PENSAR "GRANDE":

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[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).

"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).

"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br

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# 38 RÉUS DO MENSALÃO. Veja nomes nos ''links'' abaixo:
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terça-feira, novembro 05, 2013

AS VOZES ROUCAS ... (2)

05/11/2013
As marcas de junho


Divulgada no fim da semana, a mais recente edição da série de pesquisas comparativas sobre as opiniões, atitudes e valores em 18 países do Continente - encomendadas desde 1995 pela ONG chilena Latinobarômetro e repassadas com exclusividade à revista britânica The Economist - não traz um único resultado de que a presidente Dilma Rousseff possa se orgulhar. Significativamente, a parte brasileira do levantamento foi realizada (pelo Ibope) na segunda quinzena de júnho, quando, em todo o País, as ruas estavam tomadas por protestos contra a aviltante qualidade dos serviços públicos. O estopim foram os aumentos dos preços das passagens de ônibus.

Previsivelmente, o "despertar do gigante", como veio a ser chamada a súbita onda de manifestações, se traduziu de imediato na queda dos índices de avaliação do governo federal e do desempenho pessoal da presidente, sobretudo entre os jovens. Desde então, ela recuperou parte das perdas. Os números, no entanto, desmentiram as profecias do mar-queteiro do Planalto, João Santana, para quem Dilma voltaria a navegar em céu de brigadeiro antes que novembro chegasse. O quadro é de estagnação. Depois de ter afundado a 31%, ou 24 pontos abaixo dos 55% de aprovação de que o governo ainda desfrutava, o índice se estabilizou a partir de agosto - imune, portanto, à roda viva de viagens, discursos, lançamentos e inaugurações a que a presidente se entregou.


Dilma, é sabido, nunca emitiu luz própria que explicasse as alturas a que chegou a sua popularidade antes que a elevação dos preços dos alimentos, no primeiro semestre do ano, começasse a empurrá-la para baixo. 

Ela basicamente refletia a ofuscante luminosidade do padrinho Luiz Inácio Lula da Silva, com seus 85% de aprovação, a que acrescentou uns tantos watts no primeiro ano do seu mandato, ao assumir o papel de faxineira dos malfeitos de sua equipe. Não a ponto de desalojar o mentor da liderança constante nas pesquisas de intenção de voto para 2014. O espetáculo ficou em cartaz por pouco tempo, enquanto assomava, com crescente nitidez, a negação dos seus alegados atributos gerenciais. A pesquisa do Latinobarômetro captou, por mais de um ângulo, o apagão da presidente.


O instituto manda perguntar sistematicamente aos latino-americanos (20 mil foram ouvidos este ano) qual o seu grau de satisfação com o modo pelo qual a democracia funciona nos seus respectivos países. Os resultados tendem a exprimir, menos do que juízos abstratos sobre o sistema democrático, o que as pessoas acham da aptidão dos governantes de turno em responder às demandas do interesse coletivo, como prometeram para se eleger. Sob Dilma, são pouco mais de 20% os brasileiros que se declaram "muito" ou "algo satisfeitos" com o funcionamento da democracia. Eram 40% quando assumiu. Mais: em 2011, com aprovação de 67%, Dilma era a segunda líder regional mais popular. Hoje, com 56%, caiu para a sétima posição.

O governo do "Brasil para todos" é um fracasso de bilheteria. Não chegam a 30% os entrevistados para os quais o País é de fato governado em benefício de todos. (Pior do que o País, nesse quesito, só a Costa Rica, Honduras e Paraguai. Já o Uruguai lidera folgadamente o ranking, com 80%.) Uma segunda e talvez ainda mais negativa revelação sobre o governo petista está na percepção dos entrevistados acerca do progresso nacional. No primeiro ano da gestão Dilma, a maioria absoluta da população (52%) achava que o Brasil progredia. Atualmente, a mesma opinião é compartilhada somente por 33%. Não se imagine que o País espelha um pessimismo majoritário quanto ao progresso na América Latina. Se espelhasse, não teria caído da terceira para a décima primeira posição nesse quesito no âmbito regional.

