PENSAR "GRANDE":

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[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).

"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).

"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br

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# 38 RÉUS DO MENSALÃO. Veja nomes nos ''links'' abaixo:
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valor ...ria...nine

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segunda-feira, abril 12, 2010

XÔ! ESTRESSE [In:] CIVISMO E CIVILIDADE

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[Homenagem aos chargistas brasileiros].
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ELEIÇÕES 2010 [In:] CEPAL. O RESGATE.

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Cepal ganhará peso, com Serra ou Dilma

Brasil - Sergio Leo
Valor Econômico - 12/04/2010

As pesquisas de opinião indicam séria disputa pela sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva entre a candidata governista Dilma Rousseff, e o candidato do PSDB e do DEM, José Serra; e a escolha ilumina uma tremenda coincidência. Seja Dilma, seja Serra, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), ícone do desenvolvimentismo, espera uma etapa de glória na relação com o Brasil. O ativismo estatal prepara uma volta triunfal.

"A Cepal poderá ser um canal com o restante da América Latina, de onde o Brasil, compartilhará experiências bem-sucedidas, que podem beneficiar outros países", previu a secretária-executiva da comissão, Alicia Bárcena, ao Valor. Ela veio ao Brasil, na semana passada, para reuniões com autoridades federais, preparando a abertura do próximo "período de sessões" da Cepal, a reunião mais importante do órgão, vinculado às Nações Unidas. A abertura, em Brasília, no dia 30 de maio, inaugura a presidência do Brasil na Cepal, o que reforça as relações entre a comissão e o Brasil, e transformará o país em abrigo de discussões econômicas internacionais.

"O Brasil terá grande influência, de fato, porque presidir o período de sessões significa que país pode convocar reuniões, e nós poderemos convocar reuniões que o país presida, de temas de interesse brasileiro", comenta Alicia. A cerimônia em Brasília servirá ao lançamento de novo documento da Cepal, sobre distribuição de renda e dos benefícios do crescimento, "Na hora da igualdade, lacunas por fechar e caminhos por abrir", um estudo que, segundo a secretária-executiva da comissão, significa um "ponto de inflexão no pensamento crítico do desenvolvimento" na região.

Em resumo, os últimos seis meses do governo Lula e o próximo ano e meio do novo governo terão o apoio institucional e o peso político da Cepal para os projetos desenvolvimentistas. Uma eventual eleição do tucano José Serra não muda a previsão de que será um período favorável à maior atuação do Estado. "O escritório brasileiro da Cepal viveu um "periodo de ouro" durante a gestão de Serra no Ministério do Planejamento", lembra o representante da Cepal no Brasil, o respeitado economista Renato Baumann. "Nunca houve tanto apoio e verbas para o trabalho da comissão em convênios com o governo", garante.

Serra, mais que o presidente Fernando Henrique Cardoso, tem laços afetivos e ideológicos com a Cepal, onde trabalhou durante o exílio no Chile. Com a escolha, neste ano, do ex-representante do BNDES em Brasília, Antônio Prado, como secretário-executivo adjunto da Cepal, a ligação entre o comando da comissão e o governo do PT também passou a ser ainda mais forte. Prado, ex-coordenador do programa de governo de Lula, em 2002, é uma clara indicação do governo petista à Cepal. Ele comentou, ao Valor, o documento que a comissão divulgará em maio, com cenários desejáveis para a economia global.

"A questão é saber que estratégias podemos adotar quando os mercados estão integrados e as economias permanecem nacionais", diz ele. Em um tom que faz lembrar críticas aos economistas ortodoxos, feitas tanto na equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, quanto por Serra durante sua passagem pelo governo pré-Lula, a Cepal defende políticas de austeridade fiscal e de metas de inflação, mas sugere ajustes contra a aplicação tradicional dessas medidas. "O sistema de metas de inflação tem de ser mais complexo; não pode ter apenas a meta e instrumentos", exemplifica Prado. "Deve levar em conta a situação do câmbio, gerar um sistema de câmbio flutuante, mas administrado, o chamado câmbio sujo."

As ressalvas se aplicam também à entrada de capitais estrangeiros, segundo lembra o documento da Cepal, que faz menção aos regimes de severo controle no ingresso de moeda estrangeira no Chile e na Colômbia, nos anos 90, para defender a criação de mecanismos de barreira aos capitais especulativos. Os colombianos chegaram a manter uma espécie local de "taxa Tobin", imposto proposto pelo prêmio Nobel James Tobin, sobre transações financeiras internacionais. "O Brasil também deu exemplo nesse ponto", diz Alicia Bárcena, citando o aumento de IOF determinado sobre ingresso de capital, durante a crise financeira recente. Os elogios da dirigente da Cepal se espraiam, também, nas políticas sociais e de inovação do governo, algumas, nota, anteriores a Lula.

O importante, dizem os dirigentes da Cepal, é manter espaço para "políticas contracíclicas", que permitam maior prudência em período de crescimento, como o que parece iniciar-se na região, mas estimule investimentos e gastos em educação e saúde; dando instrumentos de intervenção ao governo. O papel dos bancos públicos brasileiros e a ação do BNDES são apontados como modelo pela comissão das Nações Unidas.

A República Dominicana ganhou destaque inédito ao presidir o atual periodo de sessões da Cepal, e sediar encontros de autoridades e especialistas, marcantes para discussão da crise econômica, em 2008. O Brasil, já é estrela mundial, e terá, com a Cepal, envolvimento ainda maior nos projetos internacionais de desenvolvimento pós-crise financeira. Será interessante saber o que os candidatos à Presidência pretendem fazer com esse protagonismo.

PEDOFILIA [In:] A PRÁTICA NÃO TEM ''CREDO'', ''TEMPLOS'' ou ''LOCUS''

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A FACE DO MAL

A frieza de um assassino


Autor(es): » Adriana Bernardes ,
Renato Alves,
Ariadne Sakkis e
Ary Filgueira
Correio Braziliense - 12/04/2010

Admar de Jesus confessa a morte dos jovens que estavam desaparecidos no município goiano e leva a polícia a seis corpos enterrados em covas rasas. Tudo isso sem demonstrar emoção ou arrependimento

Antônio Cunha/Esp. CB/D.A Press
O ACUSADO
Admar de Jesus (C), 40 anos, pedreiro
Nascido em Serra Dourada, na Bahia
Morador de Luziânia há 16 anos
Viúvo (a mulher teria se envenenado), pai de duas crianças
Condenado em 2005 a 14 anos de prisão por abusar de duas crianças no DF
Solto em 23 de dezembro de 2009, sob o benefício da progressão de pena
Confessou ter matado seis jovens moradores de Luziânia, após deixar a Papuda



Admar de Jesus Santos não tem amigos. Costumava sair nos fins de semana apenas para assistir a cultos na Igreja Universal do Reino de Deus. Além de solitário, os vizinhos consideram o pedreiro de 40 anos um sujeito discreto. Poucos sabem do seu passado, tão sombrio quanto o presente. A mulher teria se matado com veneno. Os filhos do casal acabaram criados pelo avô paterno. Além de perder a mãe de forma trágica, as crianças viram o pai ser preso. A Justiça de Brasília o condenou a 14 anos de prisão, em 2005, por abusos sexuais contra dois meninos, de 8 e 11 anos. No entanto, em 23 de dezembro último, o pedófilo deixou a penitenciária da Papuda pela porta da frente. Sete dias depois, voltou a agir como criminoso. E não parou mais, até ser detido novamente pela polícia e confessar a morte dos seis adolescentes de Luziânia (GO) dados como desaparecidos.

Desde a sua segunda prisão, no último sábado, Admar disse pouco. Mas o suficiente para os investigadores o apresentarem ontem como o assassino em série que atormentou Luziânia por 101 dias e seis corpos serem encontrados enterrados num terreno ermo da área rural do município a 70km de Brasília. Sem demonstrar arrependimento ou remorso pelas execuções que admitiu ter cometido a sangue frio, ele levou os policiais aos locais onde enterrou suas vítimas mais recentes. Apontou uma a uma as covas rasas. Algumas, cavadas com as próprias mãos, segundo os policiais. Os cadávares estavam em avançado estado de decomposição. Os investigadores, porém, dizem não ter dúvidas de serem os restos mortais dos meninos de 13 a 19 anos, sumidos entre 30 de dezembro e 29 de janeiro.

Nascido em uma família pobre de nove irmãos, baiano de Serra Dourada, cidade de 18 mil habitantes onde o seu pai e os filhos residem, Admar chegou a Luziânia há 16 anos. Só deixou o município goiano de 210 mil moradores no período em que esteve preso por abusar de duas crianças no Distrito Federal. Nesse caso, ofereceu dinheiro para um menino ajudá-lo a descarregar um caminhão. Com uma faca no pescoço, o garoto acabou forçado a manter relações sexuais com ele. “O menino escapou dizendo que traria um coleguinha, mas chamou a polícia. Quando os policiais chegaram ao local, ele (Admar) já estava abusando de outro garoto. Isso prova que ele tem alto poder de convencimento”, contou o delegado Wesley Almeida, da Polícia Federal, que também investiga o mistério de Luziânia.

Psicopata
Antes de ser liberado da Papuda, Admar passou por avaliação de sanidade. Para um médico do sistema carcerário de Brasília, ele tem o perfil violento de um psicopata e deveria ter acompanhamento psiquiátrico, o que não ocorria. Dizendo ter o laudo sobre o pedreiro, o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, Aredes Pires, não entende como ele voltou às ruas. “Seis vidas se perderam, há um sofrimento enorme das famílias e, talvez, isso poderia ter sido evitado”, ressalta.

