A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
PENSAR "GRANDE":
[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.
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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).
"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).
"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br
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segunda-feira, dezembro 12, 2011
BRASIL/INOVAÇÃO [IN:] NANOTECNOLOGIA
Especial: Inovação Nanoinvestimentos
Valor Econômico - 12/12/2011 |
Com recursos esparsos, Brasil caminha lentamente na área de nanotecnologia, que avança rápido no mundo. Por Genilson Cezar, para o Valor, de São Paulo. O avanço da nanotecnologia no mundo é visível. Já são mais de mil produtos de consumo em diversos segmentos de atividade, como cosméticos, tecidos e aparelhos eletrônicos. No Brasil, contudo, o lançamento de produtos não acompanha nem perto o ritmo internacional. Também são escassas as informações sobre as aplicações de recursos do setor público. A previsão, contudo, é que esse panorama mude em função da importância crescente de pesquisas nessa área envolvendo os diferentes segmentos da economia. Segundo Samuel César Júnior, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em oito anos – de 2000 a 2007 – o investimento federal em nanotecnologia alcançou meros R$195 milhões, sendo que o Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul concentraram dois terços desses recursos. A soma significa menos de 5% do investimento total do Brasil em pesquisa no período (3,9 bilhões). Foram 504 projetos (3,89%) de um total de 12.969 apoiados por financiamento governamental. Desse total, 91 projetos contaram com empresas envolvidas. "Isso é muito pouco para uma área estratégica", explica César Júnior. "Em 2009, por exemplo, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançou um de seus últimos editais direcionados a novos projetos de nanotecnologia, de apenas R$15 milhões. Os recursos são escassos, mas mais precária é a articulação entre as instituições de pesquisas universitárias e as empresas brasileiras. A indústria não sabe o que está sendo desenvolvido no ambiente acadêmico", diz ele. O governo federal elegeu a área como prioritária para ser atendida, daqui para frente, pelos programas federais de incentivos. No campo da pesquisa acadêmica, pelo menos na área de saúde, a nanotecnologia já é uma realidade, avalia Willian Waissmann, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos principais centros de pesquisa dessa área. A nanotecnologia é uma área multidisciplinar que associa química, física, biologia e engenharia na manipulação e construção de moléculas novas com propriedades distintas. "Trata-se de uma plataforma que pode operar uma verdadeira revolução em vários setores industriais", diz ele, citando exemplos de vários produtos de uso corriqueiro, como para limpeza de petróleo na água, plásticos para guardar alimentos meias que não deixam cheiro ou tintas que impedem o risco. "Na área de saúde, a nanotecnologia tem momentos importantes na biotecnologia para produção de fármacos, quimioterápicos e outros medicamentos, na produção de vacinas e biossensores e na regeneração de tecidos e óssea", afirma. Os obstáculos, no entanto, de acordo com Waissmann, estão entre a criação e a pesquisa, a geração entre patentes até a produção comercial. "Nosso maior problema está entre o processo de criar e o de transformar essa criação em produto comercial." Segundo ele, o estímulo para superar esse entrave tem que ser dado por uma política de Estado, que inclua investimentos e superação da burocracia e de normas técnicas. Estudos realizados no meio empresarial apresentam um cenário igualmente severo em relação ao estágio atual da nanotecnologia no país. Pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro mostra que o mercado de produtos originalmente desenvolvidos no Brasil somou apenas R$115 milhões em 2010. Enquanto isso, o volume de negócios no mercado internacional atingiu US$383 bilhões, incluindo o faturamento com 1.015 produtos para o consumidor final ou intermediários. Dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, divulgados pela Firjan, indicam que existem hoje150 empresas desenvolvendo produtos ou prestando serviços a partir de conhecimentos em nanotecnologia. Um dos setores com crescimento mais acelerado no desenvolvimento de novas tecnologias, já com várias aplicações em escala industrial, é o automobilístico. "A