Seria prematuro inferir daí que as chances de Dilma se reeleger ficaram ameaçadas. As sondagens ainda a apontam como favorita (com margem menor, é verdade, se os seus adversários forem José Serra e Marina Silva, seus rivais em 2010). Mas os dados indicam que é mais difícil para ela agregar votos no Sudeste e nas capitais; daí a prioridade da mal disfarçada campanha a que já se dedica para consolidar a sua aprovação no Nordeste e no interior.

adicionada no sistema em: 05/11/2013 02:50

AS VOZES ROUCAS DAS RUAS E OS OUVIDOS MOUCOS DO GOVERNO

05/11/2013
O gigante continua adormecido 


:: Marco Antonio Villa


O gigante voltou a adormecer. Seis meses depois das manifestações de junho, o Brasil continua o mesmo. Nada mudou. É o Brasil brasileiro de sempre. Mais uma vez, os fatores de permanência foram muito mais sólidos do que os frágeis fatores de mudança.

As instituições democráticas estavam — e continuaram — desmoralizadas. Basta observar as instâncias superiores dos Três Poderes. O Supremo Tribunal Federal chegou ao cúmulo de abrir caminho para a revisão das sentenças dos mensaleiros. Mais uma vez — e raramente na sua história esteve na linha de frente da defesa do Estado Democrático de Direito — cedeu às pressões dos interesses políticos.

O ministro Luís Roberto Barroso — o "novato" — descobriu, depois de três meses no STF, que o volume de trabalho é irracional. Defendeu na entrevista ao GLOBO que o Supremo legisle onde o Congresso foi omisso. E que o candidato registre em cartório o seu programa, o que serviria, presumo, para cobranças por parte de seus eleitores. Convenhamos, são três conclusões fantásticas.

Mas o pior estava por vir: disse que o país não aguentava mais o processo do mensalão. E o que ele fez? Ao invés de negar a procrastinação da ação penal 470, defendeu enfaticamente a revisão da condenação dos quadrilheiros; e elogiou um dos sentenciados publicamente, em plena sessão, caso único na história daquela Corte.

O Congresso Nacional continua o mesmo. São os "white blocs." Destroem as esperanças populares, mostram os rostos — sempre alegres — e
o sorriso de escárnio. Odeiam a participação popular. Consideram o espaço da política como propriedade privada, deles. E permanecem fazendo seus negócios....

Os parlamentares, fingindo atentar à pressão das ruas, aprovaram alguns projetos moralizadores, sob a liderança de Renan Calheiros, o glutão do Planalto Central — o que dizer de alguém que adquire, com dinheiro público, duas toneladas de carne? Não deu em nada. Alguém lembra de algum?

E os partidos políticos? Nos insuportáveis programas obrigatórios apresentaram as reivindicações de junho como se fossem deles. Mas — como atores canastrões que são — fracassaram. Era pura encenação. A poeira baixou e voltaram ao tradicional ramerrão. Basta citar o troca-troca partidário no fim de setembro e a aprovação pelo TSE de mais dois novos partidos — agora, no total, são 32. Rapidamente esqueceram o clamor das ruas e voltaram, no maior descaramento, ao "é dando que se recebe."


E o Executivo federal? A presidente representa muito bem o tempo em que vivemos. Seu triênio governamental foi marcado pelo menor crescimento médio do PIB — só perdendo para as presidências Floriano Peixoto (em meio a uma longa guerra civil) e Fernando Collor. A incompetência administrativa é uma marca indelével da sua gestão e de seus ministros. Sem esquecer, claro, as gravíssimas acusações de corrupção que pesaram sobre vários ministros, sem que nenhuma delas tenha sido apurada.

Tentando ser simpática às ruas, fez dois pronunciamentos em rede nacional. Alguém lembra das propostas? Vestiu vários figurinos, ora de faxineira, ora de executiva, ora de chefe exigente. Enganou quem queria ser enganado. Não existe sequer uma grande realização do governo. Nada, absolutamente nada.



As manifestações acabaram empurrando novamente Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro plano da cena política. Esperto como é, viu a possibilidade de desgaste político da presidente, que colocaria em risco o projeto do PT de se perpetuar no poder. Assumiu o protagonismo sem nenhum pudor. Deitou falação sobre tudo. Deu ordens à presidente de como gerir o governo e as alianças eleitorais. Foi obedecido. E como um pai severo ameaçou: "Se me encherem o saco, em 2018 estou de volta."