O responsável pelos inquéritos, delegado Juracy José Pereira, não tem dúvidas de que se trata de um serial killer, pelo jeito metódico com que Admar agia e a motivação do crime. O perfil das vítimas é o mesmo. Meninos adolescentes — o único maior de idade tinha rosto de menino. Segundo Juracy Pereira, a pouca idade facilitaria o aliciamento. A abordagem era feita sempre à luz do dia, sem violência, com motivação sexual e desfecho já premeditado: a morte da vítima para eliminar provas contra ele.

As investigações revelaram ainda que, com exceção de uma das abordagens, as demais obedeceram a uma sequência lógica dos dias da semana. “Os desaparecimentos ocorreram, respectivamente, na quarta, segunda, domingo, quarta, segunda, sexta e domingo”, pontuou o delegado. “Para mim, esses fatos caracterizam ação de um assassino em série.”

Agentes também desconfiam que Admar teve ajuda de outras pessoas nos crimes de Luziânia. Ele nega. A Justiça do estado vizinho do DF mandou prender o acusado por ao menos cinco dias. O tempo pode ser renovado quantas vezes o juiz achar necessário para os investigadores levantarem provas.

No primeiro depoimento informal, na manhã de sábado, Admar não deu muitos detalhes, mas disse ter oferecido R$ 200 a cada um dos seis jovens, em troca de relações sexuais. Alegou ter matado todos a paulada para não ser denunciado, como ocorreu há cinco anos, em Brasília. “Quatro dos seis jovens tinham relacionamento homossexual e em função disso prendemos dois pedófilos que, em princípio, acreditávamos ter envolvimento com os desaparecimentos. Eles continuam presos por crimes cometidos em Niquelândia, mas não são os responsáveis pelos sumiços de Luziânia”, afirmou Aredes Pires.

Acima da média
A polícia goiana relutou para abrir investigação sobre os sumiços em série de garotos em Luziânia. A delegacia da cidade só começou a dar atenção ao caso após pressões geradas por uma série de reportagens do Correio — o primeiro a denunciar os desaparecimentos, ainda em 16 de janeiro — e o quinto desaparecimento, ocorrido em 20 de janeiro. Insatisfeitas, as mães dos meninos procuraram o Ministério da Justiça, que em 9 de fevereiro mandou a Polícia Federal dar apoio à Polícia Civil de Goiás. Para o delegado Wesley Almeida, da Divisão de Combate ao Crime Organizado da PF, o pedreiro tem “alto poder de persuasão e provavelmente inteligência acima da média”.

Admar passou a madrugada de sábado para domingo preso na delegacia de Luziânia. Revoltada, a população ameaçava invadir o prédio e linchar o acusado. Por questões de segurança, os agentes levaram o assassino confesso dos seis adolescentes de Luziânia para Goiânia. Ele deixou o município do Entorno do DF por volta das 10h30, logo depois de ter apontado os locais onde enterrou os corpos. No início da noite, seguiu para o um presídio de Aparecida de Goiânia, nos arredores da capital do estado. Enquanto isso, em Luziânia, policiais militares tentavam conter a raiva de moradores de Luziânia, que cercavam a casa onde o pedreiro morava com a irmã, o cunhado e dois sobrinhos.


Palavra de especialista

“A primeira coisa é saber que o tipo de crime não diz quem é a pessoa. É preciso fazer a análise da personalidade do sujeito quando ele entra no sistema judiciário para saber se ele é um psicopata. Essas pessoas têm um defeito grave de caráter, são incapazes de considerar o outro. Para ter uma ideia, o psicopata tem uma chance de mais de 70% de reincidir em crimes graves e violentos.

O psicopata não tem respeito pelo sentimento do outro, não tem sensibilidade quanto à dor do outro, não se arrepende, não tem remorso nem vergonha do que fez.

É extremamente individualista, com necessidades sexuais intensas, normalmente agressivo e vive para sanar seus prazeres.

Na vida dos psicopatas, não há constância nas relações. Eles não têm amigos e, normalmente, foram crianças e adolescentes com desvio de conduta grave. Contudo, são muito sedutores, capazes de fazer você pensar que conheceu a melhor pessoa do mundo. A característica de um serial killer não é como ele mata, mas sim quem ele mata.”


Hilda Morana, doutora em
psiquiatria forense pela USP e
coordenadora do Departamento de Psiquiatria Forense da
Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP)

ENERGIA NUCLEAR: TER OU NÃO TER?

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Lula tratará de Irã à margem da cúpula

Cúpula sobre segurança nuclear deve expor Lula a ser questionado sobre Irã

]
Autor(es): Patrícia Campos Mello
O Estado de S. Paulo - 12/04/2010

Cúpula. Em Washington, onde Obama reiterou ontem a preocupação da comunidade internacional com a ameaça de grupos terroristas obterem material atômico, brasileiro pretende defender a necessidade de mais diálogo com Teerã, antes de sanções.

À margem da Conferência de Segurança Nuclear que começa hoje em Washington, o presidente Luís Inácio Lula da Silva vai se reunir com líderes de três países membros do Conselho de Segurança da ONU - Turquia e Japão, membros rotativos como o Brasil, e França, que é membro permanente.

Brasil, Turquia e Líbano são os três membros rotativos do conselho que não apoiam sanções contra o programa nuclear iraniano e são alvos de intenso lobby da Casa Branca. Lula prega mais diálogo com o Irã, que visitará em maio, antes de serem impostas sanções. Entre os membros permanentes - China, França, Rússia Grã-Bretanha e EUA - apenas a China não apoia sanções, enquanto a Rússia deixou claro que só apoiará medidas mais leves, que não afetem o povo iraniano. Lula terá reunião bilateral com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, amanhã e com o primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, e o primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, hoje. O Planalto não especificou se as sanções farão parte da pauta. Mas fatalmente Lula será questionado sobre o posicionamento do País em relação ao Irã - ainda mais porque ele pode ser o último líder ocidental a se encontrar com Mahmoud Ahmadinejad antes de possíveis sanções. E a Casa Branca já anunciou que o presidente Barack Obama vai falar das sanções em seu encontro bilateral com Erdogan e, no mais aguardado de todos, com o presidente chinês, Hu Jintao, hoje.

Os encontros bilaterais são a maior atração da conferência, que se concentra em um tema bastante específico e pouco polêmico - o terrorismo nuclear. A cúpula terá a participação de 46 países, sendo 40 chefes de Estado. Trata-se da maior reunião de líderes mundiais convocada pelo governo americano desde 1945, quando foi criada a ONU. O principal tema é como evitar que materiais nucleares caiam nas mãos de terroristas. Em seu discurso histórico feito em Praga, há um ano, Obama, propôs que todo material nuclear vulnerável seja posto em locais seguros no prazo de 4 anos. "Se a Al-Qaeda pusesse as mãos sobre armas nucleares, não hesitaria em usá-las", disse Obama ontem, antes de encontro com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. "A maior ameaça à segurança americana, no curto, médio e longo prazo, é a possibilidade de uma organização terrorista obter uma arma nuclear." Hoje em dia, há cerca de 1.600 toneladas de urânio altamente enriquecido e 500 toneladas de plutônio no mundo - grande parte, vulnerável.

O presidente americano também manteve ontem reuniões bilaterais com dois Estados-chave em termos de preocupação com a segurança nuclear - Índia e Paquistão. Inimigos entre si, os dois países não são signatários do Tratado de Não-Proliferação e ambos enfrentam em seu território a frequente ameaça de grupos terroristas.

PONTOS-CHAVE


Paquistão

Islamabad não é signatária do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), mas é considerada fundamental para a estratégia dos EUA na luta contra o Taleban no Afeganistão.

Índia

Governo já realizou testes nucleares, mas também não é signatário do TNP. Tema será discutido em encontro do premiê indiano, Manmohan Singh, com presidente americano, Barack Obama.

Israel

País não confirma e tampouco nega ter bombas atômicas e se recusa a assinar o TNP. Premiê israelense, Binyamin "Bibi" Netanyahu, cancelou a sua participação na cúpula.

Brasil

Presidente Lula participará de reunião. País assinou o TNP sem subscrever o protocolo adicional que reforça o controle por parte da Agência Internacional de Energia Atômica.

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ELEIÇÕES 2010 [In:] AÉCIO NEVES. ENTREVISTA.

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'DILMA É UMA GRANDE INCÓGNITA', DIZ AÉCIO

"A GRANDE INCÓGNITA É COMO SERÁ A RELAÇÃO DE DILMA COM O PT"


Autor(es): Christiane Samarco
O Estado de S. Paulo - 12/04/2010


Ex-governador afirma que candidata pode sofrer influência do "PT ideológico e com problemas éticos"

O ex-governador de Minas Aécio Neves diz, em entrevista a Christiane Samarco, que a presidenciável Dilma Rousseff terá dificuldade com o PT e que a relação dela com o partido é uma "grande incógnita". "Ela terá que demonstrar durante a campanha como será a relação com o PT, como virá o PT ideológico do Estado máximo e que presença o PT dos problemas éticos terá no governo", avalia. "Foram todos absolvidos e, no lançamento da candidatura dela, estavam muito sorridentes." Tido como vice dos sonhos do tucano José Serra, Aécio reafirma que concorrerá ao Senado, porém convida o ex-governador de São Paulo a abrir a campanha em Minas: Tem o simbolismo de demonstrar nossa proximidade".

Ex-governador afirma que candidata pode sofrer influência do "PT ideológico e com problemas éticos"

Aécio resiste em ser vice de Serra, mas o convida para abrir sua campanha em MG


Ex-governador de Minas Gerais que deixou o cargo com popularidade recorde, Aécio Neves perdeu para o paulista José Serra o posto de pré-candidato do PSDB a presidente, mas não cultiva mágoa ou despeito. Certo de que a presidenciável petista Dilma Rousseff "é uma grande incógnita", Ele quer começar a campanha de Serra por Minas Gerais, como pré-candidato ao Senado e sem falar em vice. Os dois vão se reunir neste início de semana para marcar a data. Aécio vai propor dia 19.


