A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
PENSAR "GRANDE":
[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.
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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).
"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).
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segunda-feira, dezembro 26, 2011
IDEIAS: CARLOS LESSA e KEYNES. CONSUMO vs. PRODUÇÃO
O futuro e a composição do consumo :
Autor(es): Carlos Lessa |
Valor Econômico - 26/12/2011 |
Palavras que contêm significados positivos e simpáticos são frequentemente deslizadas de seu uso tradicional para, mediante a ampliação de sua "cobertura", melhor "vestir" atos e comportamentos. Tais deslizamentos servem de disfarce. Há um velho provérbio turco que diz: "Se quereis vender um corvo, pinte-o de rouxinol". A palavra produto sugere algo material e útil; tem, associada, a ideia de produtividade. A palavra serviço é menos estimada. Assisti os bancos fazerem uma operação de metamorfose, deixando de prestar serviços e passando a oferecer "produtos". A palavra investimento foi utilizada por gerações de economistas para descrever a decisão de ampliar, modernizar ou criar nova capacidade de produção. Como a geração de emprego e renda está associada ao investimento, a ideia de adiar para o futuro decisões de gozar no presente a renda obtida sustentou o mérito da poupança. A construção do primado e da precedência da poupança sobre o investimento associa a geração de emprego e renda à decisão precedente de poupar. Na verdade, o investimento como decisão de ampliar a capacidade de produção deriva de uma afirmação soberana do Estado (por exemplo, criando fontes de energia, aperfeiçoando sistemas de transporte, defendendo a saúde e o acesso aos bens culturais aos cidadãos, etc.) ou da decisão privada de preservar ou ampliar a fatia de mercado. Houve uma apropriação vulgar da palavra investimento. Ao comprar um imóvel, uma ação ou qualquer um dos múltiplos instrumentos financeiros, utiliza-se a palavra investimento. Normalmente, trata-se da compra e venda de algo preexistente, seja uma construção de anos passados, seja a fração da capacidade produtiva já instalada por uma empresa ou, a partir de metamorfose, ao que represente dívida de alguém (Estado, família ou empresa). É uma aplicação financeira, que pode ter sido realizada em busca de um rendimento no futuro ou de um ganho na compra e venda do ativo - neste último caso, trata-se de uma aplicação financeira especulativa. Encobrir tudo isso com a palavra investimento não garante novos empregos ou maior renda para a economia nacional; pode, inclusive, ser o detonador de uma crise com depressão e geração de desemprego e decrescimento da atividade produtiva. Para um debate sobre perspectivas brasileiras, é útil deslocar o olhar para o consumo privado. Pensemos num alface, num automóvel, numa nova construção e numa aula de conhecimento geral. O pé de alface desaparece ao ser consumido; o automóvel se desgasta ao longo de anos de uso; a nova construção é bem mais duradoura e, provavelmente, o solo que ela ocupa será valorizado ao longo de sua vida útil; se a aula for assimilada, o cidadão terá melhorado seu nível de conhecimento. Tanto o alface quanto o automóvel, a nova construção e o serviço de educação, ao serem produzidos, geram renda e emprego. Tanto o alface quanto o automóvel podem ser importados, porém é melhor para o Brasil que sejam produzidos internamente (ver num supermercado uma salada de alface pré-preparada importada do exterior sugere um desperdício e um esnobismo de algum consumidor que goste de se exibir). No caso do carro importado, é patente a vontade de ser diferente e superior ao motorista do carro fabricado no Brasil. Ambas as importações atendem a consumo supérfluo e de pouca prioridade para o desenvolvimento da sociedade brasileira. No caso da nova construção, a maioria dos materiais (areia, saibro, madeira, pedra, tijolo) é produzida em local próximo ao canteiro de obras; cimento, ferro e madeira, provavelmente, em território nacional; talvez alguma ferragem ou material cerâmico decorativo seja importado, porém, provavelmente, é produzido no país. A aula assimilada pelo cidadão, tenha sido disponibilizada no país ou fruída no exterior, será relevante se a atividade do cidadão for benéfica para o corpo social nacional. Tanto o alface como o automóvel e a nova construção exigem do consumidor um pagamento ao produtor. O serviço educacional pode ser gratuito (se a sociedade tiver ensino público universal gratuito), porém pode ser comprado de uma empresa que presta serviços de educação. O economista gosta de chamar serviços públicos de consumo público. As implicações do consumo sobre a dinâmica familiar são variadas. O alface alimenta e melhora o processo digestivo; o automóvel dá o prazer do auto-deslocamento e o desprazer dos congestionamentos, porém exige de seu usuário compra de combustível, lubrificantes, peças de reposição, pagamentos de impostos, seguros, pedágios e gratificações aos flanelinhas, por vezes importantes despesas ligadas a consertos e reparações mas, ao envelhecer, o automóvel perde valor. A nova construção permite melhoria habitacional; impõe despesas, porém reduz o gasto de aluguel e tudo se passa como se, ao longo da vida, estivessem sendo acumulados os aluguéis, formando um patrimônio central para a vida familiar. A aula, se bem assimilada, permite uma melhoria da existência do cidadão, quer pela convivência, pela integração social ou pela vida cultural, quer pela atividade profissional. É extremamente importante perceber os empregos, as oportunidades e as consequências dos tipos de consumo. Obviamente, para a integração nacional, multiplicação de empregos e disseminação de atividades, a nova construção tem méritos indiscutíveis: fortalece o mercado interno e cria bases para futuras produções de móveis, eletrodomésticos etc; é, por seus efeitos dinâmicos, preferível à compra de automóveis. A cadeia produtiva da construção é predominantemente nacional e não pressiona a capacidade para importar, a não ser que cresçam, virtuosamente, a siderurgia, a indústria de cimento, a cerâmica fina, a indústria química, etc. Neste caso, o país estará importando máquinas para ampliar sua capacidade interna de produção e não gastando divisas com importações esnobes. Para a família, do ponto de vista patrimonial, o resultado da aquisição de um imóvel é radicalmente diferente. É um erro estimular o endividamento de famílias sem residência à compra com longas prestações, juros embutidos e novas despesas imprevistas de produções de empresas existentes no país, mas que importam componentes e remetem lucros para o exterior. --- Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES. |
BRASIL [In:] INDIO NÃO QUER APITO !