Seis meses depois, estamos no mesmo lugar. A política continuou tão medíocre como era em junho. A pobreza ideológica é a mesma. Os partidos nada representam. Não passam de uma amontoado de siglas — algumas absolutamente incompreensíveis.

Política persiste como sinônimo de espetáculo. É só no "florão da América" que um tosco marqueteiro é considerado gênio político — e, pior, levado a sério.

A elite dirigente mantém-se como o malandro do outro Barroso, o Ary: "Leva a vida numa flauta/Faz questão do seu sossego/O dinheiro não lhe falta/E não quer saber de emprego/ Vive contente sem passar necessidade/Tem a nota em quantidade/Dando golpe inteligente"

Estão sempre à procura de um "golpe inteligente." Mas a farsa deu o que tinha de dar. O que existe de novo? Qual prefeito, por exemplo, se destacou por uma gestão inovadora? Por que não temos gestores eficientes? Por que não conseguimos pensar o futuro? Por que os homens públicos foram substituídos pelos políticos profissionais? Por que, no Congresso, a legislatura atual é sempre pior que a anterisr? Por que o Judiciário continua de costas para o país?

Não entendemos até hoje que a permanência desta estrutura antirrepublicana amarra o crescimento econômico e dificulta o enfrentamento dos inúmeros desafios, daqueles que só são lembrados — oportunisticamente — nas campanhas eleitorais.

O gigante continua adormecido. Em junho, teve somente um espasmo. Nada mais que isso. Quando acordou, como ao longo dos últimos cem anos, preferiu rapidamente voltar ao leito. É mais confortável. No fundo, não gostamos de política. Achamos chato. Voltamos à pasmaceira trágica. É sempre mais fácil encontrar um salvador. Que pense, fale, decida e governe (mal) em nosso nome.

Marco Antonio Villa é historiador




adicionada no sistema em: 05/11/2013 02:50

GATILHOS: UM TIRO NO BOLSO

05/11/2013
Pressão nas bombas: Governo cede e Petrobras pode aumentar 
gasolina


O governo deve autorizar a Petrobras a reajustar o preço da gasolina ainda este ano para cobrir parte da defasagem em relação ao mercado internacional, que já chega a 17,2%. O aval deve ser dado na próxima reunião do Conselho de Administração da empresa, no dia 22. Até semana passada, o governo estudava uma metodologia alternativa à proposta da Petrobras, mas teria concordado em implementar a política da estatal.

Pressão na bomba

Governo deve autorizar alta nos combustíveis este mês e aprovar metodologia da Petrobras

Geralda Doca, Danilo Fariello, Bruno Rosa e João Sorima Neto


O governo cedeu e deve, finalmente, autorizar a Petrobras a elevar o preço dos combustíveis em 2013 para cobrir parte da defasagem em relação ao mercado internacional e, ao mesmo tempo, dará aval à estatal para implementar uma nova política de preços, a partir do ano que vem. A metodologia apresentada pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, no entanto, sofrerá ajustes. Segundo um interlocutor da equipe econômica, um aumento pode ser concedido ainda este mês, sem pressionar a inflação. O percentual ainda está sendo discutido. A tendência é que a nova metodologia seja aprovada no dia 22, mas só valeria a partir de 2014.

Segundo essa fonte, embora haja preocupação com a implementação de uma política que implique reajustes automáticos nos preços (como quer a Petrobras), predomina agora o entendimento de que a companhia realmente precisa de uma política de preços, diante da necessidade de realizar pesados investimentos. A metodologia será, então, um indicador importante, no sentido de dar maior previsibilidade aos negócios da empresa.

A forma como a Petrobras apresentou a ideia — uma proposta pronta para entrar em vigor — desagradou integrantes da equipe econômica. Por isso, o governo está "aperfeiçoando" o cálculo, com o objetivo de que seja aprovada pelo Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no dia 22.


