PENSAR "GRANDE":

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[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).

"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).

"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br

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# 38 RÉUS DO MENSALÃO. Veja nomes nos ''links'' abaixo:
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segunda-feira, agosto 26, 2013

''EASY RIDER'' or ''FREE RIDER'' ?

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Dilma driblou seguranças e saiu de moto pelas ruas de Brasília, diz ministro

“Coloquei o capacete e saí andando de moto pelas ruas de Brasília.” A revelação, com ares de felicidade, foi feita de forma absolutamente casual pela presidente Dilma Rousseff a um incrédulo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA).
“Eu também não acreditei na hora, mas, quando encontramos o Amaro no elevador, passei a acreditar”, disse o ministro, ao perceber a reação dos repórteres à história. A conversa, segundo Lobão, ocorreu durante um encontro na semana passada.
Lobão se referia ao chefe da Segurança Presidencial, general Marcos Antônio Amaro, com quem ele e Dilma esbarraram ao final da conversa. Dilma foi logo se gabando: “Nem ele ficou sabendo”, disse, confiante de que sua escapada havia sido sigilosa.
O general surpreendeu a presidente. “Fiquei sabendo, sim, mandei acompanhar a senhora”, foi logo dizendo o chefe da segurança de Dilma, informando que havia orientado uma equipe a segui-la à distância para não acabar com o sentimento de que estava fazendo uma aventura às escondidas.
Como se queixam alguns ex-presidentes, no Brasil o governante acaba desaprendendo a abrir portas com a própria mão.

Jean Galvão/Editoria de Arte/Folhapress

Ao relatar sua experiência, cuja data não foi revelada, Dilma contou ao ministro sua sensação de andar de moto pela capital: “Senti melhor os ares de Brasília”.
Foi um elogio poético, dado que a cidade passa pelo seu tradicional período de seca, quando a umidade do ar chega a níveis saarianos.
É incerto se Dilma estava na garupa de alguém ou se arriscou-se a pilotar. Segundo o Palácio do Planalto, que não comentou a estripulia, a presidente não tem carteira de habilitação nem sabe dirigir motocicletas.
Ainda surpreso pela revelação, Lobão cobrou da presidente os riscos de segurança envolvidos no hobby: “A senhora não tem de se preocupar só com você e a Paula [filha da presidente], tem de se preocupar também com 200 milhões de brasileiros”.
Dilma sorriu, agradeceu a preocupação do ministro, mas disse: “A vida é cheia de riscos. Tudo que se faz na vida importa riscos”.
Ao ouvir da Folha o relato de Lobão, um ministro próximo de Dilma mostrou-se descrente. “A presidente, andando de moto? Não acredito”, disse. Mas há precedente na relação da mandatária com as máquinas.
O secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, Carlos Gabas, é um apaixonado por motos. Dono de uma Harley-Davidson, marca mítica norte-americana, ele conta que Dilma não só pediu para subir no modelo como posou para fotografia.
A fuga não é inédita. Como lembrou Lobão, o general João Batista Figueiredo (1918-1999) costumava deixar os seguranças loucos ao escapar para voltinhas de motocicleta durante sua Presidência (1979-1985).
“Foi uma aventura da presidente. Ela merece. O cargo limita muito as opções de lazer dela. Não dá para frequentar normalmente teatro, cinema, restaurantes”, disse.
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ASAS DE ÍCARO: A VOAR SEM ''CHECK-IN'', SEM ''CHECK-OUT''

26/08/2013
Os assíduos usuários da "FAB Linhas Aéreas"


 Um relatório produzido pela Força Aérea Brasileira (FAB) joga luz sobre os hábitos de autoridades do governo federal no uso de aeronaves oficiais para deslocamentos a trabalho ou no trajeto entre Brasília e os estados de origem. Desde o início do governo Dilma Rousseff até o fim do primeiro semestre deste ano, a FAB operou voos em 7.244 trechos, o que dá uma média de quase oito decolagens por dia para atender a um grupo de autoridades que compreende o corpo ministerial do governo, além dos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o relatório, desde 2010 foram atendidos pedidos para 5.250 deslocamentos de autoridades - sendo que uma viagem pode englobar decolagens em várias localidades e em datas diferentes.

O campeão no “programa de milhagem” governamental é o Ministério da Saúde. Nesse período, a FAB fez 511 missões em atendimento à pasta. 

Só entre janeiro e junho deste ano, foram 110 trechos voados atendendo a demandas da pasta. O montante representa um crescimento de 48,6% em relação aos voos realizados nos 12 meses de 2010. No último ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foram 74 voos em atendimento ao ministério.

