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segunda-feira, novembro 26, 2007
CPMF: REVOADA TUCANA
O Planalto chega mesmo a insinuar, nos subterrâneos, que o próprio Tasso Jereissati (CE), que deixou a presidência do PSDB na última sexta-feira (23), pode ajudar o governo a esticar a vigência do imposto cheque até 2011. O blog ouviu dois dos principais líderes tucanos sobre o assunto. Sérgio Guerra (PE), novo presidente do PSDB; e Arthur Virgílio, líder dos tucanos no Senado, afirmam que o governo faz jogo de cena. Asseguram que, na hora “H”, Lula vai quebrar a cara. Não terá, segundo dizem, um mísero voto do partido.Alheio às manifestações, o governo continua empenhado em capturar tucanos. Monta uma armadilha atrás da outra. Vale-se de dois argumentos: 1) todos os governadores do PSDB querem que a CPMF sobreviva; 2) na reunião em que decidiu –por nove votos contra quatro— interromper as negociações com o governo, a bancada do PSDB não fechou questão.“Se for preciso, nós fechamos questão”, disse Arthur Virgílio ao repórter. “Se não fechamos é porque temos absoluta convicção dos 13 votos. Não estamos vendo necessidade de fechar questão”. Sérgio Guerra ecoa Virgílio: “Não cogitamos fechar questão porque temos absoluta certeza de que teremos os 13 votos da bancada. Nós sempre votamos do mesmo jeito”.Em “parlamentês”, o idioma dos parlamentares, o “fechamento de questão” é uma ferramenta de que dispõem as legendas para obrigar os seus filiados a seguir a orientação partidária. Sob pena de arrostar punições que podem ir da mera advertência ou suspensão até a expulsão. Parceiro do tucanato na guerra congressual contra a CPMF, o DEM fechou questão. Nem por isso ficou livre do assédio governista.A julgar pelo que dizem reservadamente, os tucanos que o Planalto considera cooptáveis corroboram as previsões de Virgílio e Guerra. Tome-se o exemplo de João Tenório (AL). É chegadíssimo ao governador tucano de alagoas, Teotônio Vilela Filho, aliado de Lula. A mulher do senador, Fernanda, é irmã do governador. A despeito das relações familiares e de amizade, Tenório soa no Senado como um dos mais aguerridos adversários da CPMF. Dono da maior produtora de água de coco do país, o senador defende a redução da carga tributos que a União impõe às empresas. E vê no fim da CPMF uma oportunidade para forçar o governo a fazer uma reforma tributária.
O senador Cícero Lucena (PB) encontra-se na órbita de influência do governador tucano da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Lula recebeu Cunha Lima em audiência na quinta-feira (22). Prometeu-lhe verbas do PAC. E instou-o a ajudar o governo com a CPMF. Noves fora os ataques que o governador fez aos senadores de seu partido que tramam contra o tributo, a investida de Lula não produziu efeitos práticos. Ouvido pelos colegas depois do encontro palaciano, Lucena, que votara contra as negociações tucano-governistas na reunião da bancada, disse que mantém a posição anti-CPMF.Quanto a Eduardo Azeredo (MG) e Lúcia Vânia (GO), torciam para que o partido fechasse um acordo com o governo. Na reunião da bancada, votaram a favor da continuidade da negociação. Mas, vencidos, informaram à cúpula que não ousarão dissentir da opinião da maioria na hora de votar em plenário. Diferentemente do que ocorre nos processos de cassação de mandato, a votação da CPMF, uma emenda constitucional, é aberta. O que não facilita a vida de eventuais traidores. Dizer que vai votar de um jeito e votar de outro jeito pode significar a execração do quinta-coluna. Execração pública e interna. Para complicar os planos do Planalto, José Serra e Aécio Neves, os dois presidenciáveis do PSDB, não dirigiram à bancada de senadores nenhum pedido peremptório. Lula aposta no poder de influência da dupla para virar votos tucanos. Mas os governadores de São Paulo e de Minas movem-se no tabuleiro com uma discrição que destoa da confiança que o Planalto depositou neles. Não ousaram dar um xeque mate na bancada. Ao contrário.Serra e Aécio manifestaram suas preocupações com os efeitos do extermínio da CPMF, mas deixaram os senadores à vontade para jogar o jogo parlamentar que mais lhes aprouver. Em encontro reservado que mantiveram com lideranças tucanas do Senado, na quinta-feira (22), os dois governadores foram informados de que a o voto da bancada é irreversível. Disseram que, a essa altura, uma meia-volta significaria a desmoralização do partido. Presente à reunião, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concordou.
Escrito por Josias de Souza, Folha Online, 2611.
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