PENSAR "GRANDE":

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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).

"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).

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sábado, setembro 26, 2009

EDITORIAL: O MUNDO ECONÔMICO E SEUS INTERESSES (NÃO-RARO) ESPÚRIOS...

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SARNEY vs. MÍDIA
Sem hesitações de consciência

Por Eugênio Bucci em 25/9/2009

Reproduzido do Estado de S.Paulo, 24/9/2009;
título original “Os inimigos”, intertítulos do OI

"A mídia passou a ser uma inimiga do Congresso, uma inimiga das instituições representativas." A declaração do presidente do Senado, José Sarney, publicada no Estado de S.Paulo no dia 16 de setembro, teve a repercussão de um acinte. Foi retrucada em editoriais, em revistas, em todo lugar. Foi assunto de capa do caderno "Aliás" de domingo (20/9). Ainda assim, há mais o que falar a respeito.

Em tese, as palavras do senador não seriam um disparate. Elas não se aplicam, nem de longe, ao Brasil de hoje, mas o regime de propriedade dos meios de comunicação pode, sim, entrar em contradição com a democracia. Foi com esse tipo de preocupação que, em março de 1934, os congressistas dos Estados Unidos fundaram a Federal Communications Commission (FCC). Desde então, o objetivo da agência reguladora americana não tem sido outro que não o de impedir formas sutis ou ostensivas de monopólio na área das comunicações, para assegurar a pluralidade de vozes e a concorrência saudável entre as diversas empresas do setor.

Se um só grupo econômico açambarca o controle das principais estações de rádio e TV numa determinada região, ele açambarca, também, o poder informal de direcionar o debate público segundo seus interesses privados. É nesse sentido que se costuma dizer que as legislações antitruste, aplicadas às comunicações, protegem a boa concorrência e a livre formação da opinião pública. O princípio é justo, tanto que faz parte do receituário democrático de vários países.

Controle familiar

A potencial contradição entre mercado e democracia, portanto, não é uma hipótese sem fundamento. Ela é conhecida e, desde muito tempo, sabe-se que só pode ser contida por meio da lei. Sem uma lei que os contenha, os monopólios tendem a tutelar a opinião pública e, numa ironia autofágica, podem sufocar até mesmo a livre-iniciativa dos que não digam amém a eles, monopólios.

No Brasil, já no ocaso da ditadura militar, tivemos um exemplo que se tornou clássico das distorções que os meios de comunicação podem gerar quando se divorciam da sociedade civil. No primeiro semestre de 1984, milhões de pessoas adensaram comícios nas capitais brasileiras, exigindo eleições diretas para presidente da República. Com exceções pontuais, as redes de TV, lideradas pela Rede Globo – que, na época, desfrutava a confortável condição de um monopólio tácito –, demoraram a registrar jornalisticamente as manifestações populares e, desse modo, ajudaram a ditadura a derrotar no Congresso a emenda que restabelecia as diretas (os brasileiros só reconquistariam o direito de votar para presidente em 1989).

Em 1984, enfim, o núcleo da radiodifusão brasileira, dependente das concessões da ditadura, acabou por se opor ao Estado de Direito. A "mídia", alguém poderia dizer, agiu como "inimiga" da democracia. Mas isso não foi declarado, naquele ano, pelo então presidente do PDS, a antiga Arena, o partido da ditadura, de nome José Sarney.

Em junho, após a derrota da campanha das Diretas-Já, ele, ao comando do PDS, virou vice na chapa de Tancredo Neves, que disputaria a eleição indireta para a Presidência da República. Tancredo venceu, mas nunca foi empossado. Um dia antes, internou-se às pressas no Hospital de Base, em Brasília, para morrer em questão de semanas. Quem tomou posse foi o vice. Que virou presidente. Mais adiante, sua família se tornaria dona da afiliada da Rede Globo no estado do Maranhão. Sem hesitações de consciência. Nos anos 1980 e 90, afinal de contas, a "mídia" não era "inimiga das instituições representativas". Ao contrário, até dava uma forcinha.