Na sequencia dos órgãos que mais viajam nas asas da FAB, aparecem, nessa ordem, os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Justiça e da Defesa, a presidência da Câmara dos Deputados e o Ministério de Relações Institucionais. No relatório, obtido pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) em solicitação ao Ministério da Defesa, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, explica que a relação não inclui os atendimentos ao vice-presidente, “em prol da segurança da referida autoridade”.

A utilização de aeronaves oficiais é regulamentada pelo Decreto n° 4.244 de 2002. A prerrogativa é concedida ao vice-presidente da República, aos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do STF, a ministros de Estado e demais ocupantes de cargo público com prerrogativas de ministro de Estado, aos comandantes das Forças Armadas e ao chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. O ministro da Defesa e o Comandante da Aeronáutica podem autorizar o transporte aéreo de outras autoridades, nacionais e estrangeiras.

Os pedidos de transporte de autoridades devem atender aos critérios previstos no decreto: motivos de segurança e emergência médica, viagens a serviço e deslocamentos para local de residência permanente, seguindo essa mesma ordem de prioridade.

Viagens para o estado de origem, por exemplo, constituem a maioria dos deslocamentos autorizados para a pasta das Relações Institucionais, comandada pela ministra Ideli Salvatti. Desde 2011 até junho deste ano, foram 256 autorizações atendendo a solicitações da secretaria, que tem status de ministério. Cotada para disputar o governo de Santa Catarina em 2014, Ideli “tem residência permanente em Florianópolis”, segundo a assessoria de seu gabinete, o que enquadraria as viagens na regulamentação do uso dos aviões oficiais. 
Casa Civil

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, é outra usuária frequente das aeronaves da FAB para fazer o trajeto Brasília-Curitiba. A assessoria de imprensa de Gleisi explica que “a residência oficial da ministra se encontra em Curitiba, o que justifica a frequência dos voos”. Ainda assim, Gleisi ocupa, em Brasília, a residência oficial destinada aos ministros da Casa Civil, no Lago Sul. Gleisi deve se candidatar ao governo do Paraná no próximo ano e é dada como certa a sua saída da Casa Civil no início de 2014, para participar das eleições estaduais.

A presença do Ministério da Educação na lista dos maiores usuários da FAB se justifica pelo grande número de viagens durante a gestão de Fernando Haddad, hoje prefeito de São Paulo. Em 2011, último ano do petista à frente do ministério, a pasta foi atendida em 135 voos de aeronaves oficiais. No início de 2012, Haddad deixaria o cargo para disputar a prefeitura da capital paulista. Sob o comando do ministro Aloizio Mercadante, o número de voos despencou. Em 2012, foram 74. No primeiro semestre deste ano, apenas 36. false false true Os assíduos usuários da "FAB Linhas Aéreas" center KARLA CORREIA


adicionada no sistema em: 26/08/2013 01:40

AS DUAS BARRAGENS BARRANDO AS DUAS URNAS... (PANELAS de GATOS)

26/08/2013
Obras de Dilma e Campos atrasam em Pernambuco


Em 30 de agosto de 2011, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Eduardo Campos (PSB), prováveis adversários na eleição de 2014, assinaram em Cupira (PE) ordem de serviço de duas barragens, que deveriam ter ficado prontas em 2012. Os projetos mal saíram do papel, informa o enviado especial Rafael Marques Moura, e há risco de enchentes.


Parceria entre Dilma e Campos, obras de barragens atrasam em Pernambuco

Rafael Moraes Maura
ENVIADO ESPECIAL / CUPIRA (PE)


Esquecida no agreste de Pernambuco, a cidade de Cupira é cenário da confluência de duas forças políticas que não conseguiram somar resultados. Em 30 de agosto de 2011, a presidente Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, visitaram a cidade para a assinatura da ordem de serviço .de duas barragens que deveriam ter ficado prontas no ano passado. Até hoje, os projetos mal saíram do papel.

A dobradinha entre Dilma e Campos, prováveis adversários em 2014 como candidatos do PT e do PSB, não conseguiu resolver o risco de enchentes a que estão expostos os moradores da região. Problema que só não foi maior por causa do menor volume de chuvas neste inverno.

As barragens Panelas II e Gatos foram as primeiras obras que tiveram a ordem de serviço assinada por Dilma em cerimônia oficial. Fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAG) e somam R$ 65 milhões, bancados pela União ÇR$ 50 milhões) e por Pernambuco (R$ 15 milhões). Cerca de 400 mil pessoas seriam beneficiadas pelo conjunto de barragens, que inclui a de Serro Azul, na mesma bacia hidrográfica e também inacabada.

"Essa parceria com o governo do meu querido Eduardo Campos é a parceria da prevenção. Estamos aqui para impedir que estaregião seja outra vez assolada por essa catástrofe que desencadeia dramas humanos", discursou Dilma na época.

Dois anos depois, a retórica política não rendeu frutos. Visitados pelo Estado na terça-feira, os canteiros de Panelas II e Gatos são um cenário de máquinas paradas, poucos operários e terreno alagado pelas chuvas, que atrasam ainda mais o crono-grama. Em Panelas II, as precipitações têm atrapalhado a terraplenagem e dificultado o transporte de materiais. Segundo engenheiros que atuam nas obras das barragens, só 5% de todo o planejamento já foi realizado.

"Deus permita que essas barragens deem certo, porque se não der certo, não vamos ter para onde correr. Vamos todos morrer", afirmou a dona de casa Maria José dos Santos, de 44 anos. Mãe de dois filhos e beneficiária do Bolsa Família, ela perdeu uma casa nas enchentes de 2010, quando uma catástrofe castigou Belém de Maria, cidade vizinha a Cupira que deve ser protegida pelas barragens.

"Perder uma casa é como um filme de terror. A gente acha que só acontece com os outros, que nunca vamos passar por aquilo. É um pesadelo", disse Maria José. A nova casa já teve uma parede derrubada pelas chuvas, que levaram a geladeira para o meio da mata.

Planejamento. O caso de Panelas II é emblemático de como a falta de planejamento pode comprometer a realização de uma Iniciativa. O projeto básico da barragem continha uma série de falhas, conforme apontado por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU).

Segundo o TCU, "a fragilidade da investigação geológica era de tal magnitude que (...), logo nas primeiras visitas ao local da obra, foi constada a impossibilidade de se manter o eixo da barragem". Para piorar, a planilha orçamentária continha itens com elevado sobrepreço.

"Os problemas identificados no projeto básico já tiveram como reflexo o atraso no cronograma de execução das obras", avaliou o TCU, em fiscalização concluída em abril de 2012. "Aaprovação de projeto básico deficiente pelo Ministério da Integração Nacional (...) deu causa à presente irregularidade, na medida em que permitiu a transferência de recursos federais para a execução de um objeto com nível de precisão inadequado para caracterizar a obra, sem que houvesse certeza de sua viabilidade técnica e econômica."

O Ministério da Integração Nacional é comandado por Fernando Bezerra Coelho, do PSB - em janeiro de 2012, o Estado informou que Pernambuco, terra natal do ministro, concentrou 90% dos gastos da pasta destinados à prevençao de desastres naturais, em obras iniciadas em 2011, como as barragens.

Entrega. A placa da obra de Panelas II informa que a barragem ficará pronta em março de 2014, mas o ministério e a Secretaria de Recursos Hídricos e Energéticos de Pernambuco, em resposta à reportagem, prometeram entregá-la em maio - Gatos ficaria pronta em junho.

"A gente sabia desde o início que eles não iam conseguir fazer as barragens nesse prazo de um ano. A presidente se empolgou com o governador", disse o secretário de Governo de Cupira, José Edvan da Silva.

Além do atraso na obra, o agricultor José Cícero da Silva, de 48 anos, vizinho da futura barragem de Panelas II, se queixa do valor "constrangedor" da indenização paga pelo Estado - R$ 47 mil. Seu colega Gilson Luciano, de 39, afirma ter visto pouca movimentação na obra desde que Dilma e Campos puseram os pés em Cupira. "Atrasado é pouco, está bem atrasado. Isso aí é para 2020, visse?"



adicionada no sistema em: 26/08/2013 04:24

MERCADO DE TRABALHO E CLAMOR DAS RUAS

26/08/2013
Mercado de trabalho dificultará a reeleição de Dilma 


:: Cláudio Adilson Gonçalves



Em 1962, o economista norte-americano Arthur Melvin Okun publicou célebre artigo  com simulações que relacionavam a taxa de desemprego nos EUA com o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB). 

Na versão mais simples (chamemos de versão 1), utilizando dados trimestrais de 1948 a 1960, Okun estimou uma relação estatística entre as mudanças nas taxas de desemprego e nas taxas de variação do PIB. Tais variáveis se mostraram negativamente correlacionadas, como era esperado. Na versão mais complexa (versão 2), procurou relacionar as variações da taxa de desemprego com o diferencial entre o PIB potencial (o nível máximo do PIB que não gera pressões inflacionárias) e o efetivamente observado, ou seja, o chamado hiato do produto. A correlação agora se mostrou positiva (quanto maior o hiato, maior o desemprego) e a taxa de desemprego compatível com a estabilidade de preços estaria, na época, em tomo de 4%. Tais relações ficaram conhecidas, com certa impropriedade, como Lei de Okun.

No Brasil, o crescimento econômico vem se desacelerando desde 2011, mas a taxa de desemprego tem permanecido historicamente baixa, variando entre 5,5% e 6%, após os ajustes sazonais. Mais intrigante é que, além de baixa, até meados do ano passado essa taxa i continuava declinante.
Análises açodadas chegaram apreco-nizar a “revogação” da Lei de Okun ou, dito mais seriamente, que ela não funcionaria no Brasil, em razão de certas características particulares de nossa economia (mais uma jabuticaba?).

Talvez por cultivar tal crença, a área política do govemo se mantinha tranquila, dado que 0 baixo crescimento não seria ameaça à reeleição da presidente. Ora, mesmo com as fracas taxas de expansão da economia, o mercado de trabalho seguia apertado, os salários reais cresciam e os trabalhadores não temiam perder seus empregos. Assim, a aprovação do govemo se manteria elevada até as eleições. Ledo engano.

Pará entender melhor a dinâmica do desemprego no Brasil, voltemos à Lei de Okun. De acordo com ela (versão 2), é possível a convivência de pífias taxas de crescimento econômico com níveis tambem baixos de desemprego. Para tanto, basta que se parta de uma situação de superocupação da mão de obra e que o mvel do PIB efetivo seja maior que o potencial, com ambos crescendo a taxas pequenas. E este parece ser o caso brasileiro, pelo menos até 2012.

De fato, em função da modesta taxa f de investimento, da estagnação ou mesmo da queda da produtividade geral dos fatores de produção e da redução da taxa de crescimento da população em idade ativa (atualmente em tomo de 1,2% ao ano), dificilmente o crescimento potencial brasileiro é hoje muito superior a 2,5% ao ano. A média de crescimento no biênio 2011/2012 foi de i,8%, inferior, mas não tão distante de nossa estimativa de crescimento potencial. Se levarmos em conta que em 2010 o PIB brasileiro cresceu 7,5%, é muito provável que seu nível era superior ao do potencial, pelo menos até o início do ano passado.

Mas por que a taxa de desemprego continuou declinante, pelo menos até meados do ano passado, enquanto o crescimento econômico se enfraquecia? Para responder a essa questão não é necessário recorrer à revogação de nenhuma lei econômica. Basta interpretar de forma cuidadosa os dados estatísticos e o que preconiza a teoria.

Atualmente se utilizam modelos estatísticos com versões dinâmicas da Lei de Okun. Em tais modelos, a taxa de desemprego corrente não depende apenas do crescimento do PIB do mesmo período, mas também de variações verificadas no passado, tanto no crescimento real do PIB como na própria taxa de desemprego. Ou seja, como em muitas outras relações econômicas, constatam-se os importantes papéis exercidos pela inércia e pelas defasagens.

Quanto mais rígidas forem as normas trabalhistas, maior será a defasa-gem com que a taxa de desemprego reagirá a mudanças no ritmo de crescimento. Ninguém desconhece os elevados custos de demissão, não só em razão dasverbasindenizatórias,mas, sobretudo, por passivos contingentes impostos pela ultrapassada e pretensamente protecionista legislação trabalhista brasileira. Além disso, a escassez de mão de obra qualificada toma também caro o processo de recomposição do quadro de pessoal nos períodos de retomada do crescimento, dado que, em geral, é , preciso um longo período de treinamento para que o novo empregado alcance nível adequado de produtividade.

Se nossa projeção para o crescimento econômico em 2013 (em tomo de 2%) estiver correta, este será o segundo ano consecutivo em que o PIB brasileiro se expandirá abaixo de sua taxa potencial. E, também para 2014, as perspectivas não se prenunciam alvissareiras, dados o necessário aperto da política monetá1 ria doméstica, o reduzido espaço para o governo continuar com o expansionis-mo fiscal, a elevação dos juros norte-americanos, a queda das cotações das commodities e, acima de tudo, a forte deterioração da confiança na economia, tanto dos empresários como dos consumidores.

Assim, a situação no mercado de trabalho tende a piorar. Gomo vimos, o desemprego reage com atraso à deterioração da economia, mas tudo indica que a defasagem já foi vencida.

A taxa de desemprego, a partir de junho, começou a superar a registrada em igual mês do ano anterior. A geração líquida de vagas formais no  mês passado (41,5 mil) foi a mais baixa registrada para os meses de julho  desde 2003. Os salários reais, tanto  pelos dados do Ministério do Trabalho relativos ao setor formal (Caged) j como do IBGE (PME), que em 2012  cresciam entre 4% e 6%, em bases anuais, agora mostram modesta elevação, entre 1% e 2,5%, dependendo  da estatística que se utilize.

  O govemo certamente acordou para o problema e tenta por todos os meios (quase sempre ineficazes) reverter esse quadro. Mas agora navega contra o vento e dificilmente chegará às eleições de 2014 com a economia jogando a favor da reeleição da presidente Dilma Rousseff.
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ECONOMISTA E DIRETOR DA MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

adicionada no sistema em: 26/08/2013 03:28

MÉDICOS CUBANO: ''IDEOLOGIA/ EU QUERO UMA PRÁ VIVER..." (Cazuza)

26/08/2013
Médicos cubanos são recebidos com tumulto

Tumulto marca recepção a médicos em Fortaleza

Setenta médicos cubanos tiveram uma recepção tumultuada na tarde de ontem no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza. 

De um lado, cerca de 30 estudantes secundaristas e militantes do PT, do PCdoB e do PSB os esperavam com faixas de saudação. 

Do outro, manifestantes do Sindica­to dos Médicos cobravam do Mi­nistério da Saúde que os profis­sionais que chegaram pelo Mais Médicos façam o exame de revali­dação de seu diploma.

Foi preciso a intervenção do secretário nacional de gestão estratégica e participativa do Mi­nistério da Saúde, Odorico Monteiro, que disse que os cubanos não vão operar, mas "apenas fa­zer o atendimento na atenção básica e vão passar por uma ava­liação permanente". Outro grupo que chegou ao Recife se mostrou preocupado com a crítica da classe médica brasileira. "Queremos ter uma boa relação com todos os médi­cos, viemos ajudar o povo, va­mos trabalhar juntos", afirmou Wilma Zamora Rodrigues. Ela também disse que os profissio­nais não terão problemas com a falta de condições nas áreas onde vão trabalhar. / Lauriberto BRAGA e ANGELA LACERDA


adicionada no sistema em: 26/08/2013 04:26

''O MEU PAPEL/ MEU CANUDO DE PAPEL/ ..." (Martinho da Vila)

26/08/2013
Formados no exterior tentam registro médico


Revalida foi aplicado ontem, com opiniões divididas sobre programa federal

SÃO PAULO e BRASÍLIA

Médicos estrangeiros e brasileiros que fizeram o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), exigido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) neste domingo, em São Paulo e Brasília, tiveram opiniões divergentes sobre o programa federal Mais Médicos, que busca atrair esses profissionais para áreas carentes liberando os formados no exterior de fazerem o Revalida.

O venezuelano Simon Echeto, de 31 anos, diz que, mesmo que os profissionais de seu país pudessem ser admitidos no programa, ele não se inscreveria no Mais Médicos.

- Todo mundo deveria fazer (o Revalida). É injusto - disse, ao sair da prova.

Compatriota de Echeto, Gabriela Fuenayor Contin, de 30 anos, critica a atuação dos cubanos em seu país.

- Trabalhei ao lado dos cubanos e vi que eles não estão preparados. Muitos prescrevem medicamentos ultrapassados.

Gabriela também está no Brasil para fazer especialização em cardiologia e não pode trabalhar sem a validação do diploma. Ela já fez a prova uma vez e não foi aprovada.

- A prova não é fácil, mas no ano passado a formulação estava confusa. Agora, está melhor.

A brasileira Maithi Mano Zilioli, de 26 anos, formada em Cuba, discorda dos venezuelanos.

- Os médicos cubanos são muito capacitados. Lá, ninguém morre na fila esperando para ser atendido - disse.

Maithi conta que decidiu estudar em Cuba porque não conseguiu passar no vestibular das universidades federais e não tinha condições financeiras para arcar com um curso particular.

- A formação é muito boa. A partir do terceiro ano, você participa de atendimentos em hospitais em diversas áreas.

Em Brasília, prestes a completar 70 anos, o médico português Aníbal Cruz, de 68, decidiu ampliar seu mercado de trabalho para além de Lisboa. Com desenvoltura entre a maioria jovem, no campus da Universidade de Brasília, Aníbal lamentou que, pela legislação portuguesa, não possa atuar na medicina pública após os 70. Decidiu, então, participar do Mais Médicos. Um problema no cadastro, porém, fez com que optasse pelo Revalida.

- O programa é uma boa oportunidade para pessoas como eu, que ainda se sentem bem fisicamente e ainda podem exercer a medicina. Quero ir morar no Nordeste, onde faz calor o ano todo - brincou. ( Sérgio Roxo e Guilherme Amado )

adicionada no sistema em: 26/08/2013 03:51

TST: NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO

26/08/2013
Fim da ideia de categoria profissional



O presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Carlos Alberto Reis de Paula, alerta que o projeto que regulamenta a terceirização, da forma como está na Câmara, acaba com a ideia de categoria profissional e com acordos coletivos, já que não restringe as atividades que podem ser terceirizadas.

O senhor defende a lei da terceirização?

Sim, pois a lacuna legislativa gera certa insegurança jurídica, havendo constante necessidade de intervenção judicial, tornando-se mais uma matéria que aumenta as demandas e litigiosidade nas relações de trabalho.

O projeto traz avanços?

Sim, no que se refere à responsabilização do tomador dos serviços e garantias asseguradas aos terceirizados, adotando com algumas diferenciações os critérios que já são seguidos pela jurisprudência.

O senhor concorda com a terceirização nas "atividades fim"?