"Condicionei meu descanso primeiro ao lançamento da candidatura no dia 10, e agora por mais nove dias", conta Aécio, que só sairá em férias depois de pedir voto aos mineiros. "Acho que a ida a Minas, no início de sua caminhada, tem o simbolismo de demonstrar a proximidade pessoal nossa, e de Minas e São Paulo, nesta eleição", avalia. Ao mesmo tempo, porém, o tucano adverte que não promete vitória a Serra. "Prometo o empenho. Ninguém induz o voto do eleitor, que é livre para fazer suas escolhas", diz Aécio, em entrevista ao Estado. "Vou tentar demonstrar que, para Minas e para o Brasil, a eleição de Serra é muito melhor."


O que o senhor achou do discurso de lançamento de José Serra?


Foi um discurso conceitual. Ele precisava abordar vários temas, fez críticas objetivas à ação do governo - jamais pessoais, o que achei muito positivo. Eu procurei falar antes dele, para superar constrangimentos de setores do PSDB que se atemorizam com a proposta do debate FHC x Lula.


Há razão para temer comparação?


Ao contrário. Vamos para o embate. O PT comete o equívoco de restringir sua existência aos oito anos de governo Lula. Vamos reconstruir as nossas trajetórias e ver quem contribuiu mais para que chegássemos aonde estamos hoje. Não tenho dúvida de que nós do PSDB sempre tivemos muito mais generosidade para com o País do que o PT. Busquei despersonalizar a disputa, refazer o passado. A partir daí vamos discutir o presente.


Seu discurso de oposição, no lançamento, foi em tom acima do habitual.


Oposição ao PT, porque acho importante que o Brasil saiba qual é e qual foi a postura do PT nos momentos mais graves até aqui. O que me incomoda é ver o PT tentando vender aos brasileiros a ideia de que o Brasil das virtudes e do desenvolvimento foi construído por eles, quando, em vários momentos cruciais, eles preferiram priorizar o projeto partidário ao nacional. Negaram voto a Tancredo, apoio a Itamar Franco, porque Lula já aparecia em posição boa nas pesquisas para presidente, e na construção da estabilidade, no governo FHC.


Seu discurso no lançamento foi para conclamar a militância à luta eleitoral?


Falei com o objetivo de dar coragem aos nossos companheiros para enfrentar este debate no campo que o PT quiser. No campo ético, vamos lá. Se querem falar de privatização, quem pode ser contra a privatização da telefonia ou da siderurgia? Quanto a futuro e propostas para o Brasil, estamos muito mais preparados. E vamos discutir também o presente e o passado.


Mas o senhor não citou o nome da candidata adversária, Dilma Rousseff.


Eu tenho respeito pessoal pela Dilma e acho que esta campanha não pode ser personalizada. Se formos por este caminho, ela perde a essência, se amesquinha. Quero dizer o que o PT no governo representa. Principalmente o PT sem o pragmatismo e a autoridade de Lula, que o enquadrou na manutenção da política econômica atual.


Dilma não terá essa autoridade?


Esta é a grande incógnita. Ela terá que demonstrar durante a campanha como será a relação com o PT, como virá o PT ideológico do Estado máximo e que presença o PT dos problemas éticos terá no governo. Foram todos absolvidos e, no lançamento da candidatura dela, estavam muito sorridentes.


A disputa entre seus aliados em Minas já é sinal de que faltará comando?


Não é demérito. É natural que ela não tenha sobre o PT a liderança que o presidente Lula tem, por sua história, seu carisma e sua alta popularidade. A Dilma terá dificuldades e esta é uma preocupação que permeará a campanha.


Alguns tucanos, especialmente os paulistas, se queixaram da falta de empenho de Minas na última eleição.


Isso é falso. Está na cabeça de um ou outro áulico que não conhece Minas. Recebi um telefonema do governador Alckmin na quinta-feira, para dizer que não se lembra de ninguém que tenha se empenhado tanto na eleição dele como eu. O resultado da eleição você não define. O empenho sim, e este Serra terá. Alckmin e Serra, em 2002, tiveram. Só que disputavam com Lula, que era muito popular. Será que Alckmin teria os 40 e muitos por cento que teve em Minas não fosse o empenho muito grande nosso?


Com o Lula fora da eleição fica mais fácil dar vitória para Serra em Minas?


Lula é um adversário muito mais difícil. Agora, não prometo vitórias. Prometo o empenho, que será de todos nós. Ninguém fez mais gestos em favor da unidade do partido e demonstrou mais desprendimento do que eu. E não fiz isto com má vontade, contrariado. Apostei em uma proposta, apresentei ao País. Quando vi que o PSDB caminhava em outra direção e que insistir poderia provocar um cisma no PSDB, privilegiei o projeto de País porque acho extremamente importante que este ciclo que está aí se encerre.


O ciclo do PT não foi positivo?


Reconheço virtudes no presidente Lula, mas acho que o PSDB está muito mais preparado hoje para acabar com esse aparelhamento absurdo da máquina pública. E a ministra Dilma, com os méritos que tem, terá que entrar no debate de forma muito clara sobre o espaço desse PT ideológico, estatizante, que aparelha o Estado em razão da filiação partidária, o coloca a serviço de seus interesse, e muitas vezes insinua ações de restrição à liberdade de imprensa e às conquistas democráticas.


E o debate Serra x Dilma?


Esse é bom para nós também porque os nossos modelos de gestão vão estar em debate. Vamos demonstrar que a meritocracia é o antídoto ao messianismo, porque ela te permite dados objetivos de avaliação dos resultados na vida das pessoas. Os que apostam no messianismo, nos discursos e na autoproclamação da própria bondade temem essa comparação. Vamos contrapor esses dois modelos e acho que temos grandes vantagens. Lula será sempre reconhecido pelo Brasil como um presidente extremamente importante em um momento da nossa história. A perpetuação do PT no poder não é boa para o País.


Que vantagem tem o PSDB no embate de perfis Serra x Dilma?


São duas pessoas dignas, com histórias de vida respeitáveis e nós temos que partir deste pressuposto. O Serra resgata a eficiência na gestão pública como instrumento dos avanços sociais e representa uma política externa muito mais afim aos interesses do Brasil, inclusive os comerciais e pragmáticos, e não uma aliança meramente ideológica. Não há hipótese de interromper programas que estão dando certo, mas podemos aprimorá-los.


E a ministra Dilma ?


O grande senão que se coloca em relação a ela - e aí é um preço que ela paga exatamente por não ter tido a experiência de comando no Executivo, nem mandato eletivo - é qual será a presença desses setores ideológicos do PT e dos aloprados no seu eventual futuro governo. Ela terá que dizer aos brasileiros exatamente o que pensa de modelo de Estado, das instituições democráticas, da liberdade de imprensa, do aparelhamento do Estado e desse inchaço da máquina pública.


O senhor não promete vitória. Dá para vencer sem derrotar Dilma em Minas? O PSDB nacional diz que não.


Eu disse que não prometo resultado. Felizmente, cada eleitor brasileiro vale um voto, esteja ele no Nordeste, no Sul ou em São João Del Rei. Isto já é um avanço, porque antigamente os líderes indicavam seus sucessores. Eu, acima de qualquer projeto pessoal que possa ter tido, estarei absolutamente engajado na campanha do Serra por duas razões: vejo nele todas as condições de fazer um belo governo e acho fundamental encerrar este ciclo, porque o enraizamento desses setores que estão no governo pode ser muito perverso para o País.


Qual é o significado do convite a Serra para abrir o roteiro de viagens da pré-campanha em Minas Gerais?


É um gesto simbólico, para demonstrar de forma clara que estaremos juntos independentemente da minha posição e da candidatura que eu venha a disputar.


O senhor se refere a dúvidas quanto a seu engajamento na campanha?


Na verdade, esta dúvida está na cabeça de meia dúzia de pessoas que desconhecem a realidade de Minas e não acompanharam a campanha. Serra e o governador Geraldo Alckmin agradeceram o empenho e a forma como atuamos, frente ao adversário Lula, que era muito forte em Minas. A ida de Serra a Minas, no início de sua caminhada, tem o simbolismo de demonstrar a proximidade pessoal nossa, e de Minas e São Paulo, nesta eleição. Mas ninguém induz o voto do eleitor. O eleitor é livre para fazer suas escolhas. Eu vou tentar demonstrar que, para Minas Gerais e para o Brasil, a eleição de Serra é muito melhor.

ELEIÇÕES 2010 [In:] Ô! PAINHO...

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Comícios de risco para Dilma e Lula

Palanques proibidos


Autor(es): Denise Rothenburg
Correio Braziliense - 12/04/2010
A disputa entre aliados ameaça impedir a presença do maior cabo eleitoral de Dilma nos comícios em vários estados

  • Kleber Sales/CB/D.A Press

    A alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a profusão de palanques aliados ameaçam transformar muitos locais em territórios proibidos para ele durante a campanha. Os “palanques proibidos” foram elencados pelo PT para serem analisados caso a caso. Uma das principais zonas de conflito é o Rio. Desde o início do ano, a pré-candidata Dilma Rousseff e Lula procuram administrar desavenças entre o governador Sérgio Cabral (PMDB) e Anthony Garotinho (PR). Outros 13 estados também apresentam problemas (lei quadro nesta página).

    No caso do Rio, Dilma foi obrigada a cancelar a visita no sábado para não melindrar Cabral. Tudo porque Garotinho avisou que lançaria a pré-candidatura no mesmo dia. O ato no ABC paulista foi convocado de última hora, só para que ela não ficasse fora do noticiário no dia da apresentação do pré-candidato do PSDB, José Serra.