Reações furiosas

Agora, na voz do presidente do Senado, esse discurso de "mídia inimiga" adquire uma sonoridade de dadaísmo político. Para começar, falta-lhe precisão semântica. O que é que se quer designar com esse novíssimo substantivo, "mídia"? Seria um sinônimo de imprensa? Se sim, vamos com calma. "Mídia" e "imprensa" constituem objetos distintos. A "mídia", um aportuguesamento da pronúncia inglesa da palavra latina media (meios), plural de medium (meio), é um vocábulo que, rigorosamente, não deveríamos pronunciar nunca. Deveríamos falar simplesmente "meios". Seria mais claro e menos afetado.

Mas a tal "mídia" conseguiu ingresso no dicionário. E, lá, engloba todos os meios e todos os seus conteúdos, dos outdoors às telas de cinema, dos programas de auditório aos caminhões com alto-falante que anunciam pamonhas, dos jornais diários às propagandas de automóveis coladas nas poltronas de avião. Dizer que essa imensidão de mensagens e veículos se tenha voltado contra o Congresso Nacional é apenas uma sandice. Não faz sentido nenhum.

Já a imprensa é uma instituição à parte, estabelecida pela vigência da liberdade de expressão e do direito à informação. Ela tem seu corpo nos jornais e nas revistas, nas emissoras de rádio e televisão, nos blogs e no debate público, mas sua dimensão maior, não corpórea, é mesmo a liberdade. A imprensa responde pela mediação dos debates de interesse comum na esfera pública, a mesma esfera de onde saem os representantes do povo. A instituição da imprensa não representa o povo, ao menos não o representa como os senadores e deputados, que recebem delegação formal para isso. A imprensa vive junto com o povo, refletindo e emulando os diferentes pontos de vista que animam a esfera pública. A imprensa dá voz, amplificada, às perguntas que a sociedade tem direito de dirigir ao poder, o mesmo poder em que ora se encontram certos senadores que reagem com fúria às indagações dos eleitores.

Tudo isso apenas para dizer que, não, a imprensa não é inimiga das instituições representativas. Ela tem sido, isso sim, sua melhor – e às vezes única – amiga. Inimigos das instituições democráticas são os patrimonialistas que as parasitam – e aqueles que os acobertam.

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HONDURAS & PITTSBURGH
Balada das escolhas duvidosas

Por Luciano Martins Consta em 25/9/2009

Comentário para o programa radiofônico do OI, 25/9/2009

Como toda a imprensa internacional, os principais jornais brasileiros voltam suas atenções na sexta-feira (25/9) para alguns acontecimentos que retratam o estado do mundo.

O principal destaque das edições do Estado de S.Paulo e do Globo foi para a decisão do Conselho de Segurança da ONU estabelecendo limites para a produção e estocagem de armas nucleares. Mas o encontro dos dirigentes dos vinte países mais desenvolvidos, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, perde espaço para notícias de Honduras, onde o presidente deposto Manuel Zelaya seguia, até então, refugiado na embaixada brasileira.

A despeito da importância das negociações em Pittsburgh, onde ficou decidido que o G-20 vai substituir o G-8, formado pelos sete países mais ricos e a Rússia – o que coloca o Brasil na cúpula das nações que vão reorganizar a política econômica global –, Folha e Globo preferem dar destaque a declarações dos golpistas de Honduras ameaçando o Brasil.

Destaque esdrúxulo

Para quem acompanha com atenção os acontecimentos internacionais, pode parecer estranho que alguns jornais considerem mais importante a reação de um punhado de aventureiros num país centro-americano pouco expressivo do que a mais concreta manifestação das mudanças geopolíticas que afetam o mundo contemporâneo.

Além disso, há dois fatos relevantes sobre Honduras. Um deles é a decisão dos líderes golpistas de aceitar um diálogo com o presidente deposto, o que aponta um caminho para o fim da crise e o acerto da comunidade internacional de não reconhecer o governo provisório. Essa foi a notícia escolhida pelo Estadão.

Outro fato é um comunicado do governo interino de Honduras acusando o Brasil de haver apoiado a volta de Manuel Zelaya ao país e ameaçando responsabilizar o governo brasileiro por qualquer consequência do refúgio dado a Zelaya na embaixada em Tegucigalpa.