primeira onde de materiais de nanotecnologia representou um avanço muito forte na indústria, principalmente nos materiais plásticos. Eles se tornaram mais fluidos, duráveis e resistente, aplicados a para-choques, conectores e centrais elétricas inteligentes", diz Flávio Campos, membro do Conselho Diretor do SAE Brasil e diretor de engenharia da Delphi. "O desafio é obter escala e melhorar as condições de custo, tornando os produtos mais acessíveis ao consumidor", afirma. Segundo Waissmann, para melhorar o cenário está em discussão a criação de uma associação ligada ao assunto, a partir do Fórum de Competitividade de Nanotecnologia, conduzindo o âmbito da Secretaria de Tecnologia e Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Quatro grupos de trabalho foram construídos nesse fórum – mercado, marco regulatório, cooperação internacional e formação de recursos humanos. O objetivo, destaca João Batista Lanari, diretor de tecnologias inovadoras do MDIC, é aumentar a competitividade do país no mercado mundial por meio da articulação entre as necessidades do setor privado, governos e academia. "A intenção é buscar o consenso em torno de oportunidades e desafios, definindo metas e ações voltadas para implementação de uma política industrial de desenvolvimento da produção." |
BRASIL/DROGAS [In:] DROGA-SIL III
Problema de saúde pública
Correio Braziliense - 12/12/2011 |
"Dois meses não é um tempo necessário para avaliar qualquer política pública. Em relação às drogas, esse é um desafio muito grande a ser enfrentado em todo o Brasil, mas, antes de segurança pública, é um problema de saúde. Quando a questão vira um problema de polícia e uma pessoa chega a cometer um crime em razão da droga, é porque todos os outros sistemas falharam. As causas disso são invariavelmente sociais. É preciso ter a consciência de que o usuário vai resistir ao tratamento, como o próprio tabagista resiste, porque isso tem uma dimensão psicológica. Seja qual for o programa preventivo proposto, ele tem quer ser multissetorial e liderado pela saúde e pela educação. O governo possui ferramentas de monitoramento desse plano e, antes de pensar no resultado, precisamos saber quais os instrumentos que eles estão utilizando para acompanhar o sucesso dessa política. Temos direito de acompanhar todo o processo e, então, fazer uma avaliação." Marcelle Figueira, coordenadora do curso de segurança pública da Universidade Católica |
BRASIL/DROGAS [In:] DROGA-SIL II
De olho no Brasil, máfias da cocaína disputam a Bolívia
Autor(es): Por Fabio Murakawa | De São Paulo |
Valor Econômico - 12/12/2011 |
De olho no crescente mercado para a cocaína no Brasil, e na facilidade para obter matéria-prima, redes internacionais de traficantes transformaram a Bolívia em território prioritário para expandir os seus negócios, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. Antes mero exportador da folha de coca para laboratórios na Colômbia e no Peru, a Bolívia se converteu nos últimos anos em um importante corredor da droga produzida nesses vizinhos e enviada a Brasil e Europa, via território brasileiro, além de refinar cada vez mais cocaína em seu território. Esse fenômeno vem na esteira do aumento da demanda no Brasil, que se tornou na última década o segundo país consumidor de cocaína no mundo. "O Brasil passou, nos últimos dez anos, de país de trânsito a um país de consumo [de cocaína]", afirma o diplomata brasileiro Murilo Vieira Komniski, que atua no setor de Direitos Humanos e Ilícitos Transnacionais da Embaixada do Brasil em La Paz. "É o que eu chamo de um efeito colateral de uma política social bem sucedida." Komniski explica que as 30 milhões de pessoas que saíram da linha da pobreza e entraram na classe média na última década ajudaram a formar um novo mercado para a droga. "A chamada nova classe média passou a ter acesso à cocaína e a uma droga relativamente barata, que é o crack." De acordo com diferentes fontes, entre 60% e 80% da cocaína boliviana tem como destino o mercado brasileiro, hoje estimado pela ONU em 900 mil usuários, atrás somente dos Estados Unidos e da União Europeia. Com o aumento do consumo no Brasil, máfias colombianas, mexicanas, peruanas e brasileiras começam a se estabelecer na Bolívia para exportar para cá o produto acabado. E isso já começa a ter reflexo em operações policiais nos dois países. Em 19 de outubro, a Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico (FELCN) da Bolívia estourou um dos maiores laboratórios de cocaína já encontrados