    A ideia do PT para não ser obrigado a manter diversos territórios proibidos ao seu maior cabo eleitoral e não restringir a participação apenas aos palanques eletrônicos é buscar um “acordo de procedimentos” com os partidos aliados. “Enquanto não definirmos os palanques, não dá para fechar nada. Mas, depois das convenções, teremos que resolver isso, e a ida do presidente dependerá do grau de beligerância dos adversários estaduais. Haverá estados em que, realmente, ficará complicado. Outros que parecem complicados poderão não ser”, diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

    Entre os “complicados”, ele cita o Amazonas. Lá, o governador Omar Aziz (PMN), que planeja concorrer à reeleição, tem o apoio do PCdoB. O ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR) está negociando com o PT. “Lula tem 90% de popularidade e o ex-governador Eduardo Braga, 82%. Só que o ex-governador estará com o seu sucessor, se ele for candidato. Temos ainda Alfredo, que é um ex-ministro e tem o apoio do PT. Teremos que encontrar solução. Hoje, é impossível dizer se Lula irá aos dois”, diz Dutra.

    O sonho de Dutra era poder repetir o que ocorreu em quando Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT), adversários na disputa pelo governo estadual, receberam Lula sem problemas em 2006. Só que essa situação não está configurada em nenhum dos 14 estados onde os partidos da base concorrem entre si. Na Bahia, o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB) busca um acordo para que o presidente Lula não vá à Bahia na campanha.

    Há ainda aqueles que ameaçam abrir espaço para o PSDB de José Serra, caso Lula vá ao estado. É o caso da Paraíba. Lá, o governador José Maranhão (PMDB) busca acordo com o PT, enquanto o PSB terá o apoio do PSDB e do DEM para o seu candidato a governador, Ricardo Coutinho, ex-prefeito de João Pessoa. Os socialistas já disseram que Coutinho não desfilará ao lado de Serra, desde que Lula não apareça fazendo campanha para Maranhão. Embora Dutra diga que nada está acertado, os socialistas têm dito que esse acordo está fechado.

    Colaboraram Josie Jerônimo e Flávia Foreque


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    ELEIÇÕES 2010 [In:] ... A DAR ''BOM DIA'' À CAVALOS. II

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    Depois de Getúlio e Juscelino, Dilma tenta colocar Tancredo na mira dos assassinos da verdade

    9 de abril de 2010

    O primeiro alvo dos assassinos da verdade foi Getúlio Vargas, ferido pela versão que o transforma em modelo de Lula. O segundo foi Juscelino Kubitschek, atingido pela fantasia que procura torná-lo parecido com o presidente que não lê nem sabe escrever. A terceira vítima pode ser Tancredo Neves, avisou o palavrório de Dilma Rousseff no cemitério em São João del Rey. Foi ela a escolhida para a abertura da farsa destinada a inventar afinidades entre o estadista nascido em Minas Gerais e um camelô de comício.

    A tarefa é mais complexa que as anteriores. Getúlio e JK não conviveram com a sigla nascida em 1980. Tancredo sofreu durante cinco anos a hostilidade sem pausas de um PT delirantemente oposicionista. A sequência de agressões verbais e gestos insolentes chegou ao climax em 15 de janeiro, quando o PT se recusou a apoiar o candidato do PMDB no Colégio Eleitoral. Entre Tancredo Neves e Paulo Maluf, a companheirada preferiu a abstenção.

    Principal advogado da desfeita, Lula não enxergou diferenças entre dois opostos. “São duas faces da mesma moeda”, resumiu o campeão do raciocínio tosco, incapaz de distinguir um mestre da conciliação de um apóstolo do desentendimento, um democrata irretocável de um comerciante de votos, uma biografia de um prontuário. Inconformados com o monumento à insensatez, os deputados petistas Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes votaram em Tancredo. Foram sumariamente expulsos.

    Se tivesse efetivamente aprendido a admirar o presidente que nunca subiu a rampa do Planalto, Lula trataria de penitenciar-se publicamente, pedir desculpas aos três parlamentares, pedir perdão à família do injuriado e pedir a Deus que reduza o abismo que o separa de Tancredo. Em vez disso, escalou Dilma Rousseff para a cena inicial do show de cinismo eleitoreiro.

    O último dos três vídeos agrupados no link documenta o momento mais assombroso do hino à canastrice. Convidada a explicar por que resolvera depositar uma coroa de flores no túmulo de Tancredo, Dilma tenta pinçar na memória a discurseira que Lula ensinou. A largada claudicante revela que não decorou direito a lição:

    ─ Ninhum homem público no Brasil, né?, é propiedade privada de nenhum partido, nem… num… é… é… é o fato da gente… é… respeitar o Tancredo Neves, o Tancredo Neves ele foi um brasileiro, eleito presidente da República e, infelizmente, não, não pode governar.

    A gagueira diminui no primeiro ponto, mas Dilma derrapa na memória curta:

    E ele não era propriamente nem do PT nem do PSDB, né? Ele era de outro partido…

    As reticências advertem que a candidata esqueceu o nome do outro partido.

    ─ Era do PMDB ─ sopra-lhe no ouvido o companheiro Fernando Pimentel.

    Não há clima para lembrar à especialista em nada que Tancredo só poderia “ser do PSDB” se ressuscitasse três anos depois da morte para filiar-se ao partido fundado em 1988. O silêncio da oradora grita que é complicado demais ouvir e falar ao mesmo tempo.

    ─ Era do PMDB. Era do Brasil ─ insiste Pimentel.

    ─ Era do PMDB, né? ─ hesita Dilma já perdendo a paciência.

    ─ Era do Brasil ─ desespera-se a voz sussurrante.

    ─ E nós podemos perfeitamente sendo… nós podemos perfeitamente, né?, sê do PT e respeitá o Tancredo Neves ─ acelera Dilma na última curva. ─ Até porque hoje ele é um patrimônio do Brasil. E acho que o presidente Lula, o governo do presidente Lula, na fala que eu… li dele, que ele falava que um país só podia ser grande se seu povo se desenvolvesse, tivesse saúde, tivesse educação e felicidade, acho que o governo do presidente Lula se aproximou muito do que o Tancredo falou nessa… nesse seu discurso.

    Era esse o objetivo da visita, todos entenderam. A afilhada sem rumo só queria vincular o padrinho ao presidente que morreu enquanto a democracia ressuscitava, ao avô de Aécio Neves, ao político mineiro que certamente estaria contra Lula e ao lado de José Serra. Dilma fez o que pôde para facilitar o sequestro da memória de Tancredo, que segue em perigo. Mas o prólogo do espetáculo ultrajante foi um fiasco. A bichinha está palanqueira, mas o neurônio continua solitário.

    http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=77365

    http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/

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    ELEIÇÕES 2010 [In:] ... A DAR ''BOM DIA'' À CAVALOS.

    Brasil

    A candidata petista falou "dilmais"

    Em sua primeira incursão de campanha longe do presidente Lula, Dilma Rousseff comete uma gafe política e constrange os próprios aliados.


    Otávio Cabral e Daniel Pereira
    Fotos Cristiano Mariz
    ENTRE LOBOS E CORDEIROS
    Em Minas, Dilma agradou à plateia petista, mas irritou o aliado Hélio Costa (centro)
    ao defender acordo com o PSDB.



    O pacote da pré-campanha da ex-ministra Dilma Rousseff é de impressionar. O PT alugou casas, um comitê, reservou carros, jatinhos, contratou especialistas americanos em internet, jornalistas, institutos de pesquisa, consultores de imagem, fonoaudiólogos e marqueteiros – um aparato de estrela que já está trabalhando, mas que ainda convive com um grande enigma: o desempenho da ex-ministra sem a presença do presidente Lula a seu lado. Na semana passada, surgiram os primeiros indícios do que está por vir. Em sua incursão-solo inicial, Dilma escolheu Minas Gerais como cenário para testar seu desempenho. Seguindo o roteiro convencional dos políticos, a petista colocou crianças no colo, fez promessas a empresários, tomou cafezinho com cidadãos comuns e distribuiu beijos e afagos. O resultado foi considerado satisfatório. No palanque e nas entrevistas, territórios em que talvez o eleitor tenha as melhores condições de enxergar seu candidato da maneira como ele realmente é, a ex-ministra causou espanto. Ao contrário de tudo o que já havia feito, Dilma adotou um discurso agressivo, classificando os opositores como "lobos em pele de cordeiro", para, logo depois, defender a possibilidade de uma parceria entre ela e o candidato ao governo de Minas Antonio Anastasia, do PSDB – supostamente um dos tais "lobos em pele de cordeiro".

    Longe de ser apenas uma contradição, a declaração da ex-ministra foi uma gafe. "Como houve o Lulécio (comitês de apoio a Lula e Aécio Neves em 2006), é possível que haja a Dilmasia. Eu acho até melhor a inversão. Dilmasia é esquisito. Anastadilma, qualquer coisa assim", disse a petista, ao ser questionada sobre o fato de alguns aliados já estarem formando fileiras com o PSDB de Minas. No mundo político, lobos e cordeiros costumam conviver de forma harmoniosa em nome de um interesse comum. O problema da declaração da ex-ministra é que ela veio no momento em que seu partido é instado a apoiar o ex-ministro Hélio Costa, pré-candidato do PMDB ao governo mineiro e aliado de Dilma. Costa, é claro, irritou-se e levantou até a hipótese de passar a apoiar José Serra, o presidenciável tucano, criando uma chapa apelidada por ele de "Serrélio". Os petistas de Minas, que não querem Hélio Costa nem Anastasia, também se constrangeram com a sugestão da ex-ministra. Dilma foi reprovada no teste de habilidade. Também não pegou bem a iniciativa de depositar flores no túmulo de Tancredo Neves, avô do tucano Aécio e cuja candidatura à Presidência da República, em 1985, foi torpedeada pelo PT no antigo Colégio Eleitoral. O ato foi visto como demagógico e até de mau gosto.