Inconfidência de um colunista da Folha dá a entender que a direção do Globo mandou seu enviado especial a Pittsburgh dar mais atenção à declaração dos golpistas hondurenhos do que à reunião dos dirigentes do G-20. Como resultado, temos a Folha e o Globo destacando na primeira página um simples bate-boca provocado por aventureiros do que uma decisão que altera o quadro do poder econômico no mundo.

Por essas e outras, a imprensa brasileira deixou há muito de ser fonte confiável para pesquisas acadêmicas.

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LULA , O PAUTEIRO
Pistas de uma entrevista reveladora

Por Rolf Kuntz em 22/9/2009

A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal Valor Econômico – quinta-feira, 17/9 – foi a mais importante matéria econômica e política das três primeiras semanas de setembro. Falando com franqueza, o presidente afirmou seu direito, em nome do "interesse do país", de tentar interferir na administração de qualquer empresa, estatal ou privada. Contou como tem dado ordens à diretoria da Petrobras e como decidiu a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. "Comprei um banco", foi a expressão usada em relação a esse caso. O mesmo sujeito (eu) foi usado na frase seguinte: "Quando fui comprar [via BB] 50% do Banco Votorantim, tive de me lixar para a especulação".

Na mesma entrevista, ele anunciou a intenção de enviar ao Congresso Nacional um projeto de consolidação das leis sociais, um bom tema, segundo explicou, para debate durante a campanha eleitoral. É um material precioso para quem quiser entender a concepção de Lula de suas funções e de seus poderes na presidência da República e sua estratégia para as eleições de 2010.

Boi na mídia

No mesmo dia, quinta-feira (17), todos os jornais publicaram grandes matérias sobre como a JBS, por meio da fusão com a Bertin e da compra da americana Pilgrim´s Pride, se tornou a terceira maior empresa não financeira do Brasil, pelo critério da receita líquida. O assunto foi explorado também nos dias seguintes, com detalhamento dos últimos negócios e dos planos da empresa. As coberturas mais amplas e com a apresentação mais completa da história do grupo – a transformação de um açougue num complexo internacional com 40 mil empregados, em meio século – apareceram na Folha de S.Paulo e no Estado de S.Paulo.

A expansão do JBS era um assunto obviamente suculento e os jornais, de modo geral, foram capazes de explorá-lo. Mas histórias saborosas têm sido muito menos frequentes do que nos melhores tempos da falecida Gazeta Mercantil, quando fatos aparentemente comuns, como a atividade de um negociante de passes de ônibus no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, rendiam boas narrativas.

A última novidade na área fiscal foi a decisão do governo de reduzir mais uma vez o superávit primário, o dinheiro posto de lado para o serviço da dívida pública. A justificativa oficial foi a liberação de R$ 5,6 bilhões para investimentos e essa explicação apareceu em todas as matérias. Em alguns jornais apareceram coberturas um pouco mais ambiciosas. Desse total, R$ 1,2 bilhão irá para aplicações vinculadas a emendas parlamentares, segundo o Globo. É um detalhe politicamente significativo e o jornal traz, na mesma reportagem, opiniões de parlamentares oposicionistas e governistas e um quadro dos atuais problemas orçamentários.

A Folha de S. Paulo apresentou um material mais curto, mas também mencionou o atendimento a "pressões dos congressistas aliados por mais despesas em seus redutos eleitorais". Além disto, mostrou as dificuldades de execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), suposta destinação das verbas excluídas do cálculo da meta fiscal. Os dois jornais poderiam ter ido mais fundo na discussão do assunto e na informação sobre o ritmo dos investimentos custeados pelo Tesouro.

Poderiam ter mencionado, por exemplo, números disponíveis no site da ONG Contas Abertas: até 10 de setembro foram desembolsados R$ 4,84 bilhões dos R$ 50,45 bilhões orçados para o ano – apenas 9,61% do total. Se é este o desempenho, tem sentido falar em liberação de recursos para investimento? Os dois jornais, de toda forma, foram bem além da informação oficial e isso valorizou sua cobertura.

PNAD 2008: novidades e manchetes

A divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008 rendeu grandes matérias no fim de semana. A pesquisa mostra a situação do país antes do grande impacto da crise econômica. De modo geral, os jornais exploraram informações contrastantes, bem exemplificadas na manchete do Globo: "Emprego cresce no Brasil, mas educação não avança".