no país. Instalado dentro do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), na Amazônia boliviana, ele tinha capacidade para produzir 100 kg diários da droga e instalações para abrigar 25 pessoas. "Era uma casa gigantesca, com vários cômodos, de dimensões que eu jamais tinha visto", disse ao Valor um policial que participou da ação. A operação resultou na apreensão de 114 kg de cocaína, fuzis M-16 e AK-47 e na morte de um policial. Um traficante morreu e outro ficou ferido. Ambos eram colombianos. Os demais fugiram pela mata, mas presume-se que tenham a mesma nacionalidade. Uma semana depois, a Polícia Federal desbaratou no Brasil uma quadrilha de traficantes formada por brasileiros, paraguaios, colombianos, bolivianos e europeus, que trazia cocaína da Bolívia para distribui-la por aqui e também encaminhá-la à Europa. Foram expedidos 54 mandados de prisão, 11 deles no exterior, via Interpol, sendo que três eram de grandes traficantes colombianos que viviam em mansões na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra, conta Ivo Roberto Costa da Silva, o delegado que comandou a operação. "Trata-se de uma associação de traficantes de diferentes nacionalidades, cada qual com seu papel na produção, transporte e comercialização da droga. São como grandes multinacionais do tráfico", diz. Além disso, informes da inteligência boliviana, aos quais o Valor teve acesso, dão conta da movimentação de traficantes colombianos, mexicanos e de organizações criminosas brasileiras na Bolívia. Um deles, elaborado em 2010, descreve a "guerra" entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho pelo controle do tráfico no Departamento (Estado) de Santa Cruz. O documento descreve como membros desses grupos se matavam uns aos outros em disputas por território, além de assassinatos de policiais bolivianos que tentavam extorqui-los. "O PCC e o Comando Vermelho, hoje, são considerados grandes compradores [da cocaína], tanto quanto outros", afirma o Diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Oslaim Campos Santana. "Mas temos traficantes com estrutura melhor, como os pegos durante a Operação Semilla." Outro documento, do mesmo ano, afirma que um filho não identificado de um dos maiores traficantes mexicanos, Joaquín "Chapo" Guzmán, frequentava uma escola de pilotos em Santa Cruz de La Sierra. A informação foi confirmada em entrevista à rede mexicana Univisión pelo traficante brasileiro Maximilano Dourado, preso na Bolívia e deportado ao Brasil em janeiro. Líder do temido Cartel de Sinaloa, Guzmán figura em 55º lugar na lista dos homens mais poderosos do mundo em 2011, elaborada pela revista Forbes. Sua fortuna é estimada em US$ 1 bilhão. "Estamos em um período de acomodação entre os diferentes grupos na Bolívia. Às vezes violento, às vezes não tão violento, mas onde estão jogando todos os grupos", afirma Douglas Farah, pesquisador sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia, nos Estados Unidos. Segundo ele, a queda dos grandes cartéis colombianos, a partir de meados da década de 1990, deixou um campo aberto para que os bolivianos começassem a fabricar a sua própria droga e para a penetração de máfias de outros países. "Esses "narquitos" bolivianos não têm redes internacionais para mover o produto, quando está terminado", diz ele. "Entram aí os grandes grupos brasileiros, porque é um mercado muito fácil de alcançar. E também os mexicanos, buscando alternativas para a sua linha de produção. Todos estão ali, tratando de armar as suas redes." Com 3.500 km de fronteira seca com o Brasil, além da proximidade com os mercados também emergentes de Chile e Argentina, a Bolívia tem muito mais vias para escoar sua cocaína para cá do que o Peru e a Colômbia. Nos dois últimos casos, a Amazônia forma uma imensa barreira natural, que torna a rota mais complicada. Isso também tem ajudado a atrair máfias brasileiras, mexicanas e colombianas ao território boliviano. "No último ano e meio, o Brasil se converteu em uma das mais importantes rotas da droga peruana rumo à Europa", diz Jaime Antezana, especialista em narcotráfico no Peru. No início deste mês, ao divulgar uma lista traficantes detidos na Bolívia em 2011, o vice-ministro de Defesa Social, Felipe Cáceres, se disse "preocupado com o crescimento de presos estrangeiros nos últimos dois anos". Peruanos, colombianos, brasileiros, espanhóis, argentinos e mexicanos lideram o ranking. Além da extensa fronteira seca com o Brasil, outros fatores tornam a Bolívia atraente para as redes internacionais: a fartura da produção de folha de coca e o absoluto descontrole sobre a sua comercialização. Segundo a ONU, o país é o terceiro maior produtor mundial da folha, com uma área plantada de 31 mil hectares, atrás de Peru e Colômbia. Não há, no entanto, uma estimativa precisa sobre qual seria a área ideal para atender à demanda interna. Uma lei de 1998 reconhece apenas 12 mil hectares como legais para o uso tradicional. Mas o governo anunciou na semana passada que pretende atualizar essa lei. O fato é que o país não tem um dado oficial recente sobre o quanto consome de folha de coca. Há mais de três anos, está em curso um estudo, em parceria com a União Europeia, sobre a demanda interna na Bolívia. Os resultados deveriam ter sido apresentados em seis meses. O atraso ocorre, segundo o Valor apurou, por conta de divergências entre europeus e bolivianos sobre seus resultados. "Informalmente, nos indicam que o estudo já está pronto e que seriam necessários menos do que 20 mil hectares. Aparentemente, não chega a isso", diz uma fonte, sob a condição de anonimato. Para César Guedes, representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) na Bolívia, essa "é a peça que falta no quebra-cabeças" para determinar o quanto da folha de coca boliviana é desviada ao narcotráfico. A produção boliviana divide-se em duas grandes regiões. A primeira delas, a dos Yungas, fica no altiplano boliviano, próximo a La Paz. Há ali uma área estimada em cerca de 20,5 mil hectares, com uma produção de 28 mil toneladas, segundo Guedes. A segunda, fica na região conhecida como Chapare, perto de Cochabamba, onde apenas 10,1 mil hectares rendem 27,5 mil toneladas da folha. "De qualquer maneira, isso é muito mais do que se pode mascar ou fazer chá", afirma Bo Mathiassen, representante da UNODC no Brasil. "A Bolívia ainda tem uma produção muito maior do que a demanda. O resto deve estar indo para o lado errado." Segundo dados do próprio governo boliviano, 65% da folha produzida nos Yungas passa pelo mercado legal de Villa Fátima. Já no Chapare, apenas 4% da produção é negociada no mercado de Sacaba, responsável pela comercialização da produção local. O fato de que a folha do Chapare não é considerada própria para o uso tradicional - por ser mais ácida e de menor qualidade - só faz aumentar a suspeita de que boa parte da produção seja desviada para o tráfico. Há diferentes interpretações sobre o papel do presidente Evo Morales em relação ao respeito às tradições locais quanto ao uso da folha da coca e ao combate ao narcotráfico. Para alguns, como Douglas Farah, o governo boliviano está envolvido até o pescoço com atividades ilegais, em grau muito maior do que ocorre na Colômbia e no Peru. "Há países onde o narcotráfico opera com impunidade nas esferas mais altas, como na Venezuela e na Bolívia", diz ele. "Há uma criminalização generalizada desses governos. Seu plano econômico é insustentável e todos se vinculam ao narcotráfico, às Farc [narcoguerrilha colombiana] e a outros grupos criminosos como forma de sobreviver economicamente." Já César Guedes, da ONUDC em La Paz, vê uma atuação positiva. "A ONU reconhece que é um esforço muito grande para um país como a Bolívia, cujo PIB é de US$ 45 bilhões, dedicar US$ 30 milhões para o combate ao narcotráfico", afirma. "A Bolívia precisa de escolas, hospitais, estradas. É preciso ter uma responsabilidade compartilhada para alivar as pressões. Todos reclamam, mas os outros países precisam fazer mais." Morales surgiu para a vida política como um líder sindical dos cocaleiros na região do Chapare, na década de 1980. Nos anos 1990, notabilizou-se pelos enfrentamentos com o governo de Hugo Banzer Suárez, que prometeu a erradicação total da folha de coca no país. Na Presidência boliviana desde 2006, ele acumula o cargo de presidente da Federação de Cocaleiros do Trópico de Cochabamba. Durante seu governo, a área plantada com coca na Bolívia subiu de 25,4 mil hectares para 31 mil hectares no ano passado. Mas houve uma estabilização nos últimos dois anos, graças a programas de erradicação plantações consideradas ilegais. Somente neste ano, segundo dados oficiais, 10 mil hectares foram erradicados, mas a previsão é de que a área cultivada não caia. Para o diplomata Komniski, há o risco de que o governo esteja, de forma involuntária, fazendo um trabalho de renovação das plantas que seria feito pelo próprio produtor. "Na medida em que o Exército erradica as plantas, pode-se plantá-las novamente