Os técnicos estão em busca de modelos com "travas" na fórmula que resultará nas alterações de preços. A Petrobras apresentou uma proposta em que os preços variam, principalmente, conforme as cotações internacionais, com gatilhos para reajustes ou reavaliações periódicas.


— A Petrobras não pode se considerar um país independente — disse uma fonte próxima à presidente Dilma Rousseff sobre a metodologia apresentada pela empresa.

O Palácio do Planalto tem evitado se posicionar sobre o tema, sobretudo depois de que o assunto ganhou ares de conflito entre Graça Foster e Mantega. Ela estaria pressionando pela aprovação da metodologia de aumentos livres conforme preços internacionais e ele teria se irritado com a atitude da empresa em "vazar" a discussão antes de aprovada.
Segundo uma fonte próxima de Dilma, a cúpula do governo está mediando essas posições e o resultado da disputa não deverá trazer vencedor e vencido, mas uma solução que atenda às diferentes demandas e, principalmente, com vistas ao maior retorno para o país.

— A tendência é de que ninguém terá tudo, com uma saída no meio do caminho.

Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a Petrobras registra uma perda estimada em R$ 3,7 bilhões entre janeiro e setembro deste ano com a diferença entre os gastos com a importação de derivados e a receita obtida com a venda de gasolina e diesel no mercado interno. Desse total, R$ 859,7 milhões são referentes à gasolina e R$ 2,9 bilhões, ao diesel.

Segundo o CBIE, a perda é referente a defasagem média de 17,2% entre os preços nacionais e internacionais da gasolina entre janeiro e setembro deste ano. No caso do diesel, essa diferença chega a 18,2%. Para Adriano Pires, do CBIE, mais importante que um reajuste pontual é a previsibilidade sobre a sua política de preços:

— Um reajuste entre 5% e 6% agora ajuda a zerar a defasagem atual. É vital. Porém, a alta só zera a defasagem agora da gasolina e, no caso do diesel, dá um alívio de dois a três meses. Se em janeiro as cotações subirem, as perdas voltam a ganhar força. Por isso, o mais importante é ter uma previsibilidade do que esperar em termos de reajuste.

Segundo Pires, o mercado quer clareza.

— Se o que é bom para o governo não é para a Petrobras, e vice-versa, como isso será transformado em fórmula? O assunto esquenta, pois temos uma inflação, com viés de alta e a eleição de 2014.

PAPÉIS TÊM ALTA DE 1,81%

Especialistas ressaltam que a Petrobras vem tentando se desfazer de ativos para aumentar seu caixa, apertado por causa das restrições do governo aos aumentos. Neste ano, até o fim de outubro, a estatal conseguiu US$ 4,8 bilhões com a venda de ativos, dos US$ 9,9 bilhões previstos. Mas o número foi insuficiente para dar conta dos investimentos, que somaram R$ 25,150 bilhões no terceiro trimestre. A geração de caixa operacional foi de R$ 13,091 bilhões.

— A Petrobras precisa de um reajuste desde o início do ano. O ideal é estar alinhado com os preços internacionais. A companhia tem pesados investimentos para fazer. Ter uma política de preços é importante neste momento — disse David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Em 30 de janeiro, houve um reajuste de 5,4% no diesel e outro de 6,6% na gasolina. Depois, em 5 de março, o diesel foi reajustado em mais 5%.

Até setembro, segundo a ANP, o dispêndio com a importação de derivados somou US$ 14,893 bilhões, aumento de 14% em relação a igual período de 2012. Já as receitas com exportação caíram 8,71%, para US$ 7,499 bilhões.

A proximidade de um reajuste e da aprovação de nova metodologia resultou numa valorização das ações da Petrobras na Bovespa. Os papéis PN subiram 1,81% e, junto com os papéis PNA da Vale (2,12%), ajudaram a bolsa a fechar em alta 0,78%, aos 54.436 pontos. O dólar fechou em queda de 0,53%, a R$ 2,245 na venda.

adicionada no sistema em: 05/11/2013 03:01

... E QUE TUDO MAIS/ VÁ P'RÔ INFERNO... (Roberto Carlos)

05/11/2013
Merval Pereira


Efeito colateral



Volto ao tema da proibição das biografias, que, como ressaltou o jurista Joaquim Falcão, muito além da violação da liberdade de expressão, "fere gravemente a liberdade acadêmica, a liberdade de ensinar e de pesquisar".