Se entendermos que a lei autoriza a terceirização de qualquer atividade, poderíamos ter, por exemplo, uma indústria sem qualquer empregado formal. A ideia de categoria profissional estará esgarçada, sendo inúteis convenções e acordos coletivos. Por outro lado, pode levar a um debate constitucional sobre a lei ou ter desdobramentos jurídicos, como a reformatação da organização sindical e a equivalência de direitos entre terceirizados e não terceirizados. (G.D.)

adicionada no sistema em: 26/08/2013 03:58

BARBA, CABELO E BIGODE (A Fuga de Alcatraz; ficção cinematográfica)

26/08/2013
Senador escapa para o Brasil: Fuga nas barbas de Evo Morales


O Itamaraty anunciou que vai investigar a fuga do senador oposicionista boliviano Roger Pinto da embaixada brasileira em La Paz, onde ficou asilado por 455 dias, para o Brasil em carro diplomático. A Bolívia comunicou a evasão do político — que é processado por corrupção, mas alega ser perseguido pelo presidente Evo Morales — à Interpol, mas evitou polemizar com o governo brasileiro.

Itamaraty abrirá inquérito sobre fuga de senador ao Brasil


La Paz evita polemizar após saída de embaixada em carro diplomático
BRASÍLIA

Depois de passar mais de um ano asilado na embaixada brasileira em La Paz, o senador oposicionista boliviano Roger Pinto Molina chegou a Brasília na madrugada de ontem, mesmo sem ter salvo conduto do governo da Bolívia para deixar aquele país, fato que levou as autoridades locais a anunciarem que vão acionar a Interpol e tomar as medidas cabíveis no Direito Internacional. 

De acordo com o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Molina - que enfrenta processos por corrupção, mas alega ser perseguido pelo governo de Evo Morales - viajou para a cidade fronteiriça de Corumbá (MS) num carro da embaixada do Brasil.

Roger 

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que abrirá inquérito para apurar o ingresso do político em território brasileiro. O Itamaraty informou que não teve conhecimento anterior ao episódio e que tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis. O anúncio causou mal-estar na embaixada em La Paz, segundo fontes diplomáticas.

Embaixador de férias

Com a chegada de Pinto Molina ao Brasil nessas condições, o chanceler Antonio Patriota cancelou viagem oficial à Finlândia para companhar o caso. Em nota, o Itamaraty afirmou que foi informado no sábado do ingresso do senador em território brasileiro e que chamara a Brasília o encarregado de negócios do Brasil em La Paz, ministro Eduardo Saboia, para prestar esclarecimentos. O embaixador Marcel Biato está de férias.

Molina é líder da oposição no Congresso boliviano e - com mais de 20 processos contra ele abertos na Justiça - acusa o governo de Evo Morales de usar os tribunais para persegui-lo politicamente. Ele foi condenado a um ano de prisão por suposto envolvimento em caso de corrupção. Em junho de 2012, dez dias depois de se abrigar na embaixada do Brasil em La Paz, o governo brasileiro lhe concedeu o asilo.

- Superados esses 455 dias que foram de lamento, de sofrimento, de deterioração da saúde, vou me colocar à disposição das autoridades brasileiras para ratificar as denúncias que fiz de relações perigosas de pessoas do governo Evo Morales relacionadas com narcotráfico e corrupção, e com instituições perigosas do próprio país - afirmou Molina à GloboNews, ao chegar ao país. - Pedi para o presidente Evo Morales investigar e ele optou, como sempre, pelo insulto, pela calúnia, pela desqualificação da oposição.

ministra: "relações não foram afetadas"

O senador também tachou de forjada a acusação de desvio de US$ 1,5 milhão. O governo boliviano evitou polemizar com o Brasil sobre a fuga:
- Não temos que exagerar. Precisamos ser muito prudentes com o Brasil porque é o Roger Pinto no meio de uma dinâmica comercial de US$ 2 bilhões ou US$ 3 bilhões - afirmou o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana.

Mesmo com o senador agora considerado um fugitivo da Justiça pela Bolívia, o tom de cautela foi reforçado pela ministra de Comunicação, Amanda Dávila, que minimizou os possíveis reflexos nas relações bilaterais. Ela disse que La Paz ainda vai avaliar os informes sobre o caso "antes de adotar qualquer decisão ou tirar conclusões apressadas".