seis meses depois", diz ele. "Como não há um decréscimo substantivo na área plantada, ou estão sendo abertas novas áreas ou está havendo um replantio." As rusgas do governo boliviano com os Estados Unidos também atrapalham o combate ao narcotráfico, segundo as fontes. A crise nesse campo piorou em 2008, quando Morales expulsou do país, junto com o embaixador Philip Goldberg, a agência antidrogas DEA. Na época, Morales acusou o órgão de ingerência política, espionagem e de realizar operações por conta própria em território boliviano. No mês passado, os dois países assinaram um convênio para normalizar as relações, mas a Bolívia descartou a volta da DEA. "Do ponto de vista logístico e da capacidade de inteligência das forças de combate ao narcotráfico, a expulsão da DEA foi prejudicial", afirma Komniski. As divergências com os americanos também estão atrasando a assinatura de um convênio entre os dois países e o Brasil para o mapeamento dos plantios da folha de coca na Bolívia. Pelo acordo, o Brasil forneceria imagens de satélite e atuará na capacitação da polícia boliviana para a leitura desses dados. Já os americanos forneceriam equipamentos de GPS e outros para fazer a medição dos cultivos excedentes. Mas, diante da resistência de setores do governo Morales, a formalização desse acordo vem sofrendo sucessivos adiamentos. |
BRASIL/DROGAS [In:] DROGA-SIL
Crack, epidemia sem fim
Autor(es): Saulo Araújo e Mara Puljiz |
Correio Braziliense - 12/12/2011 |
Após três meses desde a criação de plano de combate ao crack, o consumo e o tráfico do entorpecente continuam a fazer vítimas na capital federal. Flagrantes seguem frequentes na área central de Brasília e em Ceilândia
Há três meses, o Governo do Distrito Federal anunciou a criação do Plano de Enfrentamento ao Crack. Para tornar possível a erradicação da droga das ruas da capital federal, foram liberados cerca de R$ 65 milhões, montante que deve ser investido ao longo de quatro anos. No entanto, a primeira impressão dos brasilienses é que nada mudou nos últimos 90 dias. A presença de crianças, homens e mulheres maltrapilhos perambulando sob o efeito do entorpecente continua frequente. Um giro pelas tradicionais cracolândias do DF revela que ainda não há solução para a epidemia. No coração do país, a cerca de um quilômetro do Congresso Nacional, o Correio flagrou dezenas de viciados a consumir pedras de crack, durante o dia. Com a presença constante da polícia nos arredores da Rodoviária do Plano Piloto, os usuários recorrem às copas das árvores, nos canteiros da Esplanada dos Ministérios. Ali, traficantes se misturam aos usuários. O mesmo ocorre no estacionamento do Conjunto Nacional, onde a procura por droga é constante. Entre os carros parados, um jovem de boné e camiseta azul distribui livremente pedras de crack. Sem ser incomodado, ele é conhecido entre os flanelinhas da região. Vários compradores o abordam. E a transação dura poucos segundos. O rapaz que aparenta ter menos de 18 anos recebe o dinheiro, entrega a droga e sai na direção oposta. Na maior e mais populosa cidade do DF, Ceilândia, o problema é semelhante. Mudam apenas os personagens. Desde setembro do ano passado, sucessivas reportagens denunciaram a forma degradante como vivem dezenas de usuários de crack que passam dias e noites alojados em bueiros, entre a QNN1 e a QNN 3. O jornal voltou ao lugar duas vezes nos últimos 15 dias e constatou que nada mudou. O local continua repleto de traficantes e de pessoas vagando como zumbis pelas ruas. Intimidação Cerca de 15 minutos depois, um jovem encheu as mãos de brita e jogou-as contra o veículo. Em seguida, um grupo cercou a equipe em uma tentativa de intimidação. Frequentadores de um bar fizeram sinais com as mãos para que o Correio deixasse o local por segurança. O consumo de droga na cidade foi flagrado diversas vezes e em vários pontos, próximos uns aos outros. Pelo menos três bocas de fumo foram identificadas em apenas um quarteirão. Em 15 minutos de observação, um carro e duas motos da Polícia Militar passaram pela região, mas os PMs não realizaram nenhuma abordagem. Durante o feriado, na Rodoviária do Plano Piloto, a venda do crack ocorreu ao lado do ponto de táxi e em frente a muitos passageiros que esperavam um ônibus para ir embora. Encostado em uma parede, um deles queimou a pedra dentro de uma lata de refrigerante e inalou compulsivamente a droga. Nenhum segurança ou assistente social se aproximou.
Medidas |
PARÁ [In:] ''PARA'' COM ISSO! OUÇAM O POVO!!!