Na aldeia, cacique usa celular e as crianças têm computador
Valor Econômico - 26/12/2011 |
A migração do índios guaranis rumo ao leste, desde as terras paraguaias, de onde são naturais, era uma marcha em busca da "terra sem mal", segundo a história da tribo. A andança os levou à capital paulista, onde encontraram o desenvolvimento urbano no início do século XX. A aldeia da Barragem, com 26 hectares de extensão, onde vivem cerca de 130 famílias de guaranis mbya, fica em Parelheiros, bairro da zona Sul de São Paulo. O local era parada dos indígenas que iam para o litoral, até que alguns se fixaram, e a região foi reconhecida como terra indígena na década de 80. A vida dos guaranis mbya em São Paulo já possui muitas influências do "homem branco". Eles se vestem com jeans e camisetas, o cacique usa celular - apesar do sinal na aldeia ser ruim - e as crianças gostam de tomar refrigerante. Eles mantêm, no entanto, sua língua, apesar de aprenderem o português na escola, sua religião, sua organização comunitária e e tentam perpetuar seus conhecimentos no trato com a natureza. "Os mais velhos soltavam a criança no meio do mato para ela aprender a sair sozinha. Meu avô também me ensinava como caçar queixadas [tipo de porco do mato]. Ele assobiava e conseguia fazer com que as outras queixadas fossem embora e deixassem livre a que foi flechada", diz o cacique Timóteo Popygua. A organização comunitária, onde as famílias compartilham o que precisam e as casas ficam abertas, acaba sendo ameaçada pelo movimento da cidade. "Com o crescimento populacional, começou a ter assaltos para levar televisor, aumentou a violência", diz Popygua. Um telecentro foi inaugurado recentemente, com 20 computadores, e as crianças reclamam que ainda não têm internet. O cacique diz que o ensino formal e a tecnologia não ameaçam a cultura guarani. "Hoje temos jovens fazendo faculdade, estudando, mas a intenção é que ele se forme e volte, para que possa trazer o conhecimento para a comunidade." O fator essencial para manter a tradição do povo indígena, segundo o cacique, é a terra. "Durante 500 anos tivemos dificuldade para manter nossa cultura. A compra de novas terras pela Dersa vai ajudar a manter a nossa cultura." Segundo ele, a terra que eles vão adquirir no Vale do Ribeira deve servir para fornecer produtos agrícolas para os que continuarem na Barragem. Paulo Karai, 26 anos, chegou na Barragem aos sete anos. Nascido numa aldeia em Itanhaém, litoral paulista, se mudou para São Paulo depois que seu pai faleceu. "Ainda não existia essa estrutura toda, o centro de saúde, as escolas, as casas da CDHU [Companhia Desenvolvimento Habitacional e Urbano]. As casas eram todas de sapê", diz. As moradias da CDHU foram construídas há quatro anos e seguem um modelo que atende aos costumes indígenas, como ter fogão a lenha. Elas substituíram as casas de pau a pique e sapé, porque, segundo Karai, como o espaço da aldeia está reduzido, ficava difícil fazer a manutenção das casas antigas e construir novas. "Falta matéria-prima para fazer as casas." Karai trabalha como vigia no centro de educação e diz que gosta muito de viver ali. Uma das principais atividades da tribo são as reuniões que ocorrem diariamente na casa de reza, onde os índios dançam e cultivam suas crenças. Karai diz que se incomoda com o crescimento urbano. "Muita gente entra, atrapalha, fica olhando. Quando a Dersa começou a falar do Rodoanel, a comunidade se reuniu para discutir se podiam não fazer a obra, ou então fazer mais longe. Eles falam que não, mas as obras sempre causam problemas para a gente", diz. Segundo Popygua, há pouco espaço para a prática da caça. "A gente vive da caça e da pesca controlada, somente o pajé autoriza a caça e a extração. O homem branco vem e pega tudo. Os ruídos da cidade também afastam os animais", diz. Maria Pires de Lima, 38 anos, vive da venda de artesanato quando há visitas na aldeia. No fundo da casa, planta palmito e mandioca. Conta que a terra já não dá muita coisa. O que falta é comprado numa vila próxima. "A terra aqui está ruim, é difícil", diz. A índia nasceu na Barragem e lembra que na infância a região tinha mais mata fechada e menos carro circulando. "Eu gosto de fazer a minha comida, as pessoas acham a minha comida gostosa. Gosto de fazer meu artesanato, cuidar da minha casa. Essa terra é nossa, a gente não devia ter que sofrer tanto para garantir o que é nosso direito", diz Maria. O cacique é hoje o representante da comunidade. É Popygua quem acompanha os projetos de lei que afetam a vida dos indígenas e viaja constantemente para participar de encontros com outras tribos. "Estou sempre viajando, indo para Brasília e para outros Estados discutir os problemas dos povos indígenas", conta. (SM) |