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terça-feira, junho 19, 2012

MAL DE ALZHEIMER




‘Não vou estar confortável no mesmo palanque que Maluf’, diz Erundina


Em entrevista ao ‘Estado’, deputada diz não saber se o tempo de TV a mais compensa o custo político da aliança

16 de junho de 2012 | 21h 28
Fernando Gallo e Julia Duailibi, O Estado de S. Paulo
A deputada Luiza Erundina (PSB), pré-candidata a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad (PT) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, disse ter sido surpreendida pela aliança com o PP, de Paulo Maluf. "Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência", afirmou, em entrevista ao Estado neste sábado, 16.
Erundina, pré-candidata a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad - Evelson de Freitas/AE
Evelson de Freitas/AE
Erundina, pré-candidata a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad
Na última quarta-feira, 13, o Estado noticiou com exclusividade a possibilidade de a deputada aceitar a formação de chapa com o ex-ministro da Educação. A aliança com os petistas deve dar a Haddad cerca de 1min30s em cada um dos blocos do horário eleitoral na TV, que começa a partir de agosto. "Entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora, não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão", completou a ex-prefeita, que administrou a cidade pelo PT entre 1989 e 1992.

"Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim, não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf", afirmou numa referência ao deputado e ex-prefeito, que foi um dos seus maiores adversários políticos na capital. Leia a seguir a íntegra da entrevista.
A sra. decidiu tomar um rumo diferente do PT 15 anos atrás. Agora voltam a se juntar. Mudou a sra ou mudou o PT?
Mudamos os dois. Eu nunca me afastei daquilo pelo que eu ajudei a construir no PT, a militar, a construir as tarefas políticas que o PT me atribuiu durante todo aquele tempo. A partir daí é que mudei de partido. Não foi uma decisão fácil. Foi traumática para mim. Mas naquele momento minha experiência no PT havia se esgotado.

Por que?Eu entendia que minha visão político-partidária, minha prática política, minha relação com o partido durante o governo foi uma relação difícil, as experiências de campanha também foram muito difíceis. Os processos se esgotam e a gente tem que ter coragem para não... Em um determinado momento me coloquei a seguinte hipótese: ou eu saio da política, embora filiada ao PT, mas se militância, ou para continuar a fazer política com o nível de engajamento, de participação e militância era melhor eu ir para outro espaço.

Mas por que o realinhamento com o PT?
Nem fui eu. Foi uma decisão partidária. Lógico que como liderança partidária isso passa por mim. Eu sou ouvida. A direção me consultou e nós fizemos uma discussão política mais aprofundada. Avaliamos que no interesse maior do projeto que estamos construindo no País desde a primeira vitória de Lula, a vitória da Dilma, tem sido num alinhamento estratégico com o PT.
Por que vale em 2012 e não valeu em 2004?
Eu era uma candidata potencial naquele momento. Havia condições objetivas para que eu pudesse disputar o cargo de prefeita. No segundo turno fui de cabeça e procurei dar a minha contribuição. 
As feridas já estão cicatrizadas? A senhora dividiu na sexta a mesma mesa com o Rui Falcão, que esteve em trincheiras opostas as da senhora no PT na década de 90.
Isso foi uma das dificuldades, a relação do governo com o governo e com o partido no município. Quem era o presidente na época era o Rui Falcão. Nós tivemos muita dificuldade. Ele reconhece hoje, não publicamente, mas, particularmente, faz má autocrítica de que o partido poderia ter ajudado o governo e não ter criado tanta tensão como ocorreu naquele momento.
A sra. disse que é amiga da Marta e que vai tentar trazê-la para a campanha. O que explica a ausência dela? Ressentimento?
Não tenho detalhes sobre o que aconteceu entre a Marta e o partido dela. Mas conheço muito a Marta. Ela é muito franca, inteira, fala exatamente aquilo que acha, sente. É uma pessoa que não tem meio-termo. Isso é um mérito e um valor dela. O governo dela deixou uma herança. 
Líderes do PT já afirmaram que ela está cometendo um grave erro político. Está?
Não faço esse julgamento político, sobretudo porque tenho a expectativa de que ela vai entender a necessidade de vir ajudar. Falar isso é julgá-la mais ainda. 
O PT mudou ao chegar ao poder?
Um partido de esquerda, com vocação socialista, que era o que eu entendia do PT quando estava no partido, quando chega ao poder tem dificuldade de conviver com os limites que existem nesse Estado. Ter que governar com outras forças políticas é mais complicado, mais difícil. O PT não é mais aquele de 30 anos atrás, com certeza, até pelo fato de participar da luta institucional nos marcos da política que existe hoje no País. Se explica que o PT, mesmo com o corte ideológico dos nossos partidos, tenha que fazer inflexões para sobreviver como governo. 
A sra. está dizendo que o PT se tornou mais pragmático?
Com certeza. Muito mais pragmático. Com o presidencialismo e uma minoria no Congresso você tem muito mais dificuldade de governar. Eu vivi isso na cidade de São Paulo. Governei quatro anos com minoria na Câmara dos Vereadores. Para ter maioria, teria que ter feito concessões. Eu preferi não ter maioria, não ter conseguido aprovar certas iniciativas de lei do que ter feito concessões. Mas aquilo pensado numa cidade talvez tenha sido menos difícil de administrar do que no âmbito do País. 
O PT fez muitas concessões? Perdeu a coerência?
Fez muitas concessões. Não diria de forma absoluta que perdeu a coerência. O programa partidário, por essas injunções da política institucional, da correlação de forças, teve que ser mudado. Até porque o partido faz suas análises a partir das suas experiências de governo. Tudo isso envolve tantas variáveis... É fácil julgar estando de fora dizendo que tal política é incoerente. Mas você não está dentro do espaço de decisão. Prefiro não julgar um partido em que não estou mais. Agora, com todas as críticas que a gente pode fazer aos governos do Lula e da Dilma, eles foram governos voltados para o interesse da maioria. Mesmo que isso tenha exigido certas concessões ao outro polo da sociedade. A política é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração, da vontade política só. 
Alianças com Sarney, Jader, Renan... Isso é bem real, não?
É bem real. Quando penso num processo desses, a aliança maior que me mobiliza é a aliança com o povo. Os nossos governos federais, desde o primeiro governo Lula, teriam menos força no Congresso se houvesse uma aliança mais estratégica, orgânica e permanente com a sociedade civil organizada. Espero dar a minha contribuição chegando lá com o Haddad. 
A sra. combateu o deputado Paulo Maluf durante parte muito importante de sua carreira política. Que avaliação a sra. faz da entrada dele na campanha?
Foi uma decisão dos partidos que não passou nem passaria por mim. Provavelmente teria dificuldade de aceitar essa decisão. Meu partido deve ter sido consultado sobre isso. As responsabilidades de alianças são da direção nacional. 
Tivesse sido consultada, diria 'não'?
Faria minhas ponderações. Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência. 
A sra. foi surpreendida pelo apoio?
Fui, quando o jornalista me mostrou uma mensagem eletrônica. Agora eu entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão. Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf. Não que eu tenha nada contra a pessoa dele. Inclusive a gente convive no Congresso numa boa. Ele sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa. A gente convive no mesmo espaço e tem que saber distinguir a pessoa daquilo que ela pensa e faz na política.
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