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No célebre discurso do "sifu", proferido na noite de 4 de dezembro de 2008, Lula queixara-se da "colonização intelectual" de parte da elite brasileira.

Dissera que, aqui, valorizava-se mais a promessa de Obama de criar 2 milhões de empregos até 2011 do que as 2,1 milhões vagas abertas no Brasil em 2008.

Lula não suspeitava de que, àquela altura, os computadores do ministério do Trabalho começavam a processar dados que conspurcariam sua analogia.

Nesta segunda (19), o presidente recebe do ministro Carlos Lupi (Trabalho) os números cruzados pelo Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.

Será o pior resultado mensal da história do cadastro: em dezembro, sumiram do banco de dados oficial mais de 600 mil empregos com carteira assinada.

O índice de que se jactava Lula, válido até novembro, caiu de 2.107.150 empregos para algo pouco acima da marca de 1,5 milhão de empregos criados em 2008.

Em reunião com Lupi, na noite da última quarta (14), Lula foi informado sobre a novidade. Surpreendeu-se. Já intuía que a crise roeria o emprego.

Em novembro, o Caged já anotara a perda de 40.821 vagas. Mas Lula não antevira, nem em seus piores pesadelos, um dezembro tão azedo.

Produziu-se um ajuste instantâneo no discurso presidencial. No final do ano passado, Lula recomendava o consumo. Agora, fala em salvar empregos.

Em público, prevê um primeiro trimestre "difícil". Promete ação. Em privado, revela-se preocupado com os reflexos da crise sobre os planos eleitorais de 2010.

Natural. A popularidade que Lula espera transferir para Dilma Rousseff, sua candidata, está escorada num bolsão de simpatia formado pelos brasileiros mais humildes.

São justamente os primeiros na fila do desemprego. Gente que Lula, no afã de soar otimista, esqueceu momentaneamente.

O governo já socorreu exportadores, indústrias, construtores e montadoras de automóveis. Mas não levou à mesa a contrapartida da manutenção dos empregos.

Mandou ao Congresso um par de medidas provisórias anticrise. O candidato ao desemprego não frequentou os textos.

Antes do Natal, Lula reunira-se com a nata do empresariado. Nem sinal dos trabalhadores.

Só agora, depois que soaram as primeiras trombetas do desemprego, o ex-sindicalista decidiu receber os presidentes das centrais sindicais.

Depois, discutirá com a equipe econômica os detalhes de novas providências que pretende anunciar nas próximas semanas.

Age para tentar erigir um dique capaz de represar a crise em 2009. Espera entrar pelo ano eleitoral de 2010 distribuindo notícias alvissareiras.

Retorne-se ao pronunciamento do "sifu". Naquela noite de 4 de dezembro, Lula dissera: "Eu adoro uma crise [...], eu adoro ser provocado".

Não será por falta de provocação que o presidente vai deixar de reverenciar sua adoração.

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