PENSAR "GRANDE":

***************************************************
[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
***************************************************


“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

----

''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).

"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).

"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br

=========
# 38 RÉUS DO MENSALÃO. Veja nomes nos ''links'' abaixo:
1Radio 1455824919 nhm...

valor ...ria...nine

folha gmail df1lkrha

***

quarta-feira, maio 18, 2011

FMI/MUNDO [In:] A DANÇAR COM ''STRAUSS''

...

A zona do euro depois de Strauss-Kahn

Autor(es): Martin Wolf
Valor Econômico - 18/05/2011

A visão de Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e possível candidato à presidência da França, algemado pela polícia, foi espantosa. Se as acusações forem verdadeiras, esse homem, profissional competente, é um lunático. Mas, a menos que as acusações não se sustentem, o incidente projetará uma longa sombra.

Strauss-Kahn revelou-se o homem certo no lugar certo na hora certa. Inicialmente, tive minhas dúvidas sobre a nomeação de mais um francês e, incidentalmente, um político, para dirigir uma instituição internacional tão fundamental. Eu estava errado. Strauss-Kahn revelou-se um ousado tomador de decisões, um político eficaz e um economista competente. Essa combinação é muito rara. Provavelmente, nenhum dos candidatos em discussão se desincumbiria da missão como ele o fez durante a pior fase da turbulência econômica mundial e, depois, das crises financeiras na zona do euro.

Era amplamente esperado que Strauss-Kahn em breve deixasse o FMI para concorrer à presidência da França. Se fosse vitorioso, poderia ter transformado a capacidade da zona do euro de administrar sua atual crise interna. Ele certamente traria, para essa tarefa, recursos ausentes no atual presidente francês, Nicolas Sarkozy: antes de tudo, seu peso intelectual e, assim, credibilidade perante as autoridades governamentais alemãs, principal potência europeia.

Strauss-Kahn, era uma das poucas altas autoridades econômicas europeias a quem os dirigentes alemães, particularmente a chanceler Angela Merkel, davam atenção. Em momentos cruciais, ele foi capaz de reunir os europeus. Com efeito, ele parecia capaz até mesmo de produzir consenso em um governo alemão dividido. Não consigo imaginar quem poderia substituí-lo.

Inevitavelmente, já há muita discussão sobre quem poderia substituir Strauss-Kahn no FMI. É fácil lembrar tecnocratas competentes em todo o mundo. É também possível pensar em personalidades politicamente eficazes. Ninguém combina essas facetas gêmeas como ele. A questão da nacionalidade também se coloca. Os europeus, suspeito, insistirão em que seja outro europeu, possivelmente Christine Lagarde, atual ministra das Finanças francesa. Os países emergentes apresentarão seus próprios candidatos. Mas, dado o papel central desempenhado pelo FMI agora na zona euro como fonte de financiamento e, mais ainda, de competência técnica, é difícil imaginar que os europeus abririam mão. Desconfio que os EUA os apoiariam, e, nesse caso, terão os votos necessários. Certamente nenhum não europeu poderia assumir o papel que Strauss-Kahn desempenhou na zona euro.

Ele era uma das poucas altas autoridades econômicas a quem os dirigentes alemães, particularmente Angela Merkel, davam atenção. Em momentos cruciais, ele foi capaz de reunir os europeus. Ele parecia capaz até mesmo de produzir consenso em um governo alemão dividido.

A queda de Strauss-Kahn acontece em um momento importante. Como afirmei na semana passada, o programa grego não funcionou como planejado. Isto não é surpreendente: nunca pareceu provável que daria certo. Existe uma boa chance de que o mesmo irá revelar-se verdadeiro quanto ao programa de € 78 bilhões para Portugal. A Irlanda, sem dúvida, recuperou sua saúde. Num mundo de equilíbrios múltiplos, está longe de garantido que até mesmo a Espanha consiga administrar os ajustes que tem pela frente. Além disso, como revela o FMI em uma nova análise da conjuntura europeia, o extremamente alavancado sistema bancário da zona do euro permanece vulnerável.

Os fundamentos econômicos da crise são claros. Durante os anos do boom, alguns países foram capazes de tomar maiores empréstimos e em condições mais favoráveis do que nunca. Eles, então, incorreram em enormes déficits em conta corrente. Esses déficits - e não déficits fiscais, conforme a percepção generalizada equivocada dos alemães -, acabaram por ser o principal indicador de futuras crise. As contrapartidas domésticas desses déficits externos poderiam ser enormes déficits fiscais (como na Grécia), enormes déficits financeiros privados (como na Irlanda e na Espanha) ou uma combinação dos dois (como em Portugal).

De fato, agora sabemos que a distinção entre déficits privados e endividamento e entre déficits públicos e endividamento é muito menos absoluta do que no entendimento dos sacerdotes fiscais: dívida privada torna-se dívida pública e déficits privados tornam-se déficits públicos muito rapidamente. Em meio a uma crise, grandes déficits externos também resultam em "paradas súbitas" no afluxo de financiamento externo, daí a necessidade de suporte oficial para financiar os déficits em conta corrente e fiscal em curso e a fuga de capitais.

Um país com um setor privado sobrecarregado de dívidas que esteja também tentando reduzir seu enorme déficit fiscal estrutural precisa gerar uma melhoria compensadora em sua conta corrente. Isso é uma questão de lógica. Consideremos Portugal. Segundo o FMI, o país teve um déficit em conta corrente equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, um déficit fiscal de 7% do PIB e, portanto, um déficit implícito do setor privado igual a 3% do PIB. Para que o déficit orçamentário possa ser melhorado sem elevar o déficit do setor privado, a conta corrente precisa melhorar substancialmente. Mas isso implica aumento de competitividade. O desafio de competitividade com que se confrontam esses países é muito maior do que o enfrentado pela Alemanha no fim dos anos 1990.

Independentemente do ajuste financeiro, alguém precisa também arcar com os prejuízos decorrentes de incobráveis concessões e tomadas de empréstimos passados. Em seu descortino, a zona do euro decidiu que o prejuízo dos credores do setor privado deve ser socializado e que o ônus recaia sobre os países deficitários. Os contribuintes, então, sofrerão, primeiro, recessão, e, depois, anos de austeridade fiscal. A justificativa para tudo isso é a visão, fortemente assumida particularmente pelo Banco Central Europeu (BCE), de que a zona do euro não pode dar conta de eventuais calotes, seja no caso de empréstimos a bancos ou de empréstimos a governos. Mais uma vez, dissolve-se a distinção entre dívida pública e privada.

Mas o problema com a estratégia de impor o ônus aos contribuintes em países tomadores de empréstimos é que provavelmente não dará certo. Como uma proporção cada vez maior dos financiamentos acaba em fontes oficiais, é provável que elas acabem arcando com os custos politicamente explosivos quando as dívidas são perdoadas. Alguma "participação do setor privado", ou pelo menos alongamentos de prazos de vencimento serão também necessários. Assim, também precisará haver cