A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.
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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).
"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).
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sexta-feira, junho 22, 2012
''PIPI-STOP''
CAI PRESIDENTE DO BANCO DO NORDESTE
INVESTIGADO PELO MP, PRESIDENTE DO BNB RENUNCIA |
Autor(es): agência o globo: |
O Globo - 21/06/2012 |
Jurandir Santiago é acusado de participar de desvio de R$ 3,1 milhões de verba para construir banheiros públicos no CE
Danilo Fariello
BRASÍLIA . O Banco do Nordeste (BNB), um dos principais instrumentos do governo federal para o desenvolvimento social da região, sofreu ontem um segundo abalo em menos de duas semanas. Jurandir Vieira Santiago renunciou ao cargo de presidente do banco, onde estava desde julho do ano passado, em meio a investigações do Ministério Público sobre sua responsabilidade no desvio de R$ 3,1 milhões de verba pública que seria usada para construção de banheiros públicos no interior do Ceará. Santiago era secretário de Estado no Ceará e assinou parte da liberação, para a cidade de Ipu, de verbas supostamente desviadas no evento conhecido como "escândalo dos banheiros".
Na semana passada, seu então chefe de gabinete, Robério Gress do Vale, havia sido afastado do banco depois que uma reportagem da revista "Época" apontou-o entre os investigados em um esquema de corrupção no banco que durou de 2009 a 2011. Robério teria favorecido, com facilitação de empréstimos, empresas de cunhados e amigos.
Santiago é ligado politicamente ao deputado federal José Guimarães (PT-CE). Em 2005, quando Guimarães era deputado estadual, um assessor seu foi preso em São Paulo com US$ 100 mil na cueca, dinheiro que também teria origem no BNB, segundo apurou inquérito na época. O episódio prejudicou ainda mais a situação de José Genoino, irmão de Guimarães e, na ocasião, presidente do PT, então envolvido com o mensalão.
Em entrevista ao portal G1, o advogado de Santiago, Hélio Leitão, afirmou em Fortaleza que a saída do seu cliente da presidência do BNB foi uma decisão particular, para "proteger a entidade e a família".
- Assim, ele terá mais tempo para preparar a defesa - disse o advogado ao portal.
O conselho de administração do BNB informou que substituiu dois diretores, Isidro Moraes de Siqueira e José Sydrião de Alencar Júnior, e transferiu outro, Stélio Gama Lyra Júnior, da diretoria administrativa para a de gestão. Assume a presidência interina do banco Paulo Sérgio Rebouças Ferraro, diretor de negócios.
Segundo nota do BNB, as alterações visam a "fortalecer a gestão do banco e o cumprimento de missões institucionais".
O Ministério da Fazenda participou da decisão sobre o BNB, uma vez que Dyogo Henrique de Oliveira, secretário-executivo adjunto do ministério, é presidente do conselho de administração do banco. Foi ao conselho que Santiago apresentou o pedido de renúncia.
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''BRASIL! MOSTRA A TUA CARA..." *
A lenda do intuitivo genial foi enterrada em cova rasa no jardim da mansão de Maluf
O INDISCRETO CHARME DA BURGUESIA
Tardes de consumo nada sustentável
Integrantes de delegações estrangeiras aproveitam as brechas no horário para ir ao shopping e Marcela Temer assume papel de anfitriã das primeiras-damas

http://oglobo.globo.com/rio20/tardes-de-consumo-nada-sustentavel-5282900
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COM AÇÚCAR, SEM AFETO
NAOURI, O NOVO DONO DO PÃO DE AÇÚCAR
QUEM É E O QUE PENSA O EMPRESÁRIO FRANCO-ARGELINO JEAN-CHARLES NAOURI, QUE ASSUME O CONTROLE DA MAIOR REDE DE VAREJO BRASILEIRA, EM 22 DE JUNHO. |
Autor(es): Ralphe MANZONI Jr. |
Isto é Dinheiro - 18/06/2012 |
Foram 2.607 dias, ou longos sete anos, um mês e 18 dias. Uma trajetória que começou em 4 de maio de 2005, quando o empresário Jean-Charles Naouri, presidente da rede varejista francesa Casino, assinou um cheque de US$ 900 milhões, o equivalente a R$ 2 bilhões na época, elevando sua participação para 50% no Grupo Pão de Açúcar (GPA), do empresário Abilio Diniz. Na sexta-feira, 22 de junho, Naouri, 63 anos, deve virar uma página do varejo brasileiro e, provavelmente, da história da família Diniz, que controlou a empresa fundada pelo imigrante português Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio, desde 1948.
Se tudo ocorrer conforme o enredo previsto – e nada indica, até agora, que isso deva ser alterado – Naouri, ou seu representante legal, chegará às 9 horas, à sede do Grupo Pão de Açúcar, na avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo. Nessa ocasião, Naouri será eleito o presidente do conselho da Wilkes, a holding que controla o Pão de Açúcar, no lugar de Diniz. Duas horas mais tarde, os conselheiros da Wilkes terão uma reunião, a primeira desde que a holding foi criada, em 2006. Logo após o almoço, às 14 horas, é a vez do conselho do Pão de Açúcar se reunir. O encontro nomeará três novos conselheiros – Eleazar de Carvalho Filho (ex-Unibanco, UBS e BNDES), Luiz Augusto de Castro Neves (ex-embaixador) e Roberto Lima (ex-Vivo e Credicard).
Com essa nova composição, o Casino passará a contar com oito conselheiros no board da rede varejista. Diniz ficará com três e manterá o cargo de presidente. Outros quatro serão independentes. Esse é o rito que marcará a transição de controle do Grupo Pão de Açúcar, a maior rede varejista brasileira, que fatura R$ 52,6 bilhões e emprega 149 mil pessoas. Há ainda outras formalidades a ser cumpridas. A principal delas é a venda, por Diniz, de um lote de um milhão de ações ordinárias do GPA, o equivalente a 2,4% do capital da Wilkes. O empresário brasileiro tem dois meses para concluir essa operação, mas deverá finalizá-la logo na semana seguinte à reunião do conselho do Pão de Açúcar.
Se não o fizer, o Casino tem o direito de comprar uma ação por R$ 1. Para pessoas próximas, Diniz tem dito que honrará o contrato assinado com Naouri, em 2005. Nos bastidores, no entanto, advogados estudam medidas preventivas, na Justiça, para proteger a companhia – nenhuma delas, no entanto, deverá impedir que o Casino seja o controlador da companhia brasileira, segundo fontes ouvidas por DINHEIRO. A transferência de controle, no entanto, não encerra uma disputa ruidosa e cheia de mágoas entre Diniz e Naouri, que tiveram uma relação harmônica por pelo menos 12 anos. A sociedade começou em 1999, quando o Casino comprou uma participação minoritária do Pão de Açúcar por R$ 1,5 bilhão.
Seis anos depois, a rede francesa elevou sua fatia na companhia brasileira, um acordo foi saudado com grande euforia pelas duas partes na ocasião. Segundo as cláusulas do contrato, os dois teriam um controle compartilhado até 2012, apesar de Diniz manter apenas 21% do capital do grupo. "O que eles estão comprando é o meu passe", afirmou Diniz, em uma entrevista, na época. O empresário brasileiro tinha total autonomia na gestão e nas estratégias de aquisição do Pão de Açúcar. Os bons resultados credenciaram essa parceria franco-brasileira. Tanto que o valor de mercado da empresa passou de R$ 5,6 bilhões, em maio de 2005, para R$ 23,5 bilhões, em maio deste ano.
Abilio Diniz: ele passará o controle ao Casino, mas seus advogados
estudam medidas preventivas para proteger a empresa.
Hoje, está na casa de R$ 19,6 bilhões. O clima amistoso entre ambos, no entanto, desmoronou em junho do ano passado, quando Diniz anunciou a proposta de fusão com o Carrefour. O acordo foi entendido por Naouri como uma manobra para evitar que o Casino assumisse o controle da companhia em 2012. Bombardeada pelo francês, a fusão malogrou. O resto é história. Desde então, os dois empresários têm adotado uma atitude de distância e, principalmente, de desconfiança mútua. A última vez que conversaram foi em 29 de fevereiro deste ano, em Paris, no QG do Casino, no número 83 da Faubourg de Saint-Honoré, uma avenida nobre da capital francesa. Na ocasião, quase houve uma reconciliação.
Mas, logo depois, ficou claro que as feridas abertas entre os dois dificilmente seriam cicatrizadas. As negociações para uma saída de Diniz da empresa estão atualmente paradas – a proposta mais viável era ele ficar com a Viavarejo, o braço do grupo na área de eletroeletrônicos, que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, mais uma parte em dinheiro. Há quatro semanas, Pérsio de Souza, da Estáter, que representa Diniz, e Ricardo Lacerda, da BR Partners, do lado de Naouri, não se encontram. "A impressão que dá é que eles empurraram com a barriga", diz uma fonte ligada a Diniz. Do lado do Casino, a opinião é inversa.
"O Casino não está obrigado a aceitar qualquer coisa só porque o Abilio pediu", afirma outra fonte próxima a Naouri. Acostumado a enfrentar diversas batalhas em sua trajetória como empresário – Diniz teve quedas de braço com os irmãos pelo Pão de Açúcar na década de 1980 e com a família Klein, quando comprou a Casas Bahia, em 2010 – ele, desta vez, está enfrentando um adversário incomum. Nascido na Argélia, Naouri é o primogênito de uma professora de inglês e um médico francês. Desde cedo, mostrou uma inteligência acima do normal. Aos 17 anos, foi para Paris estudar na École Normale Supérieure, um centro de excelência francês.
Sua formação inclui mestrado em matemática pela mesma escola, aos 20 anos. Mais tarde, graduou-se em administração na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. É leitor voraz de filósofos gregos, especialmente Platão, que lê no original. Sua formação de negócios o levou a assumir, em 1984, o posto de chefe do gabinete do ministro socialista da Economia e Finanças, Pierre Bérégovoy. O cargo lhe garantiu uma valiosa agenda de contatos, entre eles David Rothschild, um dos herdeiros do banco que leva seu sobrenome. Com Rothschild criou o fundo Euris, com o qual comprou em 1991, a pequena Rallye, em dificuldades financeiras na ocasião, entrando no mercado de varejo.
Na vida pessoal, Naouri é extremamente discreto. Tanto que quando nasceu seu filho do segundo casamento foi trabalhar normalmente. Só informou a equipe do nascimento da criança 15 dias depois. É visto com frequência com o seu indefectível terno preto. Não gosta de piadas e sorri com parcimônia. Seu império na França foi construído à base de negociações com empresas de origem familiar – e muita polêmica. Alguns de seus sócios ficaram para trás, como o caso dos Baud, ex-donos do Franprix e do Leader Price. Outros continuam parceiros, a exemplo dos Guichard, do Casino. Há disputas ainda não resolvidas, como com a família Moulin, fundadora da Galeries Lafayette, dona do supermercado Monoprix (saiba mais no quadro ao final da reportagem).
Naouri é reconhecido também por ser um CEO implacável e autoritário, que coloca extrema pressão sob seus comandados. Se não estão dando resultado, demite-os. Se o enfrentam, também podem perder o emprego. Foi assim com Georges Plassat, ex-presidente do Casino, em 1997, e que hoje comanda o rival Carrefour. Ele se opôs a uma proposta hostil de compra. No meio empresarial, alguns o consideram um gênio. Uma de suas qualidades é a forma minuciosa com que analisa os contratos. Dizem que é viciado em detalhes. Antes da assinatura, passa as noites examinando todas as opções. Por isso, quando há conflitos, sabe exatamente como agir. Tem fama de inflexível.
Desde que entrou em conflito com Diniz, por exemplo, ele não mudou um milímetro sua posição. "O Casino vai assumir o controle do Pão de Açúcar em 22 de junho", repetiu ele, como um mantra, a todos os interlocutores que o questionaram, inclusive em entrevista à DINHEIRO, em julho do ano passado. Para Naouri, trata-se de um direito que lhe está assegurado em contrato e que fez por merecer. "Em 1999, o Grupo Pão de Açúcar era um negócio medíocre, que saía de uma quase falência", afirmou. "Quando Diniz procurou investidores no mundo inteiro, eu fui aquele que aceitou." O que Naouri fará após 22 de junho, no entanto, é ainda uma incógnita. Pelo menos para Diniz.
O empresário brasileiro tem dito a assessores próximos que está muito preocupado com a estratégia de crescimento do Pão de Açúcar. Em sua visão, a fusão com o Carrefour, como fora proposto no ano passado, era o negócio certo para avançar não só no Brasil, como também internacionalmente. "Cansei de disputar o Campeonato Brasileiro", afirmou Diniz a um conselheiro da empresa. "Agora, eu quero a Liga Mundial." Quando é instigado a debater o assunto, ele tem na ponta da língua todas as informações que comprovariam que seria um bom negócio. Um exemplo das divergências que podem ocorrer a partir de agora aconteceu no fim de maio. O Pão de Açúcar havia acertado a compra da rede Tenda Atacado, dona de 17 lojas e faturamento de R$ 1,6 bilhão.
Michael Klein: ele contratou assessores financeiros para fazer
uma proposta pela Viavarejo.
Abilio era favorável ao negócio. O Casino, indeciso, deixou a decisão para a diretoria executiva, que não levou a transação adiante, ao ver que os dois principais acionistas não tinham uma posição clara sobre o negócio, segundo uma fonte próxima a Diniz. O Casino conta uma história diferente e diz que não vetou o negócio. Apesar dos receios de Diniz sobre a estratégia de crescimento do Pão de Açúcar, o Casino, toda vez que se manifesta publicamente, elogia a gestão realizada até agora pelos executivos da companhia. "Não há nenhuma razão para Naouri tirar o Enéas Pestana da presidência do Pão de Açúcar", diz uma fonte ligada ao empresário francês. "O plano que será tocado é o mesmo aprovado no ano passado e que contempla o período de 2012 a 2014."
O combinado é investir R$ 1,8 bilhão neste ano. Na área alimentar, o objetivo é abrir até 80 lojas. Na Viavarejo, a estimativa é de 60 novos pontos de venda. O faturamento bruto deve atingir R$ 57,2 bilhões, alta de quase 9%. "O Brasil é muito importante para o Casino", afirma essa fonte. "Naouri não fará nada para prejudicar o crescimento." É fácil comprovar a importância do Brasil para o Casino, que faturou € 34,3 bilhões em 2011. As vendas na França são responsáveis por 55% do desempenho global. Ao assumir o controle do Pão de Açúcar, Naouri poderá consolidar integralmente o resultado em seu balanço. A operação brasileira passará então a ser ligeiramente superior em receita à da França.
A profissão de fé de Naouri no Brasil, porém, não tem sido suficiente para tranquilizar Diniz. Ele tem dúvidas, muitas dúvidas. A principal delas é qual será o seu papel na nova companhia controlada pelo Casino. Como presidente do conselho do Pão de Açúcar, poderá ajudar a definir a estratégia do grupo, mas estará em minoria. Teme, neste caso, se transformar numa espécie de "rainha da Inglaterra", uma posição que não seria tolerada por um empresário autoconfiante e que acredita que está longe da aposentadoria – aos 75 anos, ele diz estar em plena forma física e intelectual. O empresário Michael Klein, antigo controlador da Casas Bahia, também tem um papel decisivo nessa disputa.
Ele poderá fazer uma oferta pela Viavarejo após 22 de junho. Para isso, teria contratado o Citigroup e a Arion Capital como assessores. "Vamos aguardar a assembleia para definir os rumos dos negócios de minha família", disse Klein à DINHEIRO. Quanto a Diniz , a transferência de controle ao Casino não significa que as negociações para sua saída estejam encerradas. "Nunca trabalhamos com a faca no pescoço em razão de 22 de junho", diz uma fonte. Uma coisa, no entanto, já está definida. Como tem feito nos últimos 30 anos, quando assumiu uma posição de liderança no Pão de Açúcar, ele pretende acordar cedo, fazer exercícios e ir até a sede da empresa, onde ocupa uma mesa em uma sala sem divisórias, em que está localizada toda a diretoria executiva da rede varejista.
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TODOS OS HOMENS
A GUERRA DE ZÉ DIRCEU
DIRCEU ARMA SEU BUNKER |
Autor(es): Sérgio Pardellas |
Isto é - 18/06/2012 |
o ex-ministro contrata um batalhão de advogados e assessores, vai municiar as redes sociais e articula manifestações de apoio para enfrentar o julgamento no stf
APELO ÀS RUAS
No sábado 2, trajando blazer preto e camisa azul clara, o ex-ministro José Dirceu entabulou uma conversa ao pé do ouvido com o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP). O bate-papo aconteceu minutos antes do pré-lançamento de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Dirceu deixava claro para o deputado, que é compadre do ex-presidente Lula, seu estado de ânimo para encarar o julgamento do mensalão no STF, onde ele é acusado por formação de quadrilha e corrupção ativa. "Se eu morrer, será lutando", disse o ex-ministro. A expressão heróica utilizada por José Dirceu significa que ele está trabalhando duro para enfrentar o julgamento marcado para começar no dia 1º de agosto. Desde maio, ele prepara um arsenal pesado para atravessar o que chama de "um dos momentos mais críticos" de sua trajetória política. Para não ser condenado a até 12 anos de prisão, e acabar alijado definitivamente da vida pública, o homem que um dia presidiu o PT e foi o principal ministro do governo Lula montou um bunker de assessores e advogados, investiu na contratação de uma empresa especializada em redes sociais, passou a articular manifestações de apoio com sindicalistas, intelectuais e artistas e se reaproximou de organizações estudantis. "Você fala "oi" para o Zé e ele fala em julgamento", contou à ISTOÉ o deputado Devanir. "É um projeto legítimo dele, tentar mobilizar pessoas e angariar apoios".
Quem comanda a defesa de Dirceu é José Luiz Oliveira Lima, dono de um escritório com 11 advogados, localizado no 32º andar do prestigiado Edifício 50, na Avenida São Luiz, em São Paulo. Aos 45 anos, Juca, como gosta de ser chamado, especializou-se em Direito Penal, especialmente em delitos tributários. Já defendeu o banqueiro Daniel Dantas, acusado de lavagem de dinheiro e crime financeiro. Também teve entre seus clientes famosos o ex-banqueiro italiano Salvatore Cacciola. Embora esteja ao lado de Dirceu desde 2005, Juca pretende, com a iminência do julgamento, intensificar seu trabalho. "A partir de agosto, terei de ficar mais tempo em Brasília", contou à ISTOÉ. O advogado diz estar seguro de que não há provas suficientes para condenar seu cliente. "As alegações finais apresentadas pelo Ministério Público nada mais são do que uma peça de ficção, pois em nenhum momento apontam de maneira concreta, baseada em provas, os motivos que justificariam a condenação do ex-ministro", defende o advogado.
Para espalhar essas ideias da defesa pelo País, José Dirceu age em várias frentes. Uma das batalhas acontecerá nas redes de relacionamento. Ele contratou uma firma de ativistas digitais, a Interagentes, que está encarregada de disseminar pela internet argumentos por sua absolvição, tentando conquistar formadores de opinião. Velha conhecida das correntes de esquerda, a Interagentes já fez trabalhos para o PT e se compromete a travar uma "guerrilha virtual" por intermédio do twitter e do facebook. A frente de comunicação foi reforçada com a contratação do jornalista Luiz Fernando Rila, que se licenciou da empresa FSB para assessorar exclusivamente o ex-ministro durante o julgamento do mensalão. Desde o fim do último mês, Rila tem feito a "ponte" de José Dirceu com a imprensa. Ao seu lado, trabalha Edmilson Machado, afastado da empresa Máquina da Notícia para dedicar-se a Dirceu. Os dois unem-se a Aristeu Moreira, responsável há dois anos pelo blog do ex-ministro. Machado acompanha o noticiário e organiza os discursos do ex-ministro. Caberá a ele também coordenar as redes sociais. "Faremos uma disseminação de conteúdo", diz Machado.
Uma das primeiras tarefas da nova equipe contratada pelo petista foi estreitar as relações de Dirceu com sindicalistas, artistas, intelectuais e organizações estudantis. Nos próximos dias, Dirceu participará de um encontro no Rio de Janeiro com intelectuais e gente do meio artístico. O evento é organizado pelo produtor cinematográfico, Luiz Carlos Barreto, amigo de longa data de Dirceu, e por Flora Gil, mulher do cantor e ex-ministro Gilberto Gil. O ex-ministro pretende transformar a reunião num ato público de apoio, insistindo na tese de que é alvo de um processo político e não jurídico. O discurso é antigo, mas passará a ser entoado com mais força com a proximidade do julgamento no STF. Os convidados ainda receberão um CD contendo o resumo das acusações, provas produzidas e argumentos da defesa de José Dirceu no processo. Outra reunião, prevista para ocorrer no próximo mês, está sendo articulada a pedido de Dirceu com a "turma de Ibiúna", composta por militantes que foram presos juntos com ele durante o 30º Congresso da UNE em 1968, em Ibiúna, cidade da região metropolitana de São Paulo. "Não sou PT, sou amigo do Zé", justificou o médico homeopata, Luiz Bettarello, um dos integrantes da turma. "Vamos nos solidarizar e buscar ampliar apoio". Bettarello diz acreditar na inocência do amigo. "Não há provas contra ele", defende.
"A gente dá oi pro Zé e o Zé já fala em jugamento"
Devanir Ribeiro, deputado federal pelo PT-SP
A estratégia de convocar militantes para pressionar os ministros do STF vem sendo discutida por Dirceu desde o último mês em churrascos com amigos na sua casa em Vinhedo. A primeira incursão pública aconteceu no último dia 9, durante o 16º Congresso Nacional da União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Para uma inflamada platéia, Dirceu conclamou os estudantes a irem às ruas defendê-lo no que chamou de "batalha final". "Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. Preciso do apoio de vocês", discursou Dirceu, aplaudido pelos 1.100 estudantes que lotaram o auditório da Uerj. Apesar dos aplausos, a entidade, no entanto, não decidiu aderir totalmente, como constatou ISTOÉ. O presidente da UJS disse que a entidade "ainda irá deliberar" sobre o assunto. "A União não decidiu se fará mobilizações, mas uma parcela considerável da juventude apóia José Dirceu e nutre simpatia pela sua trajetória no movimento estudantil", ponderou André Tokarski.
De maneira mais discreta, o petista já havia pregado a mobilização em favor de sua absolvição no STF em pelo menos outras três reuniões. Em Porto Alegre, há duas semanas, ao lado de integrantes do diretório nacional do PT, e em Brasília e no Rio de Janeiro, durante congresso da CUT. Como contou um sindicalista ligado aos bancários que participou de uma dessas reuniões, Dirceu prega que o caso do mensalão "não passa de uma luta por espaço político" e que os petistas não podem "baixar a guarda". Em um seminário realizado pela turma de Direito da USP, do Largo São Francisco, no dia 30 de maio, coordenado pelo jurista Dalmo Dallari, o tema "influência da mídia nos julgamentos" foi abordado e o evento acabou se transformando num ato de apoio a Dirceu, que, por problemas de agenda, não esteve presente. Por intermédio de sua assessoria, porém, Dirceu negou que tivesse organizado o seminário. Ele também nega que os atos de apoio, ainda por vir, sejam parte integrante de sua estratégia para escapar da condenação.
As negativas se explicam. Nos últimos dias, Dirceu foi aconselhado por assessores a evitar, por ora, o tema manifestações públicas, devido à repercussão negativa já provocada pelo discurso incendiário feito para os estudantes. A agenda dos próximos encontros está mantida, mas os eventos serão tratados como discretos e reservados. "A repercussão do evento da Juventude Socialista acabou sendo muito ruim", admite um petista ligado ao ex-ministro. A história, inclusive, ensina que convocações desse porte podem sair de controle e até se tornarem um tiro no pé. Em 1992, o então presidente da República Fernando Collor de Mello, enfrentando as acusações que levariam a seu impeachment, conclamou a população a sair às ruas vestida de verde e amarelo, em sinal de apoio. O que se viu, no entanto, foi justamente o contrário: a maioria dos brasileiros preferiu o preto, como forma de protesto. A prudência do PT também é motivada pela constatação de que, embora o ex-ministro mantenha grande a influência na cúpula petista, ele não controla mais a máquina partidária como antes. Dirceu, com seu estilo centralizador, deixou ressentimentos dentro do PT e não teria mais condições de arrastar às ruas um contingente expressivo de militantes leais. O assunto é evitado pelos cardeais petistas. "Não penso nada a respeito de qualquer tipo de pressão que o Zé Dirceu possa fazer. Na verdade, prefiro mesmo é ficar longe desse assunto", esquiva-se o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP).
A própria linha de defesa de Dirceu também provocou insatisfação, principalmente entre petistas ligados aos demais réus do mensalão. Nas alegações finais de um documento de 160 páginas produzido no final do ano passado, José Dirceu afirma que, depois de ter virado ministro, afastou-se da gestão do PT, o que, portanto, o livra de qualquer responsabilidade pelo que fez o partido. Com os argumentos para negação de autoria, a defesa do ex- ministro repassa a culpa pelo que a Procuradoria da República chamou de "compra sistemática de apoio de deputados federais ao governo Lula", para o colo do ex-presidente da legenda, José Genoino, e do ex-tesoureiro Delúbio Soares. "A defesa jogou contra os outros petistas envolvidos no processo e por isso não há disposição de ajudá-lo agora", reconhece o advogado de um dos mensaleiros acusados. Ao que parece, somente os réus unidos seriam capazes de encher vários ônibus de militantes e colocá-los em frente ao STF, como ameaçou Dirceu no comício para os estudantes.
CHURRASCOSDirceu definiu a linha de sua defesa em reuniões
com amigos em sua casa em Vinhedo
Apesar de constrangimentos nas bases, Dirceu ainda tem muitos figurões do partido dispostos a brigar por ele e exercerem pressão nos bastidores. Há duas semanas, por exemplo, os deputados federais petistas Odair Cunha (MG) e Paulo Teixeira (SP), se reuniram com o ministro do STF Dias Toffolli, que foi advogado do PT e namora Roberta Maria Rangel, defensora de três acusados do mensalão. No partido, Paulo Teixeira é o encarregado de fazer a conexão entre os acusados, os advogados e os ministros do tribunal. Toffolli tem sido procurado por representantes do PT pedindo que ele participe do julgamento, embora a maioria dos ministros defenda, reservadamente, que ele se declare impedido de julgar os ex-colegas. Na reunião com os dois deputados, Toffolli pediu para um assessor sair da sala. Teixeira confirmou a conversa à ISTOÉ. O petista nega, porém, que ele tenha marcado a audiência a pedido de mensaleiros ou mesmo de José Dirceu. "Fui tratar de questões minhas. Até porque o Dirceu não precisa de mim para pedir nada ao Toffoli. Seria como colocar um intermediário para falar com um filho", disse Teixeira. A confirmação do início do julgamento pelo STF desagradou ao PT. O partido teme que, no calor da campanha eleitoral, o mensalão torne-se combustível para a oposição e, conseqüentemente, mais desgaste para os acusados. "Já imaginávamos que ia ter pressão, mas não que segmentos do Supremo seriam tão suscetíveis assim. Aqui tem ministro do Supremo com vocação para pop star", criticou o deputado André Vargas (PR), Secretário de Comunicação do PT.
"O juiz está acima das manifestações"
Marco Aurélio Mello, ministro do STF
No STF, alguns ministros responsáveis por julgar o processo insistem em minimizar as pressões. "É legitimo fazer pressões sejam elas quais forem, de rua ou de bastidores. Juiz está acima dessas manifestações", diz o ministro Marco Aurélio Mello. "O STF não marcou a data do mensalão por pressão pública. O STF não precisa de nenhuma pressão para cumprir o dever constitucional de julgar os processos que lhe são entregues", afirmou o presidente do tribunal, ministro Carlos Ayres Britto. Questionado sobre a convocação de Dirceu às massas, Marco Aurélio alega que movimentos semelhantes foram registrados também quando a Corte julgou a legalidade das pesquisas com células-tronco, atraindo o barulho de manifestantes contrários ou favoráveis à lei na porta do STF. A pretensão dos ministros de suavizar o clima das pressões é compreensível, embora eles certamente saibam que a comparação não é perfeita. As manifestações a que Mello se refere diziam respeito a interesses legais de determinados grupos sociais, envolvendo pesquisa científica e princípios religiosos. Já no caso do mensalão, seriam manifestações de forte cunho político, articuladas por interesses próximos a dois outros poderes da República. E sobre uma acusação de crime.
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''TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE'' *
Palmas pra eles!
Autor(es): Daniel Pereira e Adriano Ceolin |
Veja - 18/06/2012 |
A CPI do Cachoeira decidiu que, por enquanto, não vai convocar para depor o dono do grupo Delta. Isso depois de ele ter ameaçado revelar segredos que envolvem outras empreiteiras com doações clandestinas a políticos
A foto que ilustra essa página sugere ao leitor mais desavisado que a CPI do Cachoeira desvendou um dos mais intrincados mistérios sobre as relações heterodoxas do contraventor Carlos Augusto Ramos com autoridades públicas, políticos empreiteiras aquinhoadas com contratos milionários em órgãos oficiais. Mas os sorrisos e os aplausos de alguns deputados e senadores não refletem nem de longe o bom andamento dos trabalhos da comissão — pelo contrário proclamam sua paralisia e a falta de disposição dos parlamentares para investigar um esquema de corrupção com potencial para manchar boa parte do espectro partidário do país. Essa abulia investigativa ficou clara, mais uma vez na semana passada. Convocados a prestar esclarecimentos sobre indícios de envolvimento de suas administrações com a máfia da jogatina, o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, e o do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, ambos investigados pelo Ministério Público, foram absolvidos sem sobressaltos pelo plenário. Saíram das audiências "maiores" do que quando entraram, segundo um espantoso consenso. Daí a alegria incontida de seus correligionários e das claques levadas ao Congresso. Palmas e mais palmas!
Mas há outro motivo para o júbilo da maioria dos parlamentares. A CPI rechaçou a convocação de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, empreiteira que se tornou a principal prestadora de serviços à União no governo Lula. Negou-se a ouvi-lo menos de dois dias depois de a Controladoria-Geral da União (CGU) ter declarado a empreiteira inidônea — o que a impede de fechar novos contratos com o poder público — ao atestar que ela pagara propina para obter obras no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A negativa da comissão soa a um tremendo contrassenso — e é. Mas tem explicação. No mesmo dia em que a CGU anunciou a punição à Delta, Cavendish esteve em Brasília. Numa conversa com um parlamentar de quem é amigo, ele disse que não apenas a Delta, mas a maioria das grandes empreiteiras paga propina a servidores públicos e políticos em troca de obras e aditivos contratuais. Cavendish afirmou ainda que a Delta adotou o mesmo sistema que já era usado pelas outras empreiteiras: para dificultar o rastreamento da propina, repassava os recursos a empresas-laranja, que, posteriormente, entregavam o pedágio a quem de direito.
Sentindo-se injustiçado por ser o único a expiar os pecados em público, Cavendish apresentou ao parlamentar um conjunto de empresas-laranja que serviriam à Delta e às concorrentes. Ele nominou sete empresas das áreas de engenharia e terraplenagem. Todas atenderiam às empreiteiras de modo geral, repassando recursos destas a autoridades que facilitam a obtenção de contratos em órgãos públicos. Todas funcionam em São Paulo e têm como proprietário o empresário Adir Assad, apesar de estarem em nome de pessoas como o técnico em refrigeração Jucilei Lima dos Santos e de Honorina Lopes, sua mulher, ambos encarnando o papel daquilo que os manuais de corrupção classificam como laranja. Cavendish conhece como poucos Adir Assad — e os serviços prestados por ele. Há duas semanas, VEJA revelou que a Delta repassou 115 milhões de reais a empresas-laranja. Do total, 47,8 milhões abasteceram as contas da Legend Engenheiros Associados, da Rock Star Marketing e da S.M. Terraplanagem, que também são de propriedade de Adir Assad. As sete novas empresas de engenharia e de terraplenagem, segundo Cavendish, fariam parte do mesmo laranjal a serviço da Delta e também de outras grandes empreiteiras do país.
O parlamentar que conversou com Cavendish passou o relato adiante. Foi como se acendesse um rastilho de pólvora que percorreu as bancadas do PMDB, PP, PR e PT. O recado foi entendido como um pedido de solidariedade e, claro, como uma ameaça velada, destinada a trazer novas empresas e parlamentares para o centro da investigação. "Está claro que convocar o Cavendish é trazer para a CPI todas as empreiteiras", diz um graduado petista que votou contra a convocação do empreiteiro. Só uma investigação acurada sobre a movimentação financeira das empresas-laranja revelará se Cavendish blefa ou fala a verdade. O fato é que, na semana passada, o empresário foi blindado apesar da fartura de indícios que pesam contra ele. Além do relatório do Coaf, a própria CPI já detectou que houve grande quantidade de saques em dinheiro, às vésperas das eleições, nas tais empresas-laranja abastecidas pela Delta. Uma planilha em poder da comissão também revela que contas da empreiteira que recebiam os recursos federais foram as mesmas que transferiram dinheiro para uma empresa-laranja sediada em Brasília, agraciada com 29 milhões de reais. Os parlamentares de oposição acreditam que encontraram o caixa usado para subornar funcionários; do governo federal.
O deputado Miro Teixeira (PD lembrou no plenário da CPI o célebre segredo de Cavendish para transformar a Delta em campeã de verbas recebidas da União. Conforme revelado por Veja, o empreiteiro disse que corrompia poderosos para conquistar contratos. Um senador da República custaria 6 milhões de reais. "Se eu botar 30 milhões de reais nas mãos de políticos, sou convidado para coisas para c...", afirmou Cavendish a dois ex-sócios numa conversa gravada. Já naquela época, o empresário prescrevia, segundo os ex-sócios, o uso de notas frias para justificar a saída do dinheiro que remunerava políticos e servidores que abriam o cofres da administração pública. A CPI desistiu de votar a convocação de Cavendish por 16 votos a 13. Prevaleceu a maioria formada por aquilo que Miro chamou de "tropa do cheque" - pressão cunhada um dia antes, num ato falho, pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF). A tropa pró-Cavendish foi integrada pelos parlamentares do PT e da base aliada — os mesmos que a aparecem na foto aplaudindo. Para a definição do placar, foram decisivos dois parlamentares: o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que se alinhou à maioria, e o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), que não participou da sessão. Soube-se depois que Nogueira e Lessa haviam se encontrado na Semana Santa com Cavendish num restaurante Paris. Um encontro casual que, alegam os parlamentares, nada teria influenciado na posição dos dois na comissão.
Principal padrinho da criação da CPI do Cachoeira, o ex-presidente Lula nunca quis investigar a Delta. A ideia inicial dele era usar a comissão para tumultuar o julgamento do mensalão, no qual figuram como réus o ex-ministro José Dirceu e outros petistas de proa (veja o quadro ao lado). O plano deu errado. O processo começará a ser analisado em agosto, e a empreiteira já está na pauta da comissão parlamentar, inclusive com sigilo bancário quebrado. Devido ao desgaste na semana passada, até o relator. Odair Cunha (PT-MG), admite que será inevitável a convocação de Cavendish. O PT já percebeu esse movimento e, por isso, tratou de reforçar sua tropa de choque na CPI. Ex-presidente do partido, o deputado Ricardo Berzoini foi escalado para o posto de suplente no lugar do inexpressivo Sibá Machado. Os petistas tentaram ainda ocupar vagas dos suplentes do PMDB. Se dependesse do partido, a CPI do Cachoeira manteria a prática de aprovar dezenas de convocações e quebras de sigilo, mas só de coadjuvantes ou de pessoas e empresas já devidamente investigadas pela Polícia Federal. Na melhor das hipóteses, mexeria com personagens de apelo popular, mas com pouca capacidade de elucidar a organização criminosa sob investigação. Caso da esposa de Cachoeira. Andressa Mendonça, convocada a depor na semana passada. Pelo menos beleza ela levará a um espetáculo que, - até agora, tem se mostrado degradante para a imagem do Congresso brasileiro. Palmas pra eles!
José Dirceu
Com a palavra, a defesa 7
Pesam contra José Dirceu, conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), os crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa que teriam sido cometidos quando ele era ministro-chefe da Casa Civil no primeiro mandato de Lula. Dirceu é descrito na denúncia como sendo o idealizador, coordenador e principal executivo do mensalão. Em junho de 2005, ele saiu do governo, retomando seu mandato de deputado federal pelo PT de São Paulo, mas foi cassado e teve seus direitos políticos suspensos por oito anos. Seus advogados, José Luis Oliveira Lima e Rodrigo Dall"Acqua, vão sustentar perante o STF que a exigência clássica de que a acusação apresente provas robustas contra o réu não foi atendida no caso de José Dirceu.
FORMAÇÃO DE QUADRILHA - A acusação é de que Dirceu favoreceu o banco BMG com contratos que "lhe garantiram lucros bilionários na operacionalização de empréstimos consignados de servidores públicos". Em troca o BMG repassou dinheiro aos operadores menores do mensalão. Os advogados de Dirceu dizem que "em suas alegações finais, o Ministério Público cometeu o absurdo de "esquecer" que em sua própria denúncia, acusava Dirceu de beneficiar o BMG e de influenciar os órgãos de controle financeiro para facilitar lavagem de dinheiro".
CORRUPÇÃO ATIVA - Os advogados sustentam que na fase de investigação os depoimentos das testemunhe desmentem a acusação de que Dirce coordenou o processo do mensalão Dizem eles: "Além de Roberto Jefferson, que foi cassado por mentir e nunca teve obrigação jurídica de falar verdade, não há mais nada nem ninguém que sustente a versão da compra de votos".
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(*) título de filme(1976).
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RESTOU A ESTUPIDEZ!
Ainda é a economia, estúpido!
Autor(es): agência o globo:Agostinho Vieira |
O Globo - 22/06/2012 |
A expressão foi criada há 20 anos por James Carville, assessor da campanha de Bill Clinton, e continua atualíssima. Na época, ela serviu para derrotar o discurso patriótico de George Bush, o pai, baseado no fim da Guerra Fria e no sucesso da Guerra do Golfo. O bolso dos americanos gritou mais alto e elegeu o candidato democrata. Desta vez, ela foi vista rondando as salas de reunião do Riocentro e outros eventos de empresários e políticos durante a Rio+20. Não foi usada como slogan, mas aparece nas entrelinhas de vários parágrafos do documento final da conferência.
A lamentável participação da delegação americana, por exemplo, foi toda baseada nisso. Transformar o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) numa agência da ONU, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), representaria uma ameaça para a economia americana. Já basta perder ações importantes para países menos influentes na OMC. Os EUA são o segundo maior emissor de CO2 do planeta e o maior consumidor de recursos naturais. Uma agência ambiental forte poderia achar que isso é um problema.
O mesmo aconteceu nas discussões sobre oceanos, especialmente no item sobre exploração de recursos em alto-mar. A Europa e os EUA têm recursos e tecnologia para explorar economicamente essas riquezas e não querem regras internacionais atrapalhando isso. Quando o tema é acabar com os subsídios para a indústria pesqueira, com o nobre objetivo de preservar as espécies, quem esperneia são os japoneses. Eles ganham muito dinheiro com isso. Inclusive pescando baleias.
Já o lobby contra o fim dos subsídios para os combustíveis fósseis, cerca de US$ 100 bilhões anualmente, é bem mais democrático. Ele junta a poderosa indústria americana, os árabes e a república bolivariana de Hugo Chávez. Sem contar o Brasil e o Canadá, que apostam nas riquezas do pré-sal e das areias betuminosas, respectivamente. Até a índia tem interesse nisso, pois conta com o carvão barato para levar luz às casas de 400 milhões de pessoas. O j aquecimento global fica para depois.
A China tem uma posição curiosa nesse xadrez econômico-ambiental. Eles são os campeões em emissões de gases de efeito estufa. Ônus do crescimento elevado. Por isso, não aceitam metas obrigatórias de redução e defendem com unhas e dentes as responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Por outro lado, é o país que mais investe em energias limpas. Só no ano passado foram US$ 57 bilhões. Estão apostando que esse será o negócio do futuro e esperam vender patentes e equipamentos. Nada de transferência de tecnologia para país pobre. Negócio é negócio. Certo?
Se o documento aprovado na Rio+20 for posto em prática, e não há nenhuma garantia de que isso aconteça, nos próximos três anos serão discutidos e definidos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Questões como financiamento, níveis de consumo, transferência de renda e patentes voltam para a mesa sem perspectiva de solução. Esperava-se que a crise mundial levasse os países a criar um novo modelo, mais sustentável. Não foi desta vez: é a economia, estúpido!
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''EU SÓ QUERIA ENTENDER!!!''
Imposto menor para segurar alta da gasolina
Escudo contra aumento na bomba |
Autor(es): agência o globo:Geralda Doca, Vivian Oswald |
O Globo - 22/06/2012 |
Decreto do governo cortará imposto para permitir reajuste de 7% da Petrobras nas refinarias, sem impacto ao consumidor
O governo deve editar já na próxima semana um decreto reduzindo a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que incide sobre a venda de combustíveis. Segundo interlocutores, a ideia é zerar a contribuição. Se confirmada, a medida abrirá espaço para um reajuste nas refinarias de 7% nos preços da gasolina da Petrobras e entre 3% e 4% nos do diesel, sem repasse ao consumidor final e impacto na inflação, segundo cálculos da equipe econômica. Com isso, o governo atenderia pelo menos em parte à demanda da estatal por um aumento nos combustíveis.
Ainda não está decidido se o reajuste ficará acima desses percentuais, com repasse da diferença para os preços na bomba. A redução da Cide deve vigorar a partir de 1º de julho e o impacto da medida na arrecadação federal será da ordem de R$ 420 milhões por mês. Se confirmado, será o primeiro reajuste em nove anos.
A Cide foi criada em 2001 para financiar obras de infraestrutura, mas nos últimos nove anos tem sido usada para acomodar aumentos da gasolina sem repasse ao consumidor. De 2004 para cá, foram feitas quatro mudanças na Contribuição. Atualmente, a Cide tem peso de R$ 0,091 por litro de gasolina e R$ 0,047 por litro de diesel. Para os demais combustíveis, como querosenes, incluindo o de aviação, gás e álcool etílico, a contribuição já foi zerada.
- Na prática, o governo estará fazendo uma renúncia fiscal em favor da Petrobras - disse o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
Segundo ele, com essa prática, o governo evita que impacto nos índices de preços, mas acaba prejudicando o etanol e incentivando o consumo de um combustível mais poluente. Ele lembrou que ano passado, enquanto a demanda pela gasolina subiu 19%, no caso do etanol caiu 28%.
Defasagem atual está em 22%
Pires destacou que as alterações na Cide fizeram com que o peso do tributo, que chegou a representar 25% no preço da gasolina, esteja hoje em 2,5%. Com isso, a arrecadação caiu de cerca de R$ 1 bilhão para R$ 420 milhões mensais, segundo dados da Receita Federal. Ele defende que o governo faça um mix, com algum impacto para o consumidor.
Para definir o reajuste dos combustíveis a equipe econômica está avaliando vários fatores, em especial, o comportamento dos preços do barril do petróleo e do câmbio. Estudos do governo indicam que a defasagem dos preços cobrados nas refinarias em relação aos mercado internacional estaria em 22%. Este seria o prejuízo da Petrobras com o congelamento dos preços, mas estaria restrito ao período de janeiro a junho deste ano. De 2005 a 2011, os altos e baixos da cotação do petróleo se anularam e não provocaram perdas, segundo essas contas.
Outra medida que pode atenuar as perdas da Petrobras e deve ser adotada em breve é a redução das importações de gasolina da estatal. O governo não pretende mexer na mistura da gasolina, o que significa que, para as compras no exterior diminuírem, empresa terá de produzir a sua própria gasolina em maior quantidade. Fontes do governo afirmam que a estatal já está concluindo as adaptações necessárias para que isso aconteça.
Embora esteja sensível aos apelos da Petrobras por um reajuste nos preços dos combustíveis como forma de ajudar as suas contas, o governo sabe que essa correção não mudará o programa de investimentos da estatal. Ainda que o reajuste fosse de 50%, a estatal manteria o atual plano de negócios, argumenta uma fonte qualificada. Portanto, não é com o reajuste que a estatal poderá turbinar seu programa de investimentos, pondera.
No Rio, para a Rio+20, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, defendeu ontem o aumento no preço dos combustíveis, mas não confirmou que haverá reajuste. Já a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que a empresa precisa do aumento para aliviar seu caixa, acrescentando que o percentual da alta ainda está sendo discutido com o governo.
- Nós precisamos de um aumento porque evidentemente você vê uma variação do Brent (referência internacional), que desceu, mas o câmbio está subindo. Então a paridade de preço está bastante defasada.
Mais importação, menos produção
Segundo técnicos do setor, se a defasagem integral (22%) fosse eliminada nas refinarias e repassada ao consumidor, sem uso da Cide, a gasolina subiria cerca de 7,5% e o diesel, 14%.
Um analista ouvido pelo GLOBO destacou que a situação financeira da companhia vem se agravando nos últimos três anos, quando aumentou seu endividamento em cerca de US$ 60 bilhões, sem conseguir elevar a produção de petróleo. Para agravar a situação, tem sido obrigada a aumentar as importações de gasolina, para atender ao crescimento do consumo interno.
Na próxima segunda-feira, Graça vai detalhar ao mercado o Plano de Negócios da estatal, e depois fará várias apresentações no exterior.
- Tem que ter reajuste e um comportamento mais racional da empresa. Se não ela quebra até o fim do primeiro trimestre do ano que vem - alertou o analista que não quis se identificar.
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RIO +20. UM TEXTO POSSÍVEL
Conferência deixa como resultado um futuro incerto
"O futuro que queremos" continua incerto em meio a promessas vagas |
Autor(es): Por Daniela Chiaretti | Do Rio |
Valor Econômico - 22/06/2012 |
A conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável caminhava para um final melancólico ontem, com ninguém satisfeito e todos parecendo conformados com o destino incerto que "O Futuro que Queremos", principal documento da Rio+20, projeta.
Agora depende de o comprometimento dos países levar à frente, por exemplo, uma nova medida econômica que considere componentes ambientais no cálculo do PIB. Até 2015, se tudo der certo, o mundo pode ter objetivos de desenvolvimento sustentável que tracem metas para energia, água, cidades e oceanos. Pode, também, dar força a um organismo ambiental competente, o Pnuma, que tem 40 anos, mas é tratado pela comunidade internacional como um órgão de segunda categoria no sistema das Nações Unidas.
O ar-condicionado ligado à plena carga criava uma atmosfera ártica em diversos cantos do Riocentro - e inacreditavelmente insustentável. Este clima desconfortável e pouco estimulante marcou a Rio+20. A conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável caminhava para um final melancólico ontem, onde ninguém parecia satisfeito e todos pareciam conformados com o futuro incerto que "O Futuro que Queremos", o principal documento da conferência, projeta para diante.
Agora depende de o comprometimento dos países de levar em frente, por exemplo, uma nova medida econômica que considere componentes ambientais no cálculo do PIB. Até 2015, se tudo der certo, o mundo pode ter objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que tracem metas para energia, água, cidades, oceanos. Pode, também, dar força a um organismo ambiental competente, o Pnuma, que tem 40 anos, mas é tratado pela comunidade internacional como um órgão de segunda categoria no sistema da ONU.
Os governos se comprometeram a tornar concreto um programa de mudança nos padrões de produção e consumo que levou 8 anos para ficar pronto - mas que poderia ter sido aprovado antes da Rio+20, não fosse uma citação, no prólogo, aos Territórios Ocupados, o que fez com que fosse barrado, na Assembleia Geral das Nações Unidas, há alguns meses. Na Rio+20 ele saiu do papel.
"Esta conferência organizou muitos assuntos ambientais e de desenvolvimento que estavam orbitando", diz um diplomata brasileiro. "Ela abriu processos e é importante", continua. "Vamos voltar a conversar sobre este resultado em três anos", desafia.
Um negociador europeu diz que ficou claro, na atuação do Brasil, que "a presidente Dilma quer tirar da pobreza 50 milhões de pessoas, e nós entendemos isso." Depois, faz um mea culpa: "Não soubemos explicar que a economia verde é o melhor caminho para isso". A Europa, apoiada pelos EUA, insistiu que a conferência adotasse a ideia da economia verde - conceito controverso, visto com desconfiança pelo mundo em desenvolvimento. Poderia ser mais uma embalagem para vender, caro, produtos e tecnologias que os ricos têm e os pobres não, vocalizavam representantes da Bolívia, Venezuela, Cuba, Nicarágua.
Todos reconhecem que acomodar interesses de 193 países em temas que vão do uso dos recursos naturais à redução gradual do uso de combustíveis fósseis, da mudança nos padrões de consumo a regras para a exploração da biodiversidade em alto mar, não é tarefa fácil. Antes da conferência começar, muitos representantes de governos disseram que do Riocentro não ia sair nada - e agora jogam no colo do Brasil o desapontamento.
"Mas o Brasil atuou como um operador de consensos, não como um líder", alfinetou o negociador europeu. "Onde esteve a presidente do Brasil nos últimos três meses?" questionou outra negociadora. "Os diplomatas brasileiros são reconhecidamente competentes e vão até o limite. Mas quem define os limites, definiu por baixo", prosseguiu um observador.
A Rio+20 teve momentos de truculência e constrangimento. Em uma sessão, a negociadora da Suíça manifestou sua oposição a um determinado ponto. Os negociadores brasileiros tinham pressa em fechar o texto. Ela se opunha. "Então será a primeira vez que teremos um texto sem a participação suíça", disse o brasileiro.
Na última rodada de negociações, em Nova York, um alto executivo da ONU envolvido no processo criticou a falta de liderança do Brasil. A presidente Dilma teria ligado ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon e pedido a demissão do sujeito. Outro episódio nesta linha teria sido a chamada que a presidente teria dado a Ban Ki-moon, que abriu a cúpula com um discurso dizendo que faltou ambição ao texto final, e ontem se mostrou subitamente mais entusiasmado.
O governo brasileiro manifestou claramente sua insatisfação com as críticas que teve que escutar por fechar um texto sem ambição. Muitos diziam que o Brasil se escondeu atrás dos Estados Unidos na questão do Pnuma. Os países africanos queriam fazer uma alteração editorial no texto: mudar o nome do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, para Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Seria uma modificação semântica e simbólica. Os EUA não quiseram conversa: "Se o texto for reaberto, principalmente na questão do Pnuma, abriremos outras questões", ameaçou o chefe da delegação americana, Todd Stern, na plenária que aprovou o documento.
Em muitos momentos o Brasil se viu diante da opção de a conferência ficar sem um documento final, ou com um documento aguado. Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota declarava qual havia sido a escolha do Brasil, ao dizer que iria se conseguir o texto "possível."
Uma piada era contada nos corredores do Riocentro nos últimos dias da conferência. "O Brasil queria ter um texto antes da chegada dos chefes de Estado. E ponto", comenta um negociador. "Foi uma sorte que tenha terminado logo, assim não perdemos mais do que foi acertado em 1992". Só em alguns anos dará para saber se a Rio+20 ficou só na promessa.
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''GARANTIA ME''
BRASIL TENTA SALVAR GOVERNO DO PARAGUAI
RITO SUMÁRIO |
Autor(es): HAIS DE LUNA e MARIA FERNANDA SEIXAS |
Correio Braziliense - 22/06/2012 |
Menos de 48 horas depois de abrir processo de impeachment, o Congresso paraguaio pode decidir hoje a cassação do presidente do país, Fernando Lugo. Responsabilizado por massacre que, na sexta-feira, culminou na morte de 17 pessoas, ele terá duas horas para se defender. O veredicto deve ser anunciado às 17h30 (horário de Brasília). Em reunião de emergência no Brasil, no gabinete da presidente Dilma Rousseff na Rio+20, representantes do bloco político Unasul (União das Nações Sul-Americanas) decidiram enviar uma missão ao país para tentar salvar o mandato de Lugo. O clima é tenso em Assunção. Partidários do governante classificam a iniciativa dos parlamentares de "golpe".
Congresso abre processo de impeachment contra o presidente, concede duas horas para sua defesa e promete anunciar o veredicto ainda hoje. Fernando Lugo avisa que não renuncia. Jurista vê golpe, e Unasul envia missão ao país
O massacre de Curuguaty, no Paraguai, que deixou 17 pessoas mortas na sexta-feira passada, deflagrou um julgamento político relâmpago que pode custar o cargo do presidente paraguaio, Fernando Lugo. Menos de 48 horas separam o pedido de impeachment — apresentado pelo conservador Partido Colorado (de oposição), na noite de quarta-feira — do veredicto. O parlamento, transformado em um tribunal sumário, deve proferir a sentença às 16h30 de hoje (17h30 em Brasília). Envolta em tensão, com as ruas do centro fechadas, a capital, Assunção, é palco do que líderes como o boliviano Evo Morales chamam de "golpe de Estado".
Lugo já avisou que não abandonará o poder. "Este presidente não vai apresentar renúncia ao cargo e se submete com absoluta obediência à Constituição e às leis, para enfrentar o julgamento político com todas as suas consequências", afirmou. "Denuncio ante o povo que sua vontade está sendo alvo de um ataque", acusou. A iniciativa mobilizou a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) a enviar seus 12 chanceleres ao país, inclusive o brasileiro Antonio Patriota.
O presidente é acusado de "mau desempenho de suas funções", um dos motivos na Constituição paraguaia para que ocorra o pedido de impeachment. O texto não cita prazos para o processo de julgamento, que terá cinco deputados como promotores. O advogado de Lugo considera injusto o fato de a ação ser concluída em tão pouco tempo. "Se isso é considerado uma violação, não é pelo julgamento político em si. O que não se respeitam são os prazos processuais", advertiu Adolfo Ferreiro.
A acusação culminou com os confrontos de Curuguaty, no Departamento (Estado) de Canindeyú, na fronteira com o Brasil. A morte de oito policiais e de nove camponeses, durante tentativa da polícia de expulsar 150 sem-terra que ocupavam uma reserva, já havia custado ao governo as quedas do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da polícia, Paulino Rojas.
"Este presidente não vai apresentar renúncia ao cargo e se submete com absoluta obediência à Constituição e às leis" Fernando Lugo, presidente do Paraguai
Em entrevista ao Correio, o senador do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), Roberto Acevedo, admitiu que o massacre desencadeou o processo, embora o Legislativo já levasse em conta uma série de problemas envolvendo a invasão de propriedades privadas e de violência por parte do governo. "O governo de Lugo tem sido uma decepção. A morte dos camponeses e policiais na semana passada foi muito ruim para a imagem do país", criticou. Acevedo afirmou que a população sente muito medo, ante os últimos assassinatos e as invasões a fazendas. "Muitos brasileiros que vivem na fronteira com nosso país ou que moram aqui se sentem totalmente inseguros. Meu partido e eu estamos muito decepcionados." O PLRA integrava a coalizão do governo Alianza Patriótica por el Cámbio (APC), mas aprovou o julgamento e retirou o apoio ao mandatário.
Manobra
Cezar Britto, presidente da Comissão de Relações Internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), lembra que o Congresso paraguaio é composto por uma maioria derrotada nas eleições. Segundo ele, a união dessas forças significa um golpe branco, com o objetivo de afastar um presidente democraticamente eleito. Britto crê que o rápido processo de impeachment demonstra a intenção golpista do parlamento. "Lugo pode recorrer à Suprema Corte. O que nos preocupa é que, na América do Sul, muitas coisas acontecem de maneira cíclica. Um golpe pode servir de exemplo para outros países, por isso, a reação da Unasul deve ser contundente na defesa da democracia."
O custo de um impeachment seria muito alto para o Paraguai. É o que afirma Maria Celina D"Araújo, cientista política da Pontíficia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. "Os camponeses vão agir com violência para defender Lugo", prevê. A queda do líder prejudicaria a estabilidade do Paraguai, alertou William Smith, especialista em política da América Latina pela Universidade de Miami (EUA). "Se a decisão do julgamento for negativa para Lugo, a sucessão poderia ter sérias consequências para a consolidação democrática do país."
Unasul
A Unasul enviou ontem seus 12 ministros de Relações Exteriores ao Paraguai para defender a democracia, anunciaram o chanceler do Brasil, Antonio Patriota, e o secretário-geral do bloco, Alí Rodríguez. A decisão foi tomada após reunião dos representantes do bloco no gabinete da presidente Dilma Rousseff. "Diante da iniciativa dos partidos políticos de promoverem o julgamento do Presidente da República, Fernando Lugo, decidiu-se o envio de uma missão de chanceleres que partirá hoje, às 19h, do Rio de Janeiro para Assunção. Eu integrarei essa missão", afirmou ontem Patriota, por meio de nota. "Os presidentes expressaram sua convicção de que se deve preservar a estabilidade e o pleno respeito à ordem democrática do Paraguai, observado o pleno cumprimento dos dispositivos constitucionais e assegurado o direito de defesa e o devido processo", acrescentou. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, defendeu o diálogo, para manter a "paz interna" no país.
Análise da notícia
Mais que uma sigla Silvio Queiroz A pronta intervenção na crise paraguaia, antes mesmo que se conheça o desfecho do processo aberto contra o presidente Fernando Lugo, tem boas possibilidades de tornar-se um marco, uma espécie de "pedra fundamental" na edificação da Unasul. Conspirou a favor da articulação a coincidência com a Rio+20, que propiciou o contato imediato entre os cinco presidentes presentes — eles puderam reunir-se com os chanceleres dos demais países do bloco. Mas o fator de ocasião foi potencializado pelo senso real de urgência.
Uma leitura atenta do comunicado feito pelo ministro Antonio Patriota, na qualidade de anfitrião, permite entrever o cuidadoso equilíbrio buscado entre dois polos da crise: o zelo pela estabilidade regional e o respeito às instituições próprias de um país-membro. O envio, sem demoras, do colégio de chanceleres do bloco para observar a situação in loco é um gesto que traz embutida a mensagem de que a Unasul está determinada a não se confinar a uma sigla, meramente.
Julgamento rápido
Ontem
18h (19h em Brasília) - A acusação contra o presidente Fernando Lugo foi apresentada ante o tribunal que julgará o chefe de Estado, instalado dentro do Congresso.
Hoje
Meio-dia (13h) - Sessão de defesa de Lugo. O presidente terá cerca de duas horas para discursar.
14h30 (15h30) - As provas serão avaliadas pelos parlamentares que compõem o tribunal.
15h30 (16h30) - Ponderações finais.
16h30 (17h30) - Anúncio do veredicto.