A PNAD é importante pela amplitude de suas informações. Permite acompanhar praticamente sem defasagem a evolução dos principais indicadores sociais do Brasil. Seus números mostram, por exemplo, a redução da mortalidade infantil nos últimos cinco ou dez anos, a elevação dos padrões de consumo. Ao lado de informações positivas, como essas, a pesquisa fornece um quadro muito menos animador sobre a redução do analfabetismo funcional, ainda acima de 20% na população com idade igual ou superior a 15 anos.

Mas não será um exagero tratar com destaque, como fizeram os jornais, a variação de indicadores sociais num período de apenas um ano, de 2007 para 2008?

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A internet nas eleições de 2010

Por Lilia Diniz em 23/9/2009

A polêmica regulamentação do uso da internet na campanha eleitoral de 2010 foi o tema do Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (22/9) pela TV Brasil. Semana passada, após intensos debates, os senadores fecharam um acordo e aprovaram a liberdade irrestrita do uso da rede durante a campanha. A nova lei – que é parte da reforma eleitoral e precisará ser sancionada até o dia 2 de outubro para ter validade nas próximas eleições – define que a manifestação de pensamento é livre, desde que o usuário se identifique. Se o candidato sentir-se ofendido pelo conteúdo publicado, poderá exigir direito de resposta. Outra mudança é que os sites dos candidatos poderão permanecer no ar até no dia das eleições. E os debates na internet devem seguir as mesmas regras das emissoras de rádio e TV, o que provocou intensas reações.

O convidado do debate em São Paulo foi o jornalista Caio Tulio Costa. Primeiro ombudsman da imprensa brasileira, trabalhou na Folha de S.Paulo durante 21 anos. Foi um dos fundadores do UOL, do qual foi diretor geral até 2002. Ex-presidente do iG, atualmente é consultor da Oi e professor de Ética Jornalística. Marcus Figueiredo foi o convidado no estúdio do Rio de Janeiro. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), é diretor de pesquisas do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), onde coordena o Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (DOXA). O estúdio de Brasília recebeu Eduardo Azeredo, senador pelo PSDB-MG, um dos relatores da reforma eleitoral; especialista em Informática, foi presidente do Serpro.

Comparação indevida

Antes do debate ao vivo, na coluna "A mídia na semana" o jornalista Alberto Dines comentou fatos de destaque nos últimos dias. O primeiro tema da seção foi o aniversário de 20 anos da criação do cargo de ombudsman, considerado por Dines como um avanço e "uma barreira à arrogância dos jornalistas". Em seguida, destacou a estreia do documentário futurista Era da Estupidez, que mistura realidade e ficção e pretende alertar a população para o perigo das mudanças climáticas. O último assunto da coluna foi a revelação de que o piloto de Fórmula 1 Nelsinho Piquet bateu propositalmente com seu carro durante uma corrida para beneficiar um companheiro de equipe [ver íntegra abaixo].

No editorial que precede o debate ao vivo, Dines avaliou que a aprovação da lei "revela que o bom senso afinal começa a prevalecer na esfera legislativa". Para Dines, a versão anterior do projeto "tratava um meio de comunicação ultramoderno com uma ótica antiga e retrógrada". O jornalista também frisou que a internet não é uma concessão pública, por isso não pode ser comparada ao sistema de radiodifusão [ver íntegra abaixo].

Livre por natureza

A reportagem exibida antes do debate entrevistou o ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Para o juiz, a internet é um território livre por vocação e permite tanto a participação ativa dos internautas quanto a comunicação de idéias e programas de governo por parte dos políticos e dirigentes partidários. "É o reino da interação em tempo real", afirmou. O ministro explicou que é pertinente que a discussão seja travada no Congresso Nacional. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atua em um segundo momento, na fase da interpretação das leis já existentes e das analogias possíveis da internet como outras mídias. O fato de os debates entre candidatos promovidos na rede terem que obedecer às mesmas regras da radiodifusão foi criticado pelo ministro.

