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segunda-feira, março 22, 2010

ELEIÇÕES 2010 [In:] EM BUSCA (também) DAS ''MULHERES DE ATENAS''

A batalha pelo voto feminino

À beira de um ataque ao voto feminino
Autor(es): Alana Rizzo
Correio Braziliense - 22/03/2010

Pré-candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) tem o desafio de conquistar as mulheres. Diferença nesse segmento na pesquisa CNI/Ibope é de 12 pontos percentuais em favor de Serra

Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press - 4/2/10
Dilma Rousseff prepara ofensiva, mas tentará evitar um tom feminista


Pérolas e contas. Ministra e candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff é famosa pela habilidade com os números. Agora tenta mostrar intimidade também com o universo cor-de-rosa. Dilma insiste que pode ser mais feminina. Trocou os tons sóbrios pelas cores vivas. Personalizou discursos e reúne amigas – seja em blogs ou em almoços. Ainda assim, não conseguiu se aproximar das mulheres.

...
Última pesquisa divulgada, a CNI/Ibope, mostra que a chefe da Casa Civil está a 12 pontos percentuais de diferença de seu adversário nas urnas, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), no conjunto das eleitoras. Ele tem 37% das intenções de voto contra 25% de Dilma. Integrantes da campanha da ministra articulam para os próximos meses ações para agradar às brasileiras e tirar, de uma vez por toda, a imagem de durona da ministra.


“Mulheres olham a biografia de um candidato”, diz ao Correio o coordenador da campanha de Michelle Bachelet à Presidência do Chile, Ricardo Solari. Médica, a presidente ocupou os cargos de ministra da Saúde e da Defesa no governo do ex-presidente Ricardo Lagos. Assim como a ministra Dilma, lutou contra a ditadura militar em seu país. A chilena foi exilada. Quando retornou, participou de uma organização não governamental para ajudar os filhos do regime militar. “Ela transmite a imagem de uma política preocupada com os mais pobres e necessitados”, explica Solari. Para o ex-ministro do Trabalho, nas eleições de 2006, os chilenos buscavam uma figura que representasse valores nobres da política e passasse credibilidade. “Tinha que ser alguém que ao mesmo tempo trouxesse perspectivas de melhorar as nossas instituições e garantisse transparência e continuidade ao que estava sendo feito”, afirma.

Dilma é economista. Foi secretária municipal da Fazenda em Porto Alegre, secretária estadual de Minas e Energia e em 2002 foi indicada para o cargo de ministra de Minas e Energia. Com a crise do mensalão e a saída de José Dirceu da Casa Civil, assumiu o posto. É conhecida pelo temperamento forte. Chegou a dizer que era a única durona no meio de homens fofos, em referência aos colegas de governo.

Mantém a defesa das mulheres, mas ultimamente evita o tom feminista. “Vamos ter um Brasil formado por homens e mulheres livres, homens e mulheres cidadãos igualmente responsáveis para construir não apenas um país, mas uma civilização brasileira. Para isso, as mulheres são imprescindíveis”, disse durante evento em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres. Naquele dia, Dilma tentou se aliar às mães trabalhadoras, destacando feitos deste governo. “Com mais créditos que demos por este país afora, com menos juros e impostos menores, cada vez mais mulheres puderam comprar lava-roupas, micro-ondas, aspirador de pó e conquistar tempo livre, tempo para terem suas atividades como cidadãs e como seres humanos plenos.”

Solari afirma que nem só de “Margaret Tatchers” sobrevivem as mulheres na política. Para ele, a “alma feminina” é fundamental. João Santana, marqueteiro de Dilma, sabe disso e vem preparando a ministra para deixar florescer o seu lado maternal. Fotos com crianças, entrevistas sobre sua vida pessoal e a expectativa de ser avó fazem parte da estratégia.

Imagem

A imagem de Bachelet foi trabalhada para deixar à mostra seu lado mãe, afetuosa e respeitosa. A decisão de concorrer pelo partido foi tomada com calma. A então ministra da Defesa se reuniu com os principais representantes do partido, escutou os argumentos favoráveis à sua candidatura e só depois disse que encararia a responsabilidade. Mas impôs suas condições: não estava disposta a se lançar sobre qualquer custo e tampouco seria usada pelos correligionários. Entrava em cena, o perfil feminino de fazer política: acolhedor, mas sem competição. Os reflexos foram sentidos pelos eleitores nos discursos e nas ações. As primeiras pesquisas já apontavam uma grande vantagem nas áreas mais pobres do país.

Na Europa, Ângela Merkel é chanceler da Alemanha desde 2005. Filha de um pastor luterano, acompanhou o pai na Alemanha Oriental para cuidar de uma paróquia. Logo após a reunificação da Alemanha, aos 35 anos, foi eleita deputada no Parlamento alemão. Aos 45, foi escolhida presidente da bancada parlamentar do partido União Cristã Democrática (CDU). Hoje, a doutora em física é responsável por uma das maiores economias mundiais. A ex-ministra da Mulher, da Juventude e do Meio Ambiente é considerada simpática, inteligente, competente e com um estilo de vida modesto. Fortaleceu-se passando uma imagem de líder europeia e não só da Alemanha.

