E até mesmo se continua vivo.

Versões contraditórias sobre a chegada do presidente foram constantes.

 Uma enfermeira do hospital militar afirmou ter visto o chefe de Estado "chegar caminhando". Para o jornalista Nelson Bocaranda, que revelou a doença de Chávez, "a enfermeira se enganou de paciente".

Adversário de Chávez nas eleições de outubro passado, o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, deu as boas-vindas ao presidente e pediu que sua presença ajude o governo a atuar "com sensatez" a partir de agora. 

A oposição acusa o Palácio de Miraflores de aplicar um "pacotaço" econômico, que incluiu uma nova desvalorização do bolívar e provocou uma aceleração do processo inflacionário.

- Acho que Chávez veio acalmar os ânimos. A situação econômica está cada vez mais complicada - disse o jornalista Hernán Lugo, do "El Nacional".

Com as mesmas incertezas que existiam quando o presidente estava em Cuba, a oposição continua apostando na convocação de futuras eleições presidenciais, e Maduro, segundo o professor da UCV, "fortalece sua postura de candidato à sucessão de Chávez". Capriles seria, novamente, o candidato único dos opositores.

- Não se muda de estratégia aos 45 do segundo tempo - afirmou Ávalos.
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