Nas “alegações finais” que levaram aos autos do mensalão, os advogados de Dirceu contestam a acusação de que ele foi o “chefe da quadrilha.”

Anotou-se na peça: “A prova judicial assegurou que José Dirceu se dedicava exclusivamente ao governo [Lula]…”

“…Não comandava os atos dos dirigentes do PT, não tinha controle nem ciência das atividades de Delúbio Soares.”

Juntando-se a defesa de Dirceu com a de Marcos Valério, chega-se a um quadro tisnado pela excentricidade: a corrupção acéfala, a máfia sem capo.

Em seu derradeiro arrazoado de defesa, Valério estranhou a ausência de Lula no rol de acusados do mensalão. Agora, Dirceu alega que tampouco ele deveria constar dos autos.

Na época em que estourou o escândalo, em 2005, Lula reivindicara para si o papel de cego atoleimado, o presidente que “não sabia”.

Quanto a Dirceu, pede para ser tratado como animal de uma velha piada. Na anedota, o dono de um circo falido é acossado por um credor português.

Sem alternativas, o proprietário do circo sugere: "Não tenho dinheiro, mas pode levar o leão".

Negócio fechado, o portuga decide passar o leão nos cobres. Para “melhorar” a aparência do animal, passa-lhe a máquina zero na cabeleira.

Sem juba, o leão vira um reles cachorro amarelo, insignificante, sem valor aparente.

Dá-se coisa semelhante com José Dirceu. Seus advogados como que lhe tosaram a juba.

Tentam converter Dirceu de atração principal do circo em cachorro amarelo.

No tempo em que Brasília ainda tentava fazer sentido, os valores pareciam mais nítidos.

Deus era Deus, o diabo era diabo, o PT era PT, o Delúbio era pau-mandado, o Lula era presidente e o Dirceu era primeiro-ministro.

Nas páginas do processo do STF, a nitidez perdeu a função. Nada é o que parece.

Não bastasse a ausência de Lula, Dirceu desce ao processo como o antilíder, uma espécie de sub-Delúbio.

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