Quero chamar a atenção de um perigo, mais um, que ameaça a imprensa livre como efeito colateral da nova proposta apresentada por Roberto Carlos.

Em boa hora, portanto, a Academia Brasileira de Letras (ABL) decidiu ingressar como amicus curiae na ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que a Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel) move no Supremo Tribunal Federal contra a censura às biografias não autorizadas. 
Estará lutando também pela liberdade de imprensa, como veremos.

Essa nova tese de aceitar o fim da necessidade de autorização dos biografados com a ressalva de que caberá ao Judiciário decidir no caso a caso o que representa ou não violação de privacidade, na prática, mantém tudo como está hoje, foi uma forma inteligente que o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, encontrou para, seguindo o conselho do príncipe Falconeri no livro "O Leopardo" de Lampedusa, mudar para deixar tudo como está.

Os biografados, especialmente os que têm bons advogados, irão ao Judiciário contra os livros que contiverem informações que lhes desagradem e obterão liminares proibindo as publicações ou determinando a supressão do que incomodar, sempre com base na invasão da privacidade/intimidade.

Essa nova estratégia é muito mais perigosa do que a anterior, de exigir autorização prévia dos biografados, porque aparenta uma disposição para o diálogo que fez, erroneamente, que se pensasse que Roberto Carlos havia recuado de sua posição inicial, quando, na verdade, ele está apenas tentando se livrar do estigma de promover a censura prévia de livros.

Mas o seu objetivo continua o mesmo, controlar o fluxo da informação, tentando escrever a história de acordo com o seu ponto de vista, o único verdadeiro segundo sua curiosa maneira de ver as coisas.

Ocorre que o assunto pode acabar tendo consequências mais graves do que a já absurda censura às biografias: os mesmos artigos 20 e 21 do Código Civil que são interpretados como fundamentos para proibir as biografias também podem servir para proibir matérias jornalísticas que supostamente invadam a privacidade de alguém.

Os artigos 20 e 21 em momento algum citam a palavra "biografia". Eles protegem a imagem e a intimidade contra "usos comerciais", a edição de livros tem sido entendida como um uso comercial, e não há razão para que o jornalismo não o seja.

Se o STF entender que o Judiciário, na ponderação de casos concretos, pode decidir que a intimidade de uma pessoa pública deve prevalecer sobre o interesse da sociedade na livre circulação de informações, a porta estará aberta para que a mesma tese se aplique ao jornalismo.

Um advogado amigo me chamou a atenção para o fato de que, para o Procure Saber (ou o que restou dele), a invasão de privacidade não é violar a lei para obter ilegalmente informações sobre uma pessoa (invadir residência, arquivo pessoal, correspondência, computador, etc.).

Invadir privacidade seria divulgar informação que, ainda que disponível em fontes legais, no juízo subjetivo do biografado e, em última instância, do juiz que examinar o caso, esteja no âmbito da vida privada da pessoa.

Muito do dia a dia do jornalismo pode ser enquadrado nessa categoria, dependendo da avaliação subjetiva que se fizer. Teríamos que lidar com liminares por todo o Brasil alegando invasão da vida privada em matérias jornalísticas com respaldo em uma decisão do STF.

Existe um perigo efetivo por trás de tudo isso e é preciso lembrar que o advogado Kakay tem clientes que não gostam nada da imprensa e podem se beneficiar dessa decisão.


Os pontos-chave
1
A imprensa livre pode ser afetada por efeito colateral da nova proposta apresentada por Roberto Carlos no caso das biografias.
2
Roberto Carlos só está tentando se livrar do estigma de promover a censura prévia de livros, mas seu objetivo continua o mesmo, escrever a história de acordo com o seu ponto de vista.
3
Se o STF entender que o Judiciário pode decidir que a intimidade de uma pessoa pública deve prevalecer sobre o interesse da sociedade na livre circulação de informações, a porta estará aberta para que a mesma tese se aplique ao jornalismo.

adicionada no sistema em: 05/11/2013 02:48