- A fuga do senador não afeta nem afetará as relações bilaterais com o Brasil, que se mantêm em absoluta cordialidade e respeito - disse a ministra.


adicionada no sistema em: 26/08/2013 04:14

MUDANÇA CLIMÁTICA E VEGETARIANISMO

25/08/2013 - 04h01

Por uma vida menos ordinária


MARCELO LEITE
Ouvir o texto


RESUMO 
Peter Singer, professor da Universidade de Princeton (EUA), vem ao Brasil para duas palestras no ciclo Fronteiras do Pensamento. Ele argumenta que a pobreza e a mudança do clima são os maiores problemas do mundo e, como solução, defende que as pessoas reduzam consumo de carne e doem parte de sua renda.
*
O filósofo australiano Peter Singer, da Universidade de Princeton (EUA), é o conferencista de amanhã, em Porto Alegre, do ciclo Fronteiras do Pensamento.

Na quarta-feira ele estará em São Paulo para palestra no Teatro Geo, onde deve abordar temas de ética prática como a pobreza no mundo, escolhas alimentares, bem-estar animal e mudança climática.

Para o controverso autor do clássico "Libertação Animal" [trad. Marly Winckler e Marcelo Brandao Cipolla, WMF Martins Fontes, 496 págs., R$ 79,90], cada pessoa deveria doar uma parte de sua renda para ajudar a diminuir a desgraça de 1 bilhão de pobres que vivem com menos de um dólar por dia.

Esse é o tema do livro "The Life You Can Save", de 2009 (lançado em Portugal com o título "A Vida que Podemos Salvar", Gradiva, 252 págs., R$ 69,10, sob encomenda), mas um de seus primeiros artigos, de 1972, já tratava dele -e foi citado por 1.259 outros autores desde então.

Singer está insatisfeito com o efeito do livro, que calcula ter vendido 60 mil cópias no mundo inteiro. Mais ainda com o baixo número de "compromissos" (pledges) da página de internet equivalente, em que pessoas comuns podem jurar em público que vão passar a doar determinado percentual de sua renda para organizações de caridade: 16.394.

Ele doa um terço de sua renda, mas prefere não equiparar a "cegueira moral" dos outros ao Holocausto, e diz que é o maior problema do presente é a pobreza, ao lado da mudança do clima, no futuro.
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Folha - O tema da mudança climática já apareceu também no seu radar ético? Ela tem o potencial de tornar a vida pior para um bocado de gente pobre, no futuro. Devemos nos importar menos com as vidas futuras do que com as do presente?

Peter Singer - Esses dois assuntos estão intimamente conectados. A resposta curta para a pergunta é "não". Devemos nos importar o mesmo tanto com as pessoas, não importa a época em que vivam. Claro que há questões sobre a incerteza, quando falamos do futuro. Nós podemos saber muito mais sobre as pessoas que vivem agora, de modo a ajudá-las, do que podemos saber sobre pessoas que viverão daqui a cem anos. Isso é relevante, e podemos aplicar um desconto sobre o futuro, mas num grau bem pequeno.


Não é demais pedir a alguém que se torne vegetariano e ainda por cima doe uma porção significativa de sua renda para combater a pobreza?

Reconheço que só algumas pessoas vão de fato agir nesse sentido. Mas acho que todo mundo poderia considerar uma mudança nas suas escolhas alimentares e, se tiverem alguma sobra de dinheiro, considerar sua responsabilidade perante os pobres do globo.


Não é uma questão de tudo ou nada, ou você se torna um vegetariano ou não faz nada. Várias pessoas nos Estados Unidos, por exemplo, estão dizendo: "Bem, eu como carne todos os dias...". Existe uma prática chamada Segunda-Feira Sem Carne. Outros escolhem dois ou três dias por semana em que não comem carne. Penso que seja algo fácil de fazer, uma coisa saudável, e obviamente faz diferença, pelo menos do ponto de vista de reduzir a pecuária industrial e a emissão de gases do efeito estufa.

Se o sr. tivesse de dar um conselho a um adolescente sobre como agir, diria que ele ou ela devem se juntar a uma organização de caridade, a um partido político ou a uma ONG militante? O que seria mais eficaz para salvar vidas agora e no futuro?

Bem, não há razão para não fazer as três coisas. Não precisa ser uma escolha do tipo "ou isso ou aquilo". O valor de se envolver com um partido político vai depender de onde, no mundo, a pessoa vive e de quão abertos são os partidos políticos, da possibilidade de fazer alguma diferença nesses partidos. Minha resposta, realmente, é: quanto mais, melhor.


Divulgação/Southern Cross University
Peter Singer, filósofo australiano, participa de debate na Southern Cross University, na Austrália
Peter Singer, filósofo australiano, participa de debate na Southern Cross University, na Austrália

Há um problema com a ideia de ação individual. Um exemplo: no livro "Uma Verdade Inconveniente", Al Gore dá uma série de ideias sobre o que as pessoas podem fazer para combater o aquecimento global, como trocar as lâmpadas de casa. Mas, desde 2006, as coisas só pioraram nesse campo. O sr. acha que pedir às pessoas que doem parte de sua renda resolve algo?