    Essa fase da campanha da ex-ministra foi planejada para servir como laboratório. Quase nada é feito sem um planejamento prévio. A história do "Anastadilma" ou "Dilmasia" é um exemplo do que pode acontecer quando o roteiro é improvisado. É para evitar armadilhas assim que, antes de a ministra sair às ruas, são testadas situações e pinçados temas que devem estar presentes em seus discursos e declarações. A linha mestra da campanha, por exemplo, já começou a ganhar contornos definitivos. Na semana passada, Dilma se reuniu com um cientista político contratado pelo comitê para dar assessoria especial à campanha. Eles analisaram o resultado de pesquisas qualitativas e quantitativas encomendadas pelo partido sobre o cenário eleitoral. O diagnóstico numérico mostrou que a petista está próxima de conquistar o terço do eleitorado que historicamente vota no PT. O tucano José Serra cativou o terço que jamais votou em Lula e não vota em petista. A disputa propriamente dita, portanto, será travada num universo de aproximadamente 45 milhões de eleitores, que hoje se alinham a outras candidaturas ou, em sua maioria, estão indecisos. O perfil básico desses brasileiros, segundo a pesquisa, é de gente com pouco acesso à informação, alheia e desinteressada do que se passa no mundo político e que definirá candidato somente após a Copa do Mundo. Tal contingente de eleitores aprova Lula e o governo. Teoricamente, seriam eleitores também de Dilma. As mesmas pesquisas, porém, confirmam que a transferência de voto não é automática. O desafio é transformar Dilma em uma candidata simpática capaz de atrair esse eleitorado. Até junho, todos os passos da ex-ministra estarão sendo filmados para, depois, ser analisados por grupos de avaliação. O tom de voz e as roupas da candidata também passarão pelo crivo de especialistas. As pesquisas que vão apontar os pontos positivos e negativos da passagem de Dilma por Minas ficarão prontas nesta semana e orientarão as próximas viagens.

    O ex-governador José Serra, que anunciou oficialmente sua candidatura à Presidência neste sábado (10), já ajustou o discurso eleitoral. Ao deixar o governo de São Paulo, até fez menção aos escândalos registrados na seara ética do governo. Prenúncio de confronto com Lula, como pretendia fazer crer o PT? Não. Em público, o tucano elogiou o presidente, a política econômica e os avanços na área social. Além disso, prometeu dar continuidade às conquistas dos últimos anos e acelerá-las. Para ministros e líderes do PT, Serra foi habilidoso ao evitar debates sobre diferenças entre as gestões tucana e petista. "O Serra querer ser mais lulista que o Lula é impossível. Essa tentativa dele de se apresentar como ‘pós-Lula’ é de uma fragilidade imensa", esbraveja o secretário-geral do PT, o deputado federal José Eduardo Cardozo. O fato é que a estratégia tucana incomodou os governistas. E resultou numa reação imediata capitaneada pelo próprio presidente da República. Logo no início da semana, Lula determinou aos assessores da Esplanada e do Congresso que, sempre que possível, reforcem as diferenças entre os governos do PT e do PSDB – a tal história de que os tucanos são "lobos em pele de cordeiro".

    Para Serra, o bordão é uma "bobagem" sem nenhuma relevância eleitoral. "Se a candidata do PT me atacar dizendo uma verdade, eu aceito. Se me atacar com uma mentira, vou chamá-la a se explicar. Agora, esse tipo de coisa, francamente..." Enquanto Dilma fazia seu passeio mineiro, Serra preferiu passar a semana recolhido em sua casa, em São Paulo. Ele gastou a maior parte desse tempo preparando o lançamento público de sua candidatura. Serra acredita que, desde seu discurso inaugural, o tom da campanha precisa estar bem colocado. Por isso, revisou os pontos de sua fala diversas vezes. Na área econômica, Serra vai defender a necessidade de o país passar por um ajuste fiscal vigoroso, que enxugue os gastos da máquina pública (inclusive desalojando a companheirada petista que foi contratada pelo setor público por indicação meramente política) e possibilite ao governo destinar uma parcela maior do seu orçamento para investimentos diretos em infraestrutura.

    No capítulo social, o tucano pretende afirmar que a saúde e a educação estão semiestagnadas, e apresentar propostas pontuais para tirá-las da letargia. Além disso, o tucano insistirá no tema da segurança pública. "O governo federal não assume sua responsabilidade nessa questão. A criminalidade brasileira se alimenta do contrabando de armas e drogas que passam livremente pelas fronteiras. É obrigação do governo federal enfrentar essa questão", diz ele. Enquanto alinhavava os pontos centrais de seu discurso, o candidato também fazia os últimos ajustes na equipe que o acompanhará nos próximos meses. Já está definido que o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra, será o coordenador da campanha. Outro nome definido é Luiz Gonzalez, jornalista e marqueteiro, responsável pela estratégia de comunicação. Sobre o assunto mais especulado, seu companheiro de chapa, que será o candidato a vice-presidente, Serra insiste que ainda é prematuro falar sobre nomes. "Essa discussão só vai se encaminhar para uma definição a partir da segunda semana de maio", diz ele. Quando o inverno chegar, a temperatura subirá ainda mais.

    Pedro Vilela
    DISPUTA PELO PÓS-LULA
    Serra lançou sua candidatura contando com o apoio de Aécio e de Anastasia, cortejado por Dilma.
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    http://veja.abril.com.br/140410/candidata-petista-falou-dilmais-p-086.shtml
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    A VIDA IMITA A ARTE [In:] ''RIO 40 GRAUS. CIDADE MARAVILHA. PURGATÓRIO DA BELEZA E DO CAOS..." *

    Brasil

    Rio...

    Genilson Araújo/Ag. O Globo
    219
    mortos
    161
    feridos
    11 562 desabrigados
    10,3 milhões
    de moradores atingidos
    22
    municípios afetados
    CIDADE SUBMERSA
    A Lagoa Rodrigo de Freitas subiu quase 1,5 metro acima do nível normal e a água invadiu pistas e calçadas: uma semana de caos


    ...do descaso, da demagogia, do populismo
    e das vítimas de suas águas

    A maior tempestade da história do estado causa centenas de mortes nas favelas e expõe o lado sombrio da política de incentivos à ocupação ilegal de áreas de risco nos morros.


    Ronaldo França,

    Ronaldo Soares e

    Roberta de Abreu Lima



    A tempestade que se abateu sobre o Rio de Janeiro na madrugada da última terça-feira, com fúria e persistência recordes, escancarou a gravidade de um problema há décadas negligenciado: o incentivo oficial para a ocupação de encostas. Não fosse o risco de vida embutido, a "indústria da favelização" poderia até ser vista como um programa social. Não é. Os falsos beneméritos dão ajuda material a famílias inteiras para que se instalem em áreas de alto risco em troca do voto delas nas eleições. Quando ocorrem tragédias como a da semana passada, eles fingem que o problema não é com eles. O último levantamento oficial mostra que em 119 favelas, de sete municípios do estado, ocorreram 197 das 219 mortes registradas até agora. Ao testemunhar o desabamento de dezenas de casebres e a morte de vizinhos no Morro dos Prazeres, na Zona Sul da cidade e um dos mais atingidos pelas chuvas, José Ferreira, 60 anos, resumiu: "Parecia um tobogã". O padrão se repetiu em diversos pontos. Um após o outro, os morros foram lavados pela força das águas da chuva, perdendo sua fina cobertura de terra onde foram plantados os barracos irregulares não apenas com a complacência das autoridades mas com sua ajuda. Diz o sociólogo Bolívar Lamounier: "O fenômeno da favelização no Rio é consequência do relaxamento moral e jurídico".

    Fotos Marcos Tristão, Marcos de Paula/AE, André Coelho/Ag. O Globo e Genilson Araújo/Ag. O Globo
    A VIDA NO PRECIPÍCIO
    Os alagamentos no subúrbio do Rio (acima à esq.), a destruição de casas na Zona Sul (no centro) e carros empilhados no Maracanã (à esq.) foram cenas comuns na semana passada, mas nada se equiparou à tragédia nos morros: em favelas como a do Caramujo, em Niterói (ao lado), barracos desmoronaram.


    Palco de uma dramática avalanche que causou 27 mortes, fez até agora 200 desaparecidos e arrastou cinquenta dos pouco mais de 100 barracos, o Morro do Bumba, em Niterói, cidade vizinha ao Rio, é um caso emblemático de como o poder público não só é omisso em relação à proliferação das favelas como também pode ser decisivo para sua expansão. Fincados sobre um lixão desativado, cujos restos são até hoje aparentes e deixam no ar um permanente cheiro de podridão, os barracos começaram a brotar ali na década de 80, sem que nenhum governante fizesse objeção alguma. Ao contrário disso, os sucessivos prefeitos promoveram melhorias na área, proporcionando água encanada, energia elétrica e ruas asfaltadas, o que só fez atrair moradores. Trata-se ainda de um exemplo de completo descaso das autoridades com a flagrante precariedade dessas habitações. Encomendados pela própria prefeitura, dois relatórios técnicos (ambos solenemente engavetados) já haviam veementemente contraindicado a presença de casas naquele morro por duas razões: o lixo presente no subsolo tornava o terreno altamente suscetível a deslizamentos e o gás metano, proveniente da deterioração dos detritos, poderia, a qualquer momento, provocar uma explosão - algo que talvez tenha ocorrido na semana passada (veja no quadro abaixo). Num cenário de terra arrasada, os bombeiros tentam ainda resgatar por lá sobreviventes de um mar de lama e destroços. A cada corpo içado pelas escavadeiras, gente como o motorista Marco Antônio Caternol, 31 anos, expõe sua dor: "O aguaceiro levou minha casa e meu filho Caíque, de 6 anos. Não sei como será viver sem esse menino".
    Fabio Gonçalves/Ag. O Globo
    AVALANCHE EM ENDEREÇO NOBRE
    Deslizamento arrastou árvores, pedras e lama para os fundos de um edifício no Alto Leblon: apartamentos tiveram de ser interditados