O jornalista Marcelo Tas analisou a tentativa de controle das campanhas eleitorais no mundo virtual. "A internet ser livre não é desvantagem para ninguém e não há outra opção porque ela é livre mesmo que a gente não queira. A internet não tem centro, não tem dono. Não tem como controlar o fluxo de informação", disse. Os excessos de liberdade que possam ocorrer na rede mundial de computadores são melhores do que qualquer tentativa de cerceamento de expressão porque é através da "fricção" de mentiras e boatos que os fatos são velozmente desmentidos na internet. "O principal medo dos políticos vêm do DNA deles e de nós mesmos, que nascemos no mundo analógico, que é o controle. Os políticos estão acostumados a serem donos de canais de televisão, o que é ilegal, e eles controlam a informação. Eles têm assessores, advogados que processam jornalistas e pensam que controlam a informação", disse Tas.

O falso dilema

No debate ao vivo, Dines pediu ao senador Eduardo Azeredo para contar o histórico do projeto. O parlamentar explicou que a lei já existia e tinha textos fixando regras para as emissoras de rádio, canais de televisão, a mídia impressa e a rede mundial de computadores. O TSE, ao fazer a regulamentação do que estava previsto, igualando a rede virtual à radiodifusão, determinou que a internet só poderia ser usada por páginas pessoais dos próprios candidatos. "Essa é a situação hoje, antes da lei. Você tem a internet apenas para sites de candidatos", disse. A Câmara do Deputados fez algumas alterações, como a que permite doações pela rede, e modificou o artigo que a equipara à radiodifusão, apenas "mudando um pouco o número de artigos e coisas assim".

Quando o projeto chegou ao Senado foi discutido em comissões e audiências públicas, mas esse assunto não foi levantado em nenhuma das 110 emendas propostas pelos senadores. Azeredo destacou que "isso veio lá de trás". Constava na lei atual passou pela Câmara e, na ausência de emendas, foi mantida pelos senadores. O senador ressaltou que sempre defendeu a liberdade na rede mundial de computadores. "Era uma discussão sobre um falso dilema porque todos são a favor da liberdade na internet. O que eu estava desde o início insistindo é que nós não podemos deixar a legislação sem uma menção específica, senão ia prevalecer a opção do TSE", disse.

Quem deve ditar as regras?

Caio Túlio Costa vê com otimismo e apreensão o uso da web no pleito de 2010. Para o jornalista, é preciso não esquecer que o TSE vinha "legislando – o que não deve fazer – e definiu o uso da internet até a última eleição". A nova lei tem pontos positivos e algumas incongruências, na opinião de Caio Túlio. O jornalista receia que, ao criar as normas para a próxima eleição, o TSE desfaça pontos positivos já conquistados e queira novamente restringir o uso da rede mundial de computadores. "O nosso Congresso sofre de uma fúria legisferante. Eles tendem a regular tudo e inclusive tendem a regular a internet", criticou. Caio Túlio espera que o presidente Lula vete o artigo que compara a rede às concessões de radiodifusão e lançou um apelo para que a sociedade fique atenta ao que o TSE pode vir a fazer contra a esta lei.

O cientista político Marcus Figueiredo está satisfeito com a aprovação da lei, mesmo tendo ressalvas a alguns pontos, porque há muitos anos o Legislativo não vota uma mudança na legislação que favoreça o eleitor. "Nas anteriores, sempre foram mudanças na lei eleitoral restringindo a circulação da informação", disse. Para Figueiredo, o TSE tem a tradição de normatizar o resultado da legislação e neste momento pode, por analogias, fazer restrições. Há um problema delicado do ponto de vista político, na opinião de Figueiredo: por ser capaz de mobilizar grandes grupos de pessoas para o processo eleitoral, a rede de computadores tem maior capacidade de espalhar mentiras. E questionou como o TSE irá coibir a boataria e a repetição de inverdades na rede.

A polêmica do anonimato

Eduardo Azeredo garantiu que, apesar de complicado do ponto de vista operacional, é possível checar quem postou comentários indevidos na rede. Caio Túlio Costa, que trabalha com a rede de computadores desde 1995, afirmou que nos dois grandes portais onde atuou nunca houve a impossibilidade de verificar a origem de um crime cometido na rede de computadores. E destacou que os provedores e empresas de telecomunicações têm colaborado de forma eficiente com a Justiça para localizar a conexão que permitiu o crime. "O anonimato é uma questão constitucional, você não pode evitar. As pessoas podem estar anônimas na internet e escrever o que quiser", disse. Cabe aos veículos e políticos a vigilância para não permitir comentários indevidos.

