Com ordem de prisão decretada pelo STF, Natan Donadon foge dos policiais federais; PMDB-RO diz que parlamentar foi expulso;
BRASÍLIA
O deputado federal Natan Donadon não se entregou ontem à Polícia Federal, como era esperado, e agora é considerado foragido. A PF fez buscas em seu apartamento funcional, em Brasília, e nos escritórios políticos e residências em Rondônia, mas não o localizou.
Seu advogado, Nabor Bulhões, havia prometido que Donadon se apresentaria até o meio-dia de ontem expedido pela ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), e chegou à PF por volta das 16 horas de anteontem.
Na quarta-feira, o plenário do STF determinou a prisão do deputado. É a primeira vez, desde a Constituição de 1988, que um parlamentar deverá ser preso no exercício do mandato.
Ele e mais seis pessoas foram condenadas por participar de um esquema de desvio de recursos na Assembleia Legislativa de Rondônia, entre 1995 e 1998, em um contrato de publicidade cujos trabalhos não foram realizados. Os desvios somaram R$ 8,4 milhões em valores da época que, atualizados, chegam a R$ 58 milhões. Donadon foi condenado a 13 anos, quatro meses e dois dias em regime inicialmente fechado, pelos crimes de peculato e formação de quadrilha.
- Ele tem de ter um tempo para se preparar psicologicamente. Foi isso que ele me disse - disse o advogado.
Só agora, depois de Donadon ter sido condenado em última instância no STF e de estar com ordem de prisão decretada, o PMDB de Rondônia resolveu expulsar do partido o deputado e seu irmão. "O diretório regional do PMDB de Rondônia informa que decidiu desligar seus quadros Natan Donadon e Marcos Antonio Donadon", informa um documento entregue pelos dirigentes do diretório ao presidente nacional em exercício do partido, senador Valdir Raupp (PMDB-RO).
A denúncia contra Donadon foi recebida pelo Tribunal de Justiça de Rondônia em 2002. Como ele havia sido eleito deputado federal, o processo subiu para o Supremo, que o condenou em outubro de 2010. Mas, a defesa recorreu por duas vezes, e somente agora a sentença foi considerada transitada em julgado.
O resultado do julgamento de Donadon pode servir de precedente para o caso de deputados condenados no processo do mensalão. Para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o caso servirá como parâmetro para que o STF não aceite recursos protelatórios dos réus do mensalão.
- Estávamos diante dos segundos embargos declaratórios. O que importa é que as conclusões a que se chegou o STF nesse caso deverá ter repercussão no caso da ação penal 470 (a do mensalão) - disse Gurgel, anteontem.
cassação: Zveiter será o relator
O deputado havia se valido de vários recursos para não ser preso. Em 2010, um dia antes de ser condenado pelo STF, ele renunciou ao mandato, mas tornou a se candidatar e foi reeleito para a Câmara, tomando posse em 2011. Seu suplente é o ex-senador Amir Lando (PMDB-RO), ex-relator da CPI do PC que levou ao impeachment do então presidente Fernando Collor.
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Federal, o nome de Natan Donadon foi incluído no Sistema Nacional de Procurados e Impedidos, numa tentativa de evitar que ele deixe o país. Donadon é natural de Vilhena, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia. Anteontem, o irmão dele, Marcos Antonio Donadon foi preso ao desembarcar no aeroporto de Porto Velho. Ele foi condenado pelo mesmo crime de Natan.
Ontem, assessores da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados também procuraram o parlamentar em seus endereços conhecidos para lhe entregar uma intimação para que se defenda no processo aberto para cassação de seu mandato. O relator do processo é o deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ). No entanto, ele também não foi localizado. A CCJ tentará notificá-lo até a semana que vem. Caso não consiga, irá publicar no Diário Oficial da União e no Diário da Câmara um edital para informar que ele deve apresentar sua defesa por escrito no prazo de cinco sessões. Se não o fizer, o relator pode nomear um defensor dativo, que terá igual prazo para defender o deputado.
Câmara tem pressa para cassação
Uma vez entregue a defesa, o relator também tem cinco sessões para apresentar seu parecer que, após aprovado pela CCJ, segue para o plenário da Casa, que decide se decreta ou não a perda do mandato. Para a perda do mandato, são necessários 257 votos favoráveis. O presidente da CCJ, Décio Lima (PT-SC), avalia que a cassação de Donadon será inevitável:
- É uma matéria muito fácil de interpretação porque houve uma sentença condenatória transitado em julgado. Cabe apenas à Câmara declarar a perda do mandato. Mas precisamos garantir o prazo da defesa.
O advogado do parlamentar chegou a alegar, durante o julgamento, que ele não poderia ser preso porque exerce o cargo de deputado. Mas o ministro Teori Zavascki ressaltou que não há incompatibilidade entre a atividade parlamentar e a prisão.
A Câmara tem pressa em cassar o mandato do parlamentar. O presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PDMB), disse que só resta à Câmara cumprir o que determinou o STF. Antes das manifestações populares, havia um debate entre o Congresso e o Supremo sobre a quem caberia a cassação do mandato de um parlamentar cujo processo transitara em julgado. O debate se dava por conta dos deputados condenados no mensalão, mas que continuam exercendo suas funções. Alves defendia que caberia à Câmara decidir. No caso de Donadon, porém, ele resolveu acelerar a tramitação.
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