    Décadas de irresponsabilidade e demagogia por parte de governantes foram determinantes para explicar o acelerado inchaço das favelas do Rio de Janeiro. Desde 1950, quando levas de nordestinos aportaram na cidade, a população nos morros cresceu a um ritmo de quatro vezes a do Rio como um todo - velocidade impressionante. Outras grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Brasília, também viram o surgimento de barracos, mas em nenhum outro lugar do país o populismo foi tão decisivo para que as favelas tomassem as dimensões de hoje. Nos anos 80, o governador Leonel Brizola chegou a incentivar abertamente a ocupação dos morros. Ali, fincava seus currais eleitorais, proibindo até, pasme-se, a entrada da polícia, um aval para o banditismo. "Favela não é problema, é solução", pregava o então vice-governador, Darcy Ribeiro. A coisa ganhou uma escala tal que agora existe uma bancada fluminense a serviço da favelização. Nada menos que treze dos 51 integrantes da Câmara de Vereadores e 21 dos setenta deputados mantêm centros sociais em favelas. Em troca de votos, eles prestam todo gênero de assistência aos moradores - de distribuição de dentaduras a atendimento médico. Quando algum governante lança a ideia de remover uma favela, esses políticos são os primeiros a fazer pressão contra. Resume o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Brasileiro: "Grassa nos morros do Rio a indústria da favelização, alimentada por políticos com o único interesse de ter nos barracos mais e mais pessoas dependentes deles".

    Fotos Rafael Andrade/Folhapress e Genilson Araújo/Ag. O Globo
    O SALDO DO DESCASO
    A Praça da Bandeira (à esq.), na Tijuca, registrou o pior de todos os alagamentos e deu um nó no trânsito da cidade, atrasando o socorro às vítimas em locais como o Morro dos Prazeres, uma das 179 favelas da capital com deslizamentos (à dir.): quantas tragédias mais ainda ocorrerão até que o Rio de Janeiro descubra suas fragilidades?


    As frágeis construções encravadas em encostas de declive acentuado evidentemente não estavam preparadas para resistir ao maior temporal da história do Rio de Janeiro desde 1912, ano em que o índice pluviométrico começou a ser medido. Pela última contagem dos mortos, essa tempestade ombreia com a de 1966, que fez da cidade uma praça de guerra - e também fez vítimas nos deslizamentos em favelas que, àquela altura, já estavam bem povoadas. A catástrofe da semana passada mostra que não houve progressos nos quarenta anos que separam as duas tormentas, mas apenas retrocessos, uma vez que o número de pessoas que vivem em encostas só aumentou. Sempre que chove forte, os barracos perigam desabar. Eles estão apoiados em uma base bastante instável do ponto de vista geológico: trata-se de uma camada de terra que não passa dos 2 metros de espessura e fica sobre rochas que, com o tempo, vão se despregando do maciço original. Uma vez encharcada de água, essa superfície facilmente desliza, como se viu nas favelas com mortos no último temporal. Define o geógrafo Marcelo Motta: "Terrenos assim são como bombas-relógio. Podem despencar a qualquer momento".

    Fotos Rafael Andrade/Folhapress, Marcos de Paula/AE e Fernando Souza/Ag.O Dia/AE
    OPERAÇÃO DE RESGATE
    No Morro dos Prazeres, o desespero de pessoas que procuram parentes e vizinhos na pilha de corpos (à esq.), o trabalho incessante dos bombeiros (no alto) e até moradores com enxadas e pás em busca de sobreviventes (à dir.): a prefeitura prometeu remover a favela


    Juntando-se a geologia dos morros à violência do aguaceiro, não havia chance para que as favelas saíssem ilesas. A fúria da tempestade, que desencadeou a série de 692 deslizamentos ao longo da semana só na cidade do Rio, explica-se por uma conjunção rara de três fatores meteorológicos. Primeiro, o Oceano Atlântico estava 1,5 grau acima da média desta época do ano, o que precipitou o aparecimento de uma gigantesca massa de ar quente e úmido. Uma vez no continente, essa massa se chocou com a mais intensa frente fria do ano, vinda do sul, provocando as fortes chuvas. Nessas condições, tudo indicava que o temporal duraria seis horas, mas ele acabou se estendendo por catorze horas seguidas, graças a uma terceira variável que complicou o cenário: na ocasião, ventos de até 60 quilômetros por hora formavam uma espécie de cortina de ar, impedindo que a frente fria seguisse rumo ao norte. Diz o meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: "As origens do temporal no Rio são bem semelhantes às da tempestade que assolou Santa Catarina, em 2008, mas sua intensidade é incomparável".

    Jadson Marques/AE
    FOI POR POUCO
    Sob os escombros da casa que ruiu, Carlos Eduardo dos Santos, 24 anos, conseguiu escapar com vida: o vizinho morreu tentando salvá-lo


    Os efeitos foram devastadores. Com a capital em estado de emergência, faltou luz em catorze bairros, uma espessa camada de lama e lixo encobriu várias ruas da Zona Sul e as principais avenidas ficaram bloqueadas. Em favelas como a dos Prazeres, a destruição se traduzia nos destroços de doze casebres engolidos por um deslizamento que deixou saldo de trinta mortes. Talvez uma das mais comoventes cenas produzidas pela tragédia tenha sido protagonizada por Walmir França da Mata, 50 anos, que perdeu o filho, Marcus Vinícius, de 8 anos. Com as duas pernas presas nos escombros da casa que desabou, o menino permaneceu vivo durante doze horas, período em que não parava de suplicar: "Pai, me tira logo daqui". Walmir, que ajudava os bombeiros na operação de resgate, renovava as esperanças. "Eu estive muito perto do meu filho, mas não consegui tirá-lo de lá", conta ele, que entrou em desespero ao testemunhar um novo desabamento, ao qual Marcus Vinícius não sobreviveria. Já com o corpo do menino no colo, seu pranto se misturava ao de vizinhos que também haviam assistido, de perto, à morte de familiares.

    Fotos Fernando Maia/Ag. O Globo e Eduardo Martino/Documentography
    NÁUFRAGOS NO GINÁSIO
    Às 17h30 de segunda-feira, a equipe de vôlei feminino sob o comando do treinador Bernardinho foi surpreendida, em pleno treino, por uma súbita enxurrada de água com lama que, em questão de minutos, inundou o Maracanãzinho, atingindo 1,5 metro de altura. O jeito foi correr para o 2º andar e ali pernoitar. Faminto, o grupo apelou a um amigo que morava por perto para que levasse pizza. "Eu me senti o próprio náufrago", disse o treinador. Só no dia seguinte, por volta das 11 horas, ele e as moças conseguiram deixar o ginásio.

    Severino Silva/Ag. O Dia/AE
    "PERDI MEU MENINO"
    Durante as doze horas em que tentou ajudar os bombeiros a resgatar o filho, Walmir França da Mata (no detalhe), 50 anos, manteve-se esperançoso. Com as pernas presas sob os escombros de uma casa que havia desabado no Morro dos Prazeres, Marcus Vinícius, de 8 anos (na foto ao lado com 6), não parava de suplicar por ajuda ao pai. Já de noite, veio um novo deslizamento, e a operação precisou ser interrompida. "O buraco em que ele estava ficou completamente soterrado. Naquele momento, entendi que nunca mais veria meu filho vivo", conta Walmir.


    O Rio, que durante toda a semana chocou o Brasil com imagens dos morros sob escombros, vê-se agora diante de uma questão premente e que jamais foi tratada com real seriedade: está bem claro que a situação das favelas é insustentável. O debate, até então, repousou sob a sombra da demagogia e dos interesses políticos. Diz o urbanista Sérgio Magalhães: "O primeiro tabu que precisa cair é o de que remover moradias é uma afronta". Nos casos em que os moradores chegam a correr risco de vida ou em que a existência de amplas áreas degradadas tem impacto econômico negativo para a cidade, esse tipo de ação, sim, se justifica. A ideia da remoção de favelas, no entanto, tornou-se maldita em decorrência das iniciativas encabeçadas pelo governador Carlos Lacerda, que, na década de 60, retirou moradores de doze favelas cariocas. Feita com truculência, a operação fracassou, uma vez que os novos conjuntos habitacionais para onde eles foram levados acabaram também se favelizando, abandonados à própria sorte pelo poder público. A experiência mostra que é justamente quando o estado se faz presente que essa política dá certo. Durante o governo de Nelson Mandela, na década de 90, nada menos que 5 milhões de pessoas foram removidas de favelas na África do Sul - 10% do total no país. Na Cidade do Cabo, elas foram reassentadas em áreas mais distantes do centro, porém dotadas de boa infraestrutura. O mercado imobiliário do centro, por sua vez, explodiu, e o comércio tornou-se vibrante como nunca.

    Dada a dimensão das favelas cariocas, que chegam a reunir dezenas de milhares de habitantes, restringir a discussão às remoções seria uma simplificação do problema. Existe um consenso de que há casos em que é mais fácil e barato urbanizá-las, de modo a integrar à economia da cidade as áreas em que viceja a informalidade. Afirma o urbanista Jonas Rabinovitch, conselheiro da Organização das Nações Unidas: "Em favelas como a Rocinha, o mais acertado a fazer é legalizar os imóveis e dotar esses locais com toda a infraestrutura urbana, para que deixem de estar à margem do estado e da lei". Contra as práticas ilegais que grassam nas favelas, como o tráfico de drogas e a extorsão de comerciantes por parte dos bandidos, não há outra saída senão, de novo, o estado fazer-se presente - algo que por décadas a fio simplesmente não ocorreu no Rio de Janeiro.