Opiniões opostas
Cilia Romero,
25 anos, advogada, moradora de Assunção
"É um tipo de golpe. O julgamento político é um recurso democrático. No entanto, ele está sendo solapado. Lugo cometeu erros gravíssimos. É suspeito que isso ocorra a pouco mais de 10 meses das novas eleições. Claramente, os parlamentares que hoje julgam Lugo são os mesmos que rechaçaram o desbloqueio das listas sabanas (propostas por um partido, com ordem predeterminada. O desbloqueio permitiria ao povo eleger livremente seus parlamentares. O Congresso o arquivou até 2015."
Maria Emilia Vidal,
desenhista gráfica e comerciante, 31 anos, moradora de Assunção
"Eu creio que, definitivamente, não seja um golpe de Estado. Lugo caminhava para centralizar o poder em sua pessoa. O Congresso está desautorizado para investigar o massacre de Curuguaty. O presidente nomeou uma comissão paralela à procuradoria, o que desautorizou ainda mais o Poder Judiciário. Temo uma confrontação, porque se busca estabelecer a "consciência coletiva" de que se trata de um golpe."
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''QUEM LÊ TANTA NOTÍCIA?''
SINOPSES - RESUMO DOS JORNAIS
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Isolado no Congresso, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, pode ser cassado hoje, num processo de impeachment relâmpago. A Câmara aprovou por 76 votos contra 1 seu julgamento político, a ser decidido pelo Senado. A velocidade com que ocorreu o processo, embora previsto na Constituição, foi denunciada como golpe branco pelos partidários de Lugo e despertou desconfiança entre presidentes sul-americanos. Ele telefonou para a presidente Dilma, e, após reunião de emergência da União das Nações Sul-Americanas, uma missão de chanceleres, liderada por Antonio Patriota, foi para Assunção e tenta contornar a crise. Lugo disse que não renuncia, mas irá respeitar a decisão do Congresso. Entre acusações de nepotismo, má gestão das Forças Armadas e de fraqueza no combate à violência, o estopim foi a morte de 17 pessoas num confronto agrário. (Págs. 1 e 28)
José Maria Costa
Para professor da Universidade de Assunção, situação de Lugo é conseqüência de sua falência como chefe de Estado. (Pág. 1)
Fotolegenda: Com os braços esticados, senadores votam pelo início do processo de impeachment de Fernando Lugo.
Na “joalheria”: Marcela Temer, mulher do vice-presidente Michel Temer, recebe primeiras-damas durante um desfile de jóias no Palácio Itamaraty, no Centro do Rio. (Págs. 1 e Caderno Especial Rio+20)
Conferências com quase 200 nações, como a Rio+20, correm o risco de ficar esvaziadas. Hoje, além de ONGs, cientistas, economistas e empresários vão aderir ao movimento de repúdio ao documento final do encontro, criticando sua legitimidade. A equatoriana Yolanda Kakabadse, diretora do WWF, uma das ONGs mais respeitadas do mundo, diz que foram desperdiçados US$ 150 milhões para produzir um texto “fraco, sem ossos e sem alma”. (Págs. 1 e Caderno Especial Rio+20)
Ontem, foi dia de astros de Hollywood na Rio+20. Edward Norton fez campanha contra desmatamento e Richard Branson, da Virgin, pediu pela preservação do Ártico, num movimento que conta com Penélope Cruz e Robert Redford. Oito delegações já deixaram a conferência, entre elas as de Espanha, Paraguai, França e Coreia do Sul. A secretária Hillary Clinton passa 17 horas hoje no Rio. (Págs. 1 e Caderno Especial Rio+20)
O Congresso do Paraguai abriu processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo, numa ação rápida e surpreendente.
Entre outras acusações, ele é responsabilizado por oposicionistas pela morte de 17 pessoas num conflito ocorrido na sexta-feira passada, quando policiais e camponeses se enfrentaram em uma fazenda perto da fronteira com o Brasil. (Págs. 1 e Mundo A12)
As agências foram criticadas em 2008 por não terem alertado sobre a quebra do Lehman Brothers. (Págs. 1 e Mundo A16)
A Câmara dos Deputados do Paraguai aprovou ontem, por 73 votos a favor e apenas um contra, o início de um processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo, responsabilizado por um confronto com sem-terra que deixou 17 mortos no último dia 15. Isolado politicamente há meses, Lugo pode ser destituído ainda hoje, quando o Senado paraguaio avaliará o caso - o presidente conta com o apoio de apenas dois dos 45 senadores, e ele terá somente duas horas para se defender. O rito sumário contra Lugo foi considerado como sinal de golpe pela presidente Dilma Rousseff, que mandou a Assunção seu chanceler, Antonio Patriota, em missão diplomática com outros representantes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Em nota lida por Patriota, o bloco pede “respeito à ordem democrática do Paraguai”. Lugo disse a Dilma que não vai renunciar. (Págs. 1 e Internacional A15 e A16)
Fernando Lugo
Presidente do Paraguai
“Não renunciarei ao cargo para o qual fui eleito pelo voto popular.”
Fotolegenda: Pressão
Lugo na sede do governo: crise expõe isolamento do presidente.
Acúmulo de vencimentos
Para Marco Maia (PT), presidente da Câmara, o acúmulo é válido mesmo se exceder o teto. (Págs. 1 e Nacional A4)
Fotolegenda: Índios do lado de fora da sede da Rio+20, durante mais um protesto.
A Rio+20 parece confirmar a previsão de que dificilmente escaparia de uma declaração final genérica, sem compromissos e prazos cobráveis. (Págs. 1 e Espaço Aberto A2)
O episódio de Lula e Maluf, entre outros, marca o fim de certa racionalidade política. As evidências não contam, apenas as versões. (Págs. 1 e Espaço Aberto A2)
Emenda que acaba com o teto salarial dos servidores diminuirá controle sobre os orçamentos. (Págs. 1 e A3)
O Casino assumirá a maioria do capital votante do Pão de Açúcar desembolsando apenas US$ 10,5 milhões, depois de ter socorrido o grupo por duas vezes frente a dificuldades financeiras, em 1999 e 2005, quando o atual acordo foi selado e o grupo francês entrou no grupo de controle, pagando US$ 900 milhões. (Págs. 1 e B5)
Agora depende de o comprometimento dos países levar à frente, por exemplo, uma nova medida econômica que considere componentes ambientais no cálculo do PIB. Até 2015, se tudo der certo, o mundo pode ter objetivos de desenvolvimento sustentável que tracem metas para energia, água, cidades e oceanos. Pode, também, dar força a um organismo ambiental competente, o Pnuma, que tem 40 anos, mas é tratado pela comunidade internacional como um órgão de segunda categoria no sistema das Nações Unidas. (Págs. 1, A10 e B1)
Na próxima quarta-feira, Cristina também deverá enfrentar a primeira paralisação nacional desde março de 2001, convocada pela central sindical CGT. Em princípio durará apenas um dia, disse o presidente da entidade, Hugo Moyano, ao anunciar o fim da paralisação dos caminhoneiros, após a obtenção de um reajuste salarial de 25,5%. A central está dividida e só os sindicatos alinhados a Moyano devem aderir ao protesto. (Págs. 1 e A13)
A Unasul quer preservar "o direito de defesa" de Lugo e lançar mão da "cláusula democrática", que pode resultar no isolamento político do país.(Págs. 1 e A13)
Outra mudança, está ainda em estudo, prevê o fim das pensões vitalícias. A ideia é exigir dos beneficiados comprovação periódica de que as pensões são necessárias. "Há um ambiente muito favorável, no governo e na sociedade, para implementar uma reforma nas regras da pensão por morte", disse o ministro de Previdência Social, Garibaldi Alves Filho. (Págs. 1, A4 e A5)
"Desde o fim dos anos 80, que teve o Protocolo de Kyoto, Rodada Uruguai, criação da Corte Penal Internacional e o direito de intervenção, o sistema não avançou e o risco atual é de regressão". Hoje, "os líderes usam o pouco de capital político que lhes resta para tentar ganhar a eleição em casa, não para fazer acordos internacionais". Essa falta de disposição para conduzir mudanças, adverte, termina por prolongar a crise em que o mundo se vê envolvido. (Págs. 1 e Eu & Fim de Semana)
Petistas e tucanos foram incapazes de colocar o malufismo em xeque. Desta vez, o PT foi apenas um cúmplice mais rápido. (Págs. 1 e A5)
Márcio Garcia
É preocupante quando justificativas para conviver com ‘um pouquinho mais de inflação' tomam corpo no governo. (Págs. 1 e A15)