Divisão do Pará é rejeitada em votação
Em plebiscito, eleitor do Pará rejeita criação de Estados, mas expõe divisão |
Autor(es): Daniel Bramatti |
O Estado de S. Paulo - 12/12/2011 |
Maioria dos paraenses rejeitou a criação de novas unidades da Federação e manteve governo unido e sediado em Belém BELÉM - O "não" à divisão do Pará foi a opção vitoriosa no plebiscito realizado ontem, no qual os eleitores foram consultados sobre a formação de dois novos Estados. Às 20 horas, com 74% das seções apuradas, os contrários à criação de Tapajós, no oeste, tinham 69% dos votos. E os contrários a Carajás, no sul, eram 70%. Apesar da vitória por larga margem da frente que defende a manutenção do atual território, o fato é que o Pará votou dividido. A proposta de divisão foi abraçada com entusiasmo pelos eleitores das regiões que poderiam se separar. Em Santarém, principal cidade da região oeste, a criação de Tapajós recebia 98% dos votos no início da noite. Em Marabá, a frente pró-Carajás colhia quase 94% dos votos. Mas Santarém, Marabá e as demais cidades das regiões separatistas concentram apenas 35% do eleitorado – ou seja, na prática, a consulta foi decidida pelos 65% que estão em Belém ou áreas próximas e que, durante a campanha, demonstraram contrariedade com a perda de território e recursos naturais resultante de uma eventual divisão. Na capital, o "não" conquistou 95% do eleitorado. Para complicar ainda mais a situação dos separatistas, as principais cidades do interior apresentavam taxas de abstenção superiores às da capital. Recurso à Justiça. Na tentativa de contornar o problema da escassez de eleitores, os separatistas recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo que o plebiscito ocorresse apenas em Tapajós e Carajás. No final de agosto, porém, o tribunal decidiu que todo o Pará deveria ser consultado. Para os defensores do "sim", foi uma derrota judicial e também política. Segundo o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), coordenador da campanha do "não", a tentativa de alijar Belém e cidades próximas praticamente unificou esse eleitorado contra a proposta separatista. "Quiseram fazer tudo na surdina, nós nos sentimos traídos", afirmou Coutinho. Com o início do horário de propaganda na televisão, há um mês, as frentes pró-Tapajós e pró-Carajás fizeram programas voltados à conquista do eleitorado da capital e arredores, mas a resistência ao discurso separatista só aumentou, conforme pesquisas feitas desde então. Do lado oposto, não foi difícil para os defensores da manutenção do atual território difundir as teses de que a divisão deixaria o Pará mais fraco, pois o Estado perderia o controle dos recursos naturais - principalmente minério - abundantes no sul. "Eles (os separatistas) queriam ficar com tudo, menos com as dívidas do Pará", disse Rosinaldo Gonçalves, motorista de caminhão e morador da capital, que ontem votou pelo "não". Tranquilidade. Na capital paraense, os eleitores encontraram poucas filas e votaram com rapidez, já que só era necessário digitar dois números – uma resposta sobre a eventual criação de Tapajós e outra sobre a criação de Carajás. Muitos votaram vestindo a camisa vermelha com o desenho da bandeira do Pará – item cuja venda explodiu a partir do início da campanha do plebiscito. A previsão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) era divulgar o resultado final da votação antes da meia-noite de ontem. A frente pelo "não" esperava apenas a confirmação matemática de sua vitória para dar início a uma comemoração nas ruas da região central da cidade. Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandovski, que viajou para Belém a fim de acompanhar a apuração, a votação ocorreu sem incidentes em todo o Estado. O ministro disse que foi preciso substituir algumas urnas eletrônicas defeituosas em determinadas seções, mas afirmou que em nenhuma houve necessidade de colher os votos em cédula de papel. Segundo ele, o custo do plebiscito para a Justiça Eleitoral é estimado em cerca de R$ 19 milhões. Lewandowski acompanhou de perto o plebiscito na capital paraense. Esteve no colégio Paes de Carvalho, escola tradicional do ensino público paraense, que se localiza em frente ao prédio local do TRE e que abriga 14 seções eleitorais, reunindo quase 5 mil eleitores. Ele se disse satisfeito com a tranquilidade do plebiscito, que durante toda a manhã não apresentou nenhuma ocorrência grave. Do próprio TRE, o ministro monitorou as eleições nas outras regiões, especialmente no sul, sudeste e oeste. Lewandowski definiu o plebiscito no Pará como um "momento histórico e de prova de consolidação da democracia no Brasil". |