Na última semana, se posicionou a favor da exclusão da Grécia da União Europeia por conta da crise econômica naquele país e foi bastante criticada pela França. Há dois anos, Merkel viu seu nome estampar os jornais não por conta de suas posições políticas e sim pelo decote do vestido que usou na inauguração da nova Ópera de Oslo, na Noruega.

Dificuldades

“Na política, as mulheres têm dois desafios. Primeiro, fazer o eleitor identificar nela a capacidade para o cargo e depois, enfrentar as questões típicas do gênero”, diz o coordenador da campanha de Bachelet, comemorando o fato de o Brasil ter hoje duas candidatas ao cargo mais importante. Além de Dilma, a senadora Marina Silva (PV-AC) também é candidata à Presidência. Tradicionalmente, as mulheres candidatas herdaram votos de homens, principalmente dos maridos. Na América Latina, 10 mulheres já ocuparam o cargo de presidenta. Sete delas foram eleitas, sendo que cinco contaram com o apoio dos “padrinhos”. Três ocuparam a Presidência interinamente.

Pesquisa realizada pelo Observatório de Gênero, do governo federal, revela alguns dos motivos para baixa participação das mulheres na política. Entre eles, a persistência da cultura patriarcal que associa homens ao espaço público e mulheres ao espaço privado, o peso do poder econômico no processo eleitoral e o custo crescente das campanhas favorecendo as candidaturas masculinas, o pouco tempo dedicado à ação política pelas mulheres, em grande parte pela sobrecarga de responsabilidades e as trajetórias políticas das mulheres, menos consolidadas relativamente às dos homens.

Em seus discursos, Dilma garante que o Brasil está preparado para ter uma mulher presidente. “E as mulheres, em geral, também estão preparadas para isso”. A ministra sabe o desafio que tem pela frente. Assim como ela, as eleitoras são exigentes. A pesquisa CNI/Ibope revelou que em todas as áreas analisadas deste governo: taxa de juros, combate ao desemprego, segurança pública, combate à inflação, fome e pobreza, impostos, meio ambiente, saúde e educação o índice de reprovação das mulheres foi maior.


OS NÚMEROS

25% - Intenção de voto em Dilma na pesquisa CNI/Ibope

37% - Intenção de voto em José Serra na pesquisa CNI/Ibope

Mulheres pela América

Conheça algumas políticas que chegaram à Presidência de seus países

Maria Estela Martinez de Peron (Argentina)
Isabelita virou presidente depois da morte do marido, Juan Domingo Perón, em 1974. Ela era vice na chapa Perón-Perón. Ficou dois anos no poder, sendo deposta pela junta militar de Jorge Rafael Videla. Seu governo foi marcado por polêmicas, como o desvio de recursos para o financiamento de grupo militar e a forte crise econômica devido à desvalorização da moeda.

Violeta Chamorro (Nicarágua)
Entrou na política depois do assassinato do seu marido, Pedro Joaquin Chamorro, opositor ao governo ditatorial de Anastásio Somoza. Foi eleita presidente em 1990, derrotando os sandinistas liderados por Daniel Ortega. Promoveu reformas significativas no Exército e na economia do país. Ficou durante sete anos no poder.

Lidia Gueiler Tejada (Bolívia)
Em 1979, a presidenta da Câmara dos Deputados e liderança feminista, Lidia foi designada chefe de Estado pelo Congresso, para substituir o coronel Alberto Natusch, que havia derrubado Wálter Guevara Arce com um sangrento golpe de Estado. Lidia governou por oito meses, em meio à profunda crise institucional, sofreu uma tentativa de assassinato dentro do palácio presidencial e, com outro golpe de Estado, foi deposta pelo general Luis García Meza, que a mandou para o exílio.

Mireya Moscso (Panamá)
Viúva de Arnulfo Arias, presidente por três mandatos, foi eleita em 1999 pelo Partido Arnulfista. Apesar das promessas de diminuição da pobreza, melhoria da educação e desaceleração do processo de privatização, seu governo foi marcado por constantes denúncias de corrupção.

Laura Chinchilla (Costa Rica)
A cientista política foi vice-presidente e ministra da Justiça antes de ocupar a Presidência este ano. É conhecida pela postura conservadora em questões como a legalização do aborto. O partido de Laura, o PLN, domina a política nacional há seis décadas.

Michelle Bachelet (Chile)
Primeira mulher eleita presidente na América do Sul. O índice de aprovação chegou a 81% em janeiro deste ano, durante o processo de sucessão presidencial. No entanto, sua popularidade não foi suficiente para eleger o candidato oficial, o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz, da Concertación, coalizão dominada pelo Partido Democrata Cristão e pelo Partido Socialista, que governa o Chile desde 1989.

Cristina Kirchner (Argentina)
Mulher do ex-presidente e deputado Néstor Kirchner, foi eleita em 2007 e cumpre mandato até 2011. Cristina é advogada e, antes de sua eleição, havia sido eleita senadora pelas províncias de Santa Cruz e Buenos Aires.
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