Os candidatos que se sentirem atingidos podem buscar reparação judicial. "A realidade que nós estamos vivendo é extremamente diferente da realidade de um meio de comunicação tradicional, broadcasting, que é comandado e administrado por poucos. Nós estamos em uma rede mundial, onde cada pessoa pode administrar o seu conteúdo", disse. Marcus Figueiredo sugeriu que o TSE faça uma parceria com o site de buscas Google para captar na rede instantaneamente os assuntos que podem ser do interesse da lisura da eleição e coibir abusos e fraudes.

Riscos vs. benefícios

Dines perguntou a Caio Túlio se há algum risco no uso da internet na campanha eleitoral. "Eu não vejo nenhum perigo e as aberrações serão corrigidas na própria rede", afirmou. A internet não será ainda "um estouro" nas próximas eleições porque são as primeiras que o Brasil vai enfrentar com a rede "razoavelmente livre". Mas o jornalista acredita que ainda assim será "um aprendizado fantástico", porque a rede tem um grande fator de mobilização "extraordinário" que será benéfico para as pequenas candidaturas.

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Legislação positiva

Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 521, exibido em 22/9/2009

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

O Congresso ultimamente não tem nos oferecido motivos de muita satisfação. Muito ao contrário. Mas a aprovação pelo Senado e, em seguida, pela Câmara do projeto de lei nº 141 de 2009, que trata da cobertura eleitoral pela internet, revela que o bom senso, afinal, começa a prevalecer na esfera legislativa.

A satisfação é ainda maior quando se sabe que o projeto de lei que estava sendo elaborado no Senado era muito restritivo e o texto finalmente aprovado ainda contém cláusulas limitadoras, insensatas, mas, em linhas gerais, é liberal e contemporâneo. Este era o problema da versão anterior, que tratava um meio de comunicação ultramoderno com uma ótica antiga e retrógrada.

Outro dado positivo que merece ser registrado. Desta vez o Legislativo não se omitiu como aconteceu com a Lei de Imprensa e a questão da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, remetidas indevidamente ao Judiciário.

Quem faz as leis são os legisladores, aos magistrados cabe apenas analisar a sua aplicação. Em algum momento a Justiça Eleitoral será convocada para analisar o decreto 141, mas a sua estrutura foi desenhada na casa apropriada com os procedimentos apropriados. Uma das falhas que permaneceram na lei precisará ser corrigida de alguma forma, talvez pelo veto presidencial: a web não é uma concessão pública, não pode ser comparada com o sistema de radiodifusão, seu funcionamento está mais próximo da imprensa do que da mídia eletrônica.

De qualquer forma já sabemos que a internet não ficará de fora nas próximas eleições.

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A mídia na semana

** A imprensa não comemorou nem lembrou. Mas deveria. Os 20 anos da criação do cargo de ombudsman não é apenas uma façanha da Folha de S.Paulo, todos os grandes jornais deveriam alegrar-se com este avanço e, ao ignorá-lo, mostram como estão atrasados. O cargo de ombudsman, ouvidor, representa uma barreira à arrogância dos jornalistas. Fingir que esta arrogância não existe é uma arrogância ainda maior. A Folha de S.Paulo e todos os nove jornalistas que ocuparam a função estão de parabéns.

** Dia mundial sem carro, início da primavera. No hemisfério sul, abertura da conferência da ONU sobre clima e megaestreia da "Era da estupidez" em 40 países. Não se trata de uma superprodução de Hollywood, é uma veemente denúncia contra a estupidez da humanidade que não quer enxergar os perigos das mudanças climáticas. Este é um filme que pode ter um final menos infeliz, desde que essa estupidez seja vencida.

** O picadeiro do circo corre o risco de transformar-se em mar de lama. A Fórmula-1 está vivendo o pior momento de sua história. Felizmente sem mortes, o episódio compromete dramaticamente a lisura de um espetáculo que ainda se autodesigna como esportivo. O banimento do chefão Flávio Briatore sem que a Renault sofresse qualquer punição pela armação do acidente em Cingapura escancara um jogo de interesses que ninguém até hoje teve a coragem de desmascarar. Este é um caso que a mídia não pode esquecer. Voltaremos a ele.

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