Acho que não é igual ao caso da mudança climática. Se eu doo para a Oxfam ou outra organização eficiente, isso faz uma diferença específica. Claro que não se trata de resolver a questão da pobreza global; obviamente eles não podem fazer isso. Mas quer dizer que algumas famílias vão receber telas contra mosquitos para as camas e que suas crianças não vão morrer de malária, ou que as crianças vão receber vermífugos e, sem parasitas, serão mais saudáveis, terão mais energia e irão melhor na escola. Ou uma aldeia consegue abrir um poço, e as pessoas não terão mais de caminhar três horas por dia para conseguir água.


A razão para não ser assim com a mudança do clima é que, neste caso, de fato é necessário que governos se unam e estabeleçam limites de emissões de gases do efeito estufa. Não há como reunir um grupo de pessoas que possa fazer algo de significativo para de fato reduzir o aumento dos gases de efeito estufa e o aumento de temperatura resultante. São decisões mais amplas, como livrar-se de usinas elétricas movidas a carvão, criar um imposto sobre o carbono ou um mercado para créditos de carbono. É uma situação diferente da pobreza global, para a qual penso que indivíduos podem fazer uma grande diferença.

Voltando ao tema do bem-estar animal e do bem-estar humano. O sr. responde ao romance "A Vida dos Animais", do sul-africano J.M. Coetzee, indicando que vê problema na comparação que a protagonista, Elizabeth Costello, faz entre o modo como tratamos os animais e o Holocausto. O sr. escreveu: "O valor que se perde quando algo é esvaziado depende do que estava ali quando estava cheio, e há mais [conteúdo] na existência humana do que na de um morcego".

Esse argumento se parece ao de parte de pecuaristas que destroem a floresta no Brasil: eles criam empregos que vão beneficiar pessoas, e pessoas são mais importantes que o ambiente ou espécies selvagens. O sr. concorda?

Concordo com a posição geral de que é relevante a questão de quantas pessoas estão se beneficiando e quantas pessoas estão sofrendo, mas não que isso seja usado como argumento para destruir a Amazônia ou pôr mais cabeças de gado para pastar, ignorando as questões de longo prazo de que falávamos há pouco.


Uma das principais causas das emissões brasileiras de gases do efeito estufa é o desmatamento; outra, o próprio gado. Esse pessoal não está de fato beneficiando mais pessoas do que aquelas que consomem essa comida hoje. Eles causam muito mais dano no mundo todo, hoje e no futuro. É um cálculo errado.


E quanto à oposição de valores entre existências humanas e animais? Devemos ter uma preferência?
É razoável dizer que, se se trata do valor de uma vida, do ato de matar em si, o ser cuja vida contenha mais capacidades sofre uma perda maior. Se for para comparar a morte de uma pessoa com a de uma vaca, é razoável dizer que a morte de um ser humano é a tragédia maior. Mas há muito mais que o ato de matar na criação industrial de animais, que vivem vidas horríveis. Precisamos perguntar: por que fazemos isso, qual a necessidade de fazer assim?


Seria comparável ao caso dos alemães que preferiam ignorar a existência de campos de concentração, como sugere a personagem Elizabeth Costello, de Coetzee?

Há um certo paralelo aí. A diferença, suponho, é que as pessoas na Alemanha aceitavam a moralidade da ideia de que é errado matar seres humanos inocentes. Creio que estavam mais conscientes da seriedade do mal que se fazia durante o Holocausto, na medida em que sabiam do que estava acontecendo.


No entanto, a maior parte das pessoas não é criada com a noção de que animais são moralmente importantes, de que devemos dar a seus interesses a mesma consideração que damos aos nossos. Pode-se dizer que voltar as costas para isso é mais desculpável. Mas também creio que haja algum paralelo, sim.

Um paralelo constrangedor, não? Essa é a questão suscitada pelo livro de Coetzee.

Sim. Ele é um escritor brilhante e nos faz sentir o desconforto das pessoas na plateia quando ouvem a palestra de Elizabeth Costello sobre o questionamento de seus hábitos. Há no livro a discussão particular sobre o paralelo com o Holocausto, muito contencioso. Coetzee está expondo as pessoas a esse desconforto. Mas, de novo: não há um número suficiente de pessoas que o estejam lendo e levando essas questões em conta.


O sr. iria até o ponto de dizer que a pobreza mundial é o Holocausto do século 21?

Não gosto muito de usar essa linguagem de Holocausto, de estendê-la para coisas que não estão assim tão perto. Vejo algumas diferenças. Ao dizer que o que está acontecendo com os pobres do mundo é o nosso próprio Holocausto, você desqualifica ou reduz a enormidade do que aconteceu no período histórico dos anos 1940. Mas o que eu diria é que, ao lado da mudança climática, é uma cegueira moral que temos e que, na escala de sua seriedade e de suas consequências, é comparável ao Holocausto.
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