PENSAR "GRANDE":

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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

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quinta-feira, abril 03, 2008

CPI DOS CARTÕES CORPORATIVO/DOSSIÊ: MEU NOME NÃO É JAMES, NEM JOHNNY!!!




O plenário do Senado viveu momentos deprimentes na tarde desta quarta-feira (2). A sessão começou com uma provocação e terminou em baixaria.
A provocação: o senador Tião Viana (PT-SP) instou o colega Álvaro Dias (PSDB-PR) a explicar-se sobre a notícia de que é ele o autor do vazamento do dossiê sobre gastos secretos da gestão FHC.
A baixaria: o senador Mão Santa (PMDB-PI) chamou a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) de “galinha cacarejadora”. Disse que extraiu a expressão das páginas do livro “Mein Kampf” (“Minha Luta”). O autor é Adolf Hitler. Foi ao prelo em 1924.
Em resposta a Tião Viana, Álvaro Dias subiu à tribuna. Reconheceu, em parte, algo que fora veiculado no blog do jornalista Ricardo Noblat: recebera mesmo uma cópia do dossiê com informações extraídas do “banco de dados” que Dilma Rousseff diz ter montado na presidência da República. Esquivou-se de confirmar, porém, se passou adiante o papelório, de 13 páginas, veiculado pela primeira vez pela revista Veja.
A admissão de Dias levou a bancada governista a pregar a ida dele à CPI -não como membro, mas na condição de depoente. De resto, as palavras do senador eletrificaram o ambiente. Em timbre ríspido, a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), disse: “Nenhum papel voa (...). Se tinha, aqui, alguém que portava e o senador reconhece que viu, que teve acesso, tem de identificar a fonte. É a melhor maneira de saber quem vazou.” Dias não se deu por achado. Primeiro, disse que não reconhece em Idelli autoridade para questioná-lo. Depois, repetiu da planície o que dissera do alto do plenário: “Na segunda-feira, logo depois da circulação de Veja, eu afirmei que tinha visto o dossiê. Outros viram. Deixou de ser novidade há muito tempo. A própria ministra Dilma afirmara, num encontro com empresários, em fevereiro, que o governo não apanharia quieto, que estava levantado os gastos do governo passado.” O senador tucano perguntou: “Por que questionar agora se sou fonte ou não? Nós é que temos de questionar: é lícito usar a máquina pública para elaborar dossiês contra adversários? Com que objetivo? Só pode ser para confundir e para insinuar que todos estão no mesmo balaio da indecência, para intimidar opositores.” De resto, disse que o governo se recusa a pôr a Polícia Federal no caso porque a comissão de sindicância aberta por Dilma permite chegar a uma “solução mais confortável”: “culpar um subalterno e poupar os responsáveis maiores.” Seguiu-se um acalorado e intoxicado debate. "Se o senador Álvaro Dias não quer que sejam punidos inocentes, deveria dar o nome de quem vazou", espetou Romero Jucá (PMDB-RR), líder de Lula. "Se eu soubesse quem vazou, diria", deu de ombros Dias. O líder tucano Arthur Virgílio (AM) cobrou “responsabilidade e sensatez” de Ideli. Lembrou que, quando a líder petista fora alvo de acusações, ele próprio saíra em sua defesa. “Eu queria provas”. Disse ter feito o mesmo quando tentou-se envolver Aloizio Mercadante (PT-SP) na “armação” do dossiê que aloprados petistas negociavam com os mentores da máfia das sanguessugas, em 2006. José Agripino Maia (RN), líder do DEM, pontuou acerca do “surrealismo” da discussão. “Aqui se falou em papel que voa. Como se o que interessasse fosse o vôo do papel e não o que está escrito no papel.” Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, ecoou Agripino: “O governo sabe quem mandou montar o dossiê e quem o montou. Funcionário nenhum da Casa Civil ousa dar qualquer passo sem antes consultar a ministra Dilma. Nada disso estaria acontecendo se o governo fizesse o que realmente importa: abrir os dados, como se dispôs a fazer, na primeira hora, o presidente Fernando Henrique.” Renato Casagrande (ES), líder do governista PSB, jogou gasolina numa fogueira cujas labaredas já roçavam o teto: “Dizia-se que a ministra Dilma, mesmo que não tivesse culpa, tinha responsabilidade pelo vazamento, como titular da Casa Civil. Agora tem a suspeita de que um parlamentar da oposição vazou o documento. Se continha dados sigilosos, o vazamento é crime. O parlamentar tem todo direito de preservar a sua fonte. Mas ele precisa se explicar. Eu não tive acesso a nenhum dossiê.” Sobreveio, então, a intervenção galinácea de Mão Santa. Foi ao microfone para repetir algo que já dissera, da tribuna, na véspera. Citando o livro “Mein Kampf”, disse que havia, sob Hitler, pessoas que tinham a missão de propalar como prontas obras que estavam inacabadas. E pespegou em Dilma o epíteto de “galinha cacarejadora do PAC.” Ideli Salvatti saltou da cadeira. Pediu a Romeu Tuma (PTB-SP), que presidia a sessão, que solicitasse à taquigrafia cópia da fala de Mão Santa. Insinuou que tomaria providências. Disse que não admitiria que, sob o manto da “luta política”, o colega ofendesse a ministra Dilma. Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que Ideli se portava de modo preconceituoso em relação ao Piauí, Estado natal dele e de Mão Santa. Ideli respondeu que seu problema não era o Piauí, mas a ofensa à ministra. Tião Viana lembrou a Tuma que a presidência tem poderes para mandar retirar dos anais da Casa expressões de calão rasteiro ou impróprias. E nada. Em meio ao deserto de bom-senso, Patrícia Sabaio (PDT-CE) irrompeu em cena como um oásis de sensatez. Apelou a Mão Santa que retirasse de seu discurso a expressão “galinha cacarejadora”. Arthur Virgílio, normalmente esquentado, associou-se a Patrícia no apelo. Mão Santa, porém, impávido, manteve-se inflexível. Tuma saiu de fininho da presidência. Entregou o comando da sessão a Papaleo Paes (PSDB-AP). O debate seguia aceso quando Papelo fez o que lhe aconselhava o óbvio: encerrou a sessão. Quem viu pela TV Senado ficou com a seguinte sensação: das chamas do plenário restarão apenas brasas. E debaixo delas, as cinzas de mais um lote de suspeitas pendentes de esclarecimento. Não serão abertas as despesas de Lula. Tampouco serão expostos os gastos de FHC –exceto aqueles já expostos no dossiê clandestino. Quem sai queimado, uma vez mais, é o interesse público. O contribuinte, que paga as despesas da presidência e o salário dos nobres congressistas, que vá lamber sabão.
Escrito por Josias de Souza, Folha Online, 0304. Ilustração da matéria.

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