    Reginaldo Teixeira
    O RESGATE DE UM BEBÊ
    O velejador Torben Grael, 49 anos, acordou na madrugada de terça-feira com um estrondo seguido por gritos desesperados de socorro. Quando chegou à rua, viu um carro soterrado por um deslizamento da encosta que desabara em frente à sua casa, em Niterói. Ainda vivos estavam uma mulher e um bebê, que Grael conseguiu resgatar pela janela, com a ajuda dos vizinhos. O pai da criança, ao volante, morreu na hora. Torben presenciou um segundo desabamento, que pôs sua casa (à esq.) em situação de risco. "Não sei quando vou poder voltar para lá."


    O histórico descaso das autoridades com a questão conspirou para a proliferação dos barracos que, na semana passada, deslizavam morro abaixo. Um novo relatório do Tribunal de Contas da União chama atenção para o fato de que foram destinados ao Rio apenas 0,9% dos 143 milhões de reais que o governo federal reservou aos estados, em 2008, para obras de prevenção a desastres. Além de antigos gargalos de infraestrutura, como galerias pluviais obsoletas e insuficientes para dragar até a água de chuvas mais leves, falta à cidade, por exemplo, um radar meteorológico próprio, instrumento fundamental para prever a aproximação de tempestades e tomar as precauções necessárias. Tal serviço é feito hoje por um equipamento da Aeronáutica que fica na Serra de Petrópolis, fincado a 1 800 metros de altitude. Como o radar não consegue flagrar tormentas abaixo dessa altura, isso comprometeu a previsão da intensidade da chuva - que surpreendeu a população.

    Eduardo Martino/Documentography
    A FAMÍLIA SOB OS ESCOMBROS
    Quando chegou à favela do Bumba, em Niterói, o comerciante Júlio César Carvalho, 43 anos, espantou-se com o mar de lama, terra e lixo que tomava o terreno onde, minutos antes, havia casas. Acompanhado de vizinhos, ele muniu-se de pás e enxadas em busca do pai, da irmã e de uma sobrinha. O grupo passou a madrugada inteira escavando o terreno até com as mãos. A cada sobrevivente encontrado, Júlio César renovava as esperanças de achar sua família, o que jamais aconteceu. "Essa dor vai me acompanhar daqui para a frente."

    Eduardo Martino/Documentography
    "POR QUE ELE NÃO SAIU DE CASA?"
    Em frente a uma montanha de terra de onde escavadeiras retiravam corpos das vítimas do deslizamento no Morro do Bumba, o motorista Marco Antônio Caternol, de 31 anos, já não acreditava que encontraria o filho Caíque, de 6 anos. Na noite anterior, o menino jantava em casa, na companhia da avó, da mãe e do irmão mais novo, quando se ouviu um estrondo. Assustada, a mãe foi à rua com o caçula para ver o que havia acontecido - exato momento em que sua casa foi engolida pela avalanche, levando Caíque e a avó. "Sempre vou me perguntar: por que ele não saiu na hora certa?", diz o pai.


    Seus efeitos, no entanto, não seriam tão nefastos caso os barracos que desabaram, em flagrante situação de perigo, não estivessem ali. O mais recente relatório da prefeitura apontou trinta favelas sob alto risco de deslizamento. Espanta saber que apenas três das que registraram desabamentos no último temporal constavam da lista. A situação vai se perpetuando à custa de demagogia. Tentava justificar o prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, depois que o morro do Bumba virou um tobogã de terror: "Essas coisas são incontroláveis. A gente tem um povo pobre, e, para remover, é um drama". Drama é incentivar esse "povo pobre" a se equilibrar sobre bombas-relógio naturais em troca de servidão eleitoral e, em face da tragédia evitável, apenas resignar-se. Se é inimaginável esperar que os políticos fluminenses deixem de pensar apenas na próxima eleição para se preocuparem com a próxima geração, é uma obrigação exigir deles que, pelo menos, pensem na próxima estação de chuvas.

    Fotos Charles O'Rear/Corbis/Latinstock, Fernando Maia/Ag. O Globo e Agb Photo/Grupo Keystone
    UM EXEMPLO QUE VEM DE FORA
    Na Cidade do Cabo (no alto), um bem-sucedido programa de remoção de favelas manteve as encostas dos morros livres e valorizou o centro: a política habitacional de lá contrasta com a ausência de planejamento que contribuiu para o aumento das favelas em cidades como o Rio (à esq.) e Brasília (à dir.)



    Carlos Eduardo Folhapress

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    (*) Rio 40 Graus. Fernanda Abreu

    Rio 40 Graus..(2x)

    Rio 40 graus
    Cidade maravilha
    Purgatório da beleza
    E do caos...(2x)

    Capital do sangue quente
    Do Brasil
    Capital do sangue quente
    Do melhor e do pior
    Do Brasil...(2x)

    Cidade sangue quente
    Maravilha mutante...

    O Rio é uma cidade
    De cidades misturadas
    O Rio é uma cidade
    De cidades camufladas
    Com governos misturados
    Camuflados, paralelos
    Sorrateiros
    Ocultando comandos..."

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    ELEIÇÕES 2010 [In:] JOSÉ SERRA, CANDIDATO!!!

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    ÍNTEGRA DO DISCURSO EM QUE SERRA ADMITE QUE SERÁ CANDIDATO À PRESIDÊNCIA

    sábado, 10 de abril de 2010 | 11:57

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    Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida; falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no Brasil. E mostrar minha disposição de assumir esta caminhada. Uma caminhada que vai ser longa e difícil, mas que, com a ajuda de Deus e com a força do povo brasileiro, será com certeza vitoriosa.

    Alguns dias atrás, terminei meu discurso de despedida do Governo de São Paulo afirmando minha convicção de que o Brasil pode mais. Quatro palavras em meio a muitas outras. Mas que ganharam destaque porque traduzem, de maneira simples e direta, o sentimento de milhões de brasileiros: o de que o Brasil, de fato, pode mais. E é isto que está em jogo nesta hora crucial!

    Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas: retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o direito de votar para presidente, vivemos, hoje, num país sem censura e com uma imprensa livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação, melhorou a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no Brasil. Também conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos. Criamos uma agricultura mais forte, uma indústria eficiente e um sistema financeiro sólido. Fizemos o Sistema Único de Saúde, conseguimos colocar as crianças na escola, diminuímos a miséria, ampliamos o consumo e o crédito, principalmente para os brasileiros mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos orgulhar disso.

    Mas, se avançamos, também devemos admitir que ainda falta muito por fazer. E se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.

    Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los, sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.

    Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais.

    Governos, como as pessoas, têm que ter alma. E a alma que inspira nossas ações é a vontade de melhorar a vida das pessoas que dependem do estudo e do trabalho, da Saúde e da Segurança. Amparar os que estão desamparados.

    Sabem quantas pessoas com alguma deficiência física existem no Brasil? Mais de 20 milhões - a esmagadora maioria sem o conforto da acessibilidade aos equipamentos públicos e a um tratamento de reabilitação. Os governos, como as pessoas, têm que ser solidários com todos e principalmente com aqueles que são mais vulneráveis.

    Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos. Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas, dos jovens e dos idosos, dos pequenos e dos grandes empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado dos que produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e serviços essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento, a máquina de gerar empregos, consumo e riqueza.

    O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos.

    Ninguém deve esperar que joguemos estados do Norte contra estados do Sul, cidades grandes contra cidades pequenas, o urbano contra o rural, a indústria contra os serviços, o comércio contra a agricultura, azuis contra vermelhos, amarelos contra verdes. Pode ser engraçado no futebol. Mas não é quando se fala de um País. E é deplorável que haja gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil.

    Não aceito o raciocínio do “nós” contra “eles”. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. O Brasil tem grandes carências. Não pode perder energia com disputas entre brasileiros. Nunca será um país desenvolvido se não promover um equilíbrio maior entre suas regiões. Entre a nossa Amazônia, o Centro-Oeste e o Sudeste. Entre o Sul e o Nordeste. Por isso, conclamo: Vamos juntos. O Brasil pode mais. O desenvolvimento é uma escolha. E faremos essa escolha. Estamos preparados para isso.

    Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum.

    Na Constituinte fiz a emenda que permitiu criar o FAT, financiar e fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego - que hoje beneficia 10 milhões de trabalhadores. Todos os partidos e blocos a apoiaram. No ministério da Saúde do governo Fernando Henrique tomei a iniciativa de enviar ou refazer e impulsionar seis projetos de lei e uma emenda constitucional - a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde, a implantação dos genéricos, a proibição do fumo nos aviões e da propaganda de cigarros, a regulamentação dos planos de saúde, o combate à falsificação de remédios e a PEC 29, que vinculou recursos à Saúde nas três esferas da Federação - todos, sem exceção, aprovados pelos parlamentares do governo e da oposição. É assim que eu trabalho: somando e unindo, visando ao bem comum. Os membros do Congresso que estão me ouvindo, podem testemunhar: suas emendas ao orçamento da Saúde eram acolhidas pela qualidade, nunca devido à sua filiação partidária.

    Se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las ao diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em vez de hostilizá-las. Vamos valorizar o talento, a honestidade e o patriotismo em vez de indagar a filiação partidária.

    Minha história de vida e minhas convicções pessoais sempre estiveram comprometidas com a unidade do país e com a unidade do seu povo. Sou filho de imigrantes, morei e cresci num bairro de trabalhadores que vinham de todas as partes, da Europa, do Nordeste, do Sul. Todos em busca de oportunidade e de esperança.

    A liderança no movimento estudantil me fez conhecer e conviver com todo o Brasil logo ao final da minha adolescência. Aliás, na época, aprendi mesmo a fazer política no Rio, em Minas, na Bahia e em Pernambuco, aos 21 anos de idade. O longo exílio me levou sempre a enxergar e refletir sobre o nosso país como um todo.

