Mais inflação e PIB menor, prevê o Banco Central
BC vê inflação de 6% e crescimento menor
Mais inflação e PIB menor, prevê o Banco Central
Ao que tudo indica, o governo está perdendo a guerra contra a inflação, a despeito da promessa da presidente Dilma Rousseff de que a estabilidade econômica é um bem precioso do qual não abre mão.
A disseminação de reajustes contaminou tanto a indústria e o varejo, que o Banco Central foi obrigado a rever, de 5,7% para 6%, a sua estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. Assumiu, ainda, que o custo de vida ficará, até o primeiro trimestre de 2015, sistematicamente acima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário (CMN), de 4,5%. Na melhor das hipóteses, a média anual de inflação no governo Dilma será de 5,9%.
Ao mesmo tempo em que elevou a previsão para o IPCA — há 29% de chance de o indicador estourar o teto da meta deste ano, de 6,5% —, o BC derrubou a projeção de crescimento para este ano, de 3,1% para 2,7%, número considerado extremamente positivo por técnicos do próprio governo, que já falam em expansão entre 1,5% e 1,9%, e pelo mercado financeiro. É justamente a escalada de preços que está minando o ritmo da atividade, ao reduzir o poder de compra das famílias e inibir os investimentos produtivos. As empresas temem ampliar a oferta, e, mais à frente, não terem para quem vender.
Escalado para pregar o otimismo e minimizar os números que ele mesmo preparou, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, garantiu que a promessa do presidente da instituição, Alexandre Tombini, de o país encerrar o ano com inflação abaixo de 5,84% ainda está de pé. "Estamos trabalhando para diminuir a inflação. Se vai ter (resultado), o futuro vai dizer", disse. "O BC dispõe de instrumentos, e está fazendo uso deles, para que a inflação permaneça sob controle. Inflação alta é uma coisa, e o BC reconhece que ela está elevada. Mas isso é diferente de inflação fora de controle", afirmou. Ele é o maior defensor de que a autoridade monetária force a mão na alta dos juros como forma de conter os reajustes. Desde abril, a taxa básica (Selic) subiu de 7,25% para 8% ao ano.
Apesar de enfático, o discurso de Hamilton não convenceu o mercado. Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, disse ser praticamente impossível que a inflação chegue ao fim deste ano em patamar inferior ao de 2012. "A não ser que a gente reze muito para São Pedro, e as condições climáticas puxem os preços dos alimentos para baixo, o custo de vida não cederá tão cedo", assinalou. No entender do economista, o Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem já nasceu morto, está ultrapassado, por não considerar, sobretudo, o repasse da alta do dólar para o consumidor.
Dólar sobe
Ontem, após a divulgação do documento do BC, o mercado começou a refazer as estimativas para a inflação, movimento reforçado depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciar a retirada gradual do desconto de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de móveis e itens de linha branca. Segundo os analistas, mesmo que o repasse do imposto seja lento, terá impacto no custo de vida. "O quadro de inflação continua preocupante e a política fiscal não ajuda. Pelo contrário, estimula fortemente o consumo", argumentou Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
Na opinião de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o BC explicitou que o quadro inflacionário piorou em vez de melhorar, o que só pode ser lido como a continuidade da alta dos juros, pelo menos até que a tendência do dólar fique mais clara e as expectativas do BC para a inflação se confirmem. Para os analistas, apenas um choque de juros derrubaria a inflação do ano para um número abaixo dos 5,8% observado em 2012 — estratégia que foi descartada por Carlos Hamilton —, mas isso empurraria o país para uma recessão, como aumento do desemprego, às vésperas das eleições de 2014, quando a presidente Dilma tentará a reeleição.
Segundo o economista Caio Megale, do Itaú Unibanco, a forte oscilação do dólar, que ontem voltou a subir, fechando a R$ 2,196 para venda, pressionará ainda mais os indicadores de preços. A alta da moeda norte-americana frente o real, em 2013, tem potencial para elevar o IPCA em 0,5 ponto percentual. Megale destacou ainda que a redução do custo das passagens de ônibus e de pedágios só ajudará a amenizar a carestia no ano. Não à toa, o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia, sustenta que as chances de o BC estar certo, ao afirmar que a inflação deste ano ficará abaixo de 2012, são muito pequenas. Ele disse mais: "O BC terá de reduzir, mais uma vez, a projeção de crescimento para este ano. O consumo das famílias dá sinais de enfraquecimento importante e o mercado de trabalho está menos aquecido", observou.
» Demissão
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, leu uma nota ontem, escrita pela assessoria de imprensa da instituição, na qual negou que tenha pedido demissão ou que estivesse insatisfeito com a condução da política econômica, claramente submetida aos interesses do Palácio do Planalto. "Tal informação não corresponde aos fatos", garantiu. Ele afirmou também que o BC procura tomar, sempre, a melhor decisão para o país. "Se foi certa ou errada, não cabe a mim me manifestar."
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