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quinta-feira, março 15, 2012

GOVERNO DILMA [In:] BASE DE APOIO COM RACHADURAS


APÓS TROCA DE LÍDERES, DILMA PERDE APOIO DO PR NO SENADO



UM DIA APÓS CONCLUIR TROCA DE LÍDERES, DILMA PERDE BANCADA DO PR NO SENADO
Autor(es): CHRISTIANE SAMARCO, JOÃO DOMINGOS
O Estado de S. Paulo - 15/03/2012

Contra-ataque. Senadores da sigla, insatisfeitos com a indefinição no Ministério dos Transportes e com a substituição de Romero Jucá (PMDB-RR) por Eduardo Braga (PMDB-AM), anunciam fim do compromisso com o governo, que decide adiar votações decisivas


Menos de 24 horas depois de inflamar a base aliada com a troca dos líderes do governo no Senado e na Câmara, a presidente Dilma Rousseff perdeu os votos dos sete senadores da bancada do PR no Senado, um prejuízo equivalente a quase 10% dos 81 senadores, que em tempos de crise e insatisfação com o governo podem ser decisivos em qualquer votação de interesse do Planalto no Congresso.

"Ministra, nós temos uma decisão que vou comunicar agora. Nós, do Senado, não queremos mais negociar com o governo. Nossa posição é não mais apoiar nem acompanhar o governo no dia a dia", disse por telefone o líder do partido no Senado, Blairo Maggi (MT), até então cotado para a pasta dos Transportes, à Ideli Salvatti (Relações Institucionais), ontem, precisamente às 17h40. "Estamos há nove meses conversando. Cansei. "PT saudações"."

A frase de Maggi resume o sentimento dos parlamentares diante dos recentes movimentos da presidente. Duas horas depois de se reunir com os presidentes e líderes de partidos aliados para se apresentar como o novo negociador do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) sentiu o peso da dificuldade de apagar os incêndios do governo.

"Vocês resolvem a vida de todo mundo e não resolvem a nossa", continuou Maggi, que esteve pela manhã com a ministra para cobrar uma definição do governo em relação ao Ministério dos Transportes, tirado do PR em julho. A insatisfação é tanta que o PR estendeu sua revolta à eleição para a Prefeitura de São Paulo. Descartou uma chapa com Fernando Haddad (PT).

"Vamos ver em cada Estado como vai ficar o PR. Vamos desembarcar em São Paulo para tratar disso, porque todos os partidos lá nos querem", disse o presidente da legenda, Alfredo Nascimento (AM), ex-ministro, que foi titular do primeiro ministério a ser "faxinado" e inimigo político de Braga, escolhido por Dilma para "pacificar" a base. Ele disse que sem os instrumentos do governo a estratégia de sobrevivência do partido tem de ser montada agora. "Chega. Ninguém aqui é moleque. Sempre demos liberdades às regionais, mas agora vamos intervir", disse, deixando claro que não haverá mais ajuda ao PT nos municípios.

Além de rebeliões e rompimentos, o preço pago pelo governo pode ser também uma maior lentidão do Congresso na votação de projetos importantes. O Código Florestal, por exemplo, só será posto em pauta depois da Rio+20, a conferência das Nações Unidas para a sustentabilidade, que será realizada em junho. A Lei Geral da Copa foi guardada para a semana que vem. "Até que choques políticos dos últimos dias passem", disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Ele se referia à operação de troca de líderes do governo, considerada por todos os partidos da base aliada como "inoportuna" e "truculenta".

Novo time. No lugar de Romero Jucá (PMDB-RR), Dilma nomeou o senador Eduardo Braga. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi substituído por Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Um auxiliar da presidente prevê dias difíceis nas negociações. Jucá e Vaccarezza são qualificados como "duas cobras criadas", que poderão causar problemas nas votações e debates. Contam com forte liderança sobre as bancadas de todos os partidos, pois comandaram negociações complicadas que lhes renderam dividendos. Vaccarezza é desafeto da ministra Ideli Salvatti.

Em todos os partidos há críticas quanto ao estilo de Dilma de se relacionar com o Congresso. Alguns chegam a dizer que ela não sabe fazer política. Para um líder da base, as feridas vão cicatrizar e as diferenças serão consertadas. O problema, lembra ele, é a relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Essa, todos duvidam de que vá mudar.

"Desastre". A substituição de Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) por Pepe Vargas é considerada um "desastre" pelos parlamentares do PT. Acontece que ao levar Vargas para o ministério Dilma tirou o PT da Prefeitura de Caxias do Sul.

Vargas era o favorito para vencer a eleição e já tinha fechado aliança com o PP, forte na cidade. Sem ele, o PP vai apoiar o PC do B. Ao contrário do que aconteceu com a substituição de Luiz Sérgio (Pesca) pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), a entrada de Vargas não foi feita para abrir espaço a um novo partido aliado.

Collor. A presidente Dilma também recebeu um recado do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL). "O diálogo precisa ser reaberto. É fundamental que o Planalto ouça esta Casa e ouça a Casa ao lado. Digo isso com a experiência de quem, exercendo a Presidência, desconheceu a importância fundamental do Senado e da Câmara para o processo democrático e de governabilidade. O resultado desse afastamento meu redundou no meu impeachment."

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