    Minha história pessoal está diretamente vinculada à valorização do trabalho, à valorização do esforço, à valorização da dedicação. Lembro-me do meu pai, um modesto comerciante de frutas no mercado municipal: doze horas de jornada de trabalho nos dias úteis, dez horas no sábado, cinco horas aos domingos. Só não trabalhava no dia 1 de janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava de ganhar o dinheiro da nossa subsistência. Um homem austero, severo, digno. Seu exemplo me marcou na vida e na compreensão do que significa o amor familiar de um trabalhador: ele carregava caixas de frutas para que um dia eu pudesse carregar caixas de livros.

    E eu me esforço para tornar digno o trabalho de todo homem e mulher, do ser humano como ele foi. Porque vejo a imagem de meu pai em cada trabalhador. Eu a vi outro dia, na inauguração do Rodoanel, quando um dos operários fez questão de me mostrar com orgulho seu nome no mural que eu mandei fazer para exibir a identidade de todos os trabalhadores que fizeram aquela obra espetacular. Por que o mural? Por justo reconhecimento e porque eu sabia que despertaria neles o orgulho de quem sabe exercer a profissão. Um momento de revelação a si mesmos de que eles são os verdadeiros construtores nesta nação.

    Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e quando governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de verdade) à criançada da quarta série. Ia reencontrar-me comigo mesmo. Porque tudo o que eu sou aprendi em duas escolas: a escola pública e a escola da vida pública. Aliás, e isto é um perigo dizer, com freqüência uso senhas de computador baseadas no nome de minhas professoras no curso primário. E toda vez que escrevo lembro da sua fisionomia, da sua voz, do seu esforço, e até das broncas, de um puxão de orelhas, quando eu fazia alguma bagunça.

    Mas é por isso tudo que sempre lutei e luto tanto pela educação dos milhões de filhos do Brasil. No país com que sonho para os meus netos, o melhor caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa boa escola, e não a carteirinha de um partido político. E estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel. Serão necessários mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter essa nova Educação em que o filho do pobre freqüente uma escola tão boa quanto a do filho do rico. Esse é um compromisso.

    É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes. Para essa faixa de idade, embora não exclusivamente para ela, vamos turbinar o ensino técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é castigada pela falta de oportunidades de subir na vida. E vamos fazer de forma descentralizada, em parcerias com estados e municípios, o que garante uma vinculação entre as escolas técnicas e os mercados locais, onde os empregos são gerados. Ensino de qualidade e de custos moderados, que nos permitirá multiplicar por dois ou três o número de alunos no país inteiro, num período de governo. Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode mais.

    Podemos e devemos fazer mais pela saúde do nosso povo. O SUS foi um filho da Constituinte que nós consolidamos no governo passado, fortalecendo a integração entre União, Estados e Municípios; carreando mais recursos para o setor; reduzindo custos de medicamentos; enfrentando com sucesso a barreira das patentes, no Brasil e na Organização Mundial do Comércio; ampliando o sistema de atenção básica e o Programa Saúde da Família em todo o Brasil; prestigiando o setor filantrópico sério, com quem fizemos grandes parcerias, dos hospitais até a prevenção e promoção da Saúde, como a Pastoral da Criança; fazendo a melhor campanha contra a AIDS do mundo em desenvolvimento; organizando os mutirões; fazendo mais vacinações; ampliando a assistência às pessoas com deficiência; cerceando o abuso do incentivo ao cigarro e ao tabaco em geral. E muitas outras coisas mais. De fato, e mais pelo que aconteceu na primeira metade do governo, a Saúde estagnou ou avançou pouco. Mas a Saúde pode avançar muito mais. E nós sabemos como fazer isso acontecer.

    Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve assumir mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal nessa área. Tenho visto gente criticar o Estado Mínimo, o Estado Omisso. Concordo. Por isso mesmo, se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se omitir, é a segurança pública. As bases do crime organizado estão no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às autoridades federais . Ou o governo federal assume de vez, na prática, a coordenação efetiva dos esforços nacionalmente, ou o Brasil não tem como ganhar a guerra contra o crime e proteger nossa juventude.

    Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo tráfico e pela difusão do uso das drogas? As drogas são hoje uma praga nacional. E aqui também o Governo tem de investir em clínicas e programas de recuperação para quem precisa e não pode ser tolerante com traficantes da morte. Mais ainda se o narcotráfico se esconde atrás da ideologia ou da política. Os jovens são as grandes vítimas. Por isso mesmo, ações preventivas, educativas, repressivas e de assistência precisam ser combinadas com a expansão da qualificação profissional e a oferta de empregos.

    Uma coisa que precisa acabar é a falsa oposição entre construir escolas e construir presídios. Muitas vezes, essa é a conversa de quem não faz nem uma coisa nem outra. É verdade que nossos jovens necessitam de boas escolas e de bons empregos, mas se o indivíduo comete um crime ele deve ser punido. Existem propostas de impor penas mais duras aos criminosos. Não sou contra, mas talvez mais importante do que isso seja a garantia da punição. O problema principal no Brasil não são as penas supostamente leves. É a quase certeza da impunidade. Um país só tem mais chance de conseguir a paz quando existe a garantia de que a atitude criminosa não vai ficar sem castigo.

    Eu quero que meus netos cresçam num país em que as leis sejam aplicadas para todos. Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o prefeito, o governador e o presidente da República também tem essa obrigação. Em nosso país, nenhum brasileiro vai estar acima da lei, por mais poderoso que seja. Na Segurança e na Justiça, o Brasil também pode mais.

    Lembro que os investimentos governamentais no Brasil, como proporção do PIB, ainda são dos mais baixos do mundo em desenvolvimento. Isso compromete ou encarece a produção, as exportações e o comércio. Há uma quase unanimidade a respeito das carências da infra-estrutura brasileira: no geral, as estradas não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do caos, os portos, por onde passam nossas exportações e importações, há muito deixaram de atender as necessidades. Tem gente que vê essas carências apenas como um desconforto, um incômodo. Mas essa é uma visão errada. O PIB brasileiro poderia crescer bem mais se a infra-estrutura fosse adequada, se funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da população e da economia.

    Um exemplo simples: hoje, custa mais caro transportar uma tonelada de soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo. A conseqüência é menos dinheiro no bolso do produtor, menos investimento e menos riqueza no interior do Brasil. E sobretudo menos empregos.

    Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não podemos ter uma combinação perversa de falta de infra-estrutura, inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do déficit do balanço de pagamentos. Aliás, o valor de nossas exportações cresceu muito nesta década, devido à melhora dos preços e da demanda por nossas matérias primas. Mas vai ter de crescer mais. Temos de romper pontos de estrangulamento e atuar de forma mais agressiva na conquista de mercados. Vejam que dado impressionante: nos últimos anos, mais de 100 acordos de livre comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento poderoso de abertura de mercados. Pois o Brasil, junto com o MERCOSUL, assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou em vigência!

    Da mesma forma, precisamos tratar com mais seriedade a preservação do meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável. Repito aqui o que venho dizendo há anos: é possível, sim, fazer o país crescer e defender nosso meio ambiente, preservar as florestas, a qualidade do ar a contenção das emissões de gás carbônico. É dever urgente dar a todos os brasileiros saneamento básico, que também é meio ambiente. Água encanada de boa qualidade, esgoto coletado e tratado não são luxo. São essenciais. São Saúde. São cidadania. A economia verde é, ao contrário do que pensam alguns, uma possibilidade promissora para o Brasil. Temos muito por fazer e muito o que progredir, e vamos fazê-lo.

    Também não são incompatíveis a proteção do meio ambiente e o dinamismo extraordinário de nossa agricultura, que tem sido a galinha de ovos de ouro do desenvolvimento do país, produzindo as alimentos para nosso povo, salvando nossas contas externas, contribuindo para segurar a inflação e ainda gerar energia! Estou convencido disso e vamos provar o acerto dessa convicção na prática de governo. Sabem por quê? Porque sabemos como fazer e porque o Brasil pode mais!

    O Brasil está cada vez maior e mais forte. É uma voz ouvida com respeito e atenção. Vamos usar essa força para defender a autodeterminação dos povos e os direitos humanos, sem vacilações. Eu fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida. Para mim, direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome quando discordam do regime.

    Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é desafiador. A existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas, respeitadoras da Constituição e das leis foi uma conquista da Nova República. Precisamos mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas funções, na dissuasão de ameaças sem ter de recorrer diretamente ao uso da força e na contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país.

    Como falei no início, esta será uma caminhada longa e difícil. Mas manteremos nosso comportamento a favor do Brasil. Às provocações, vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.

    O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma “boquinha”; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida.

    Este é o povo que devemos mobilizar para a nossa luta; este é o povo que devemos convocar para a nossa caminhada; este é o povo que quer, porque assim deve ser, conservar as suas conquistas, mas que anseia mais. Porque o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais. E, por isso, tem de estar unido. O Brasil é um só.

    Pretendo apresentar ao Brasil minha história e minhas idéias. Minha biografia. Minhas crenças e meus valores. Meu entusiasmo e minha confiança. Minha experiência e minha vontade.

    Vou lhes contar uma coisa. Desde cedo, quando entrei na vida pública, descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo. É um sonho de produção e de criação. Aprendi desde cedo que servir é bom, nos faz felizes, porque nos dá o sentido maior de nossas existências, porque nos traz uma sensação de bem estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de fazer acontecer.

    O grande escritor mineiro Guimarães Rosa, escreveu: O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Concordo. É da coragem que a vida quer que nós precisamos agora.

    Coragem para fazer um projeto de País, com sonhos, convicções e com o apoio da maioria.

    Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha biografia, minha história política e com . esperança no nosso futuro. E determinado a fazer a minha parte para construir um Brasil melhor. Quero ser o presidente da união. Vamos juntos, brasileiros e brasileiras, porque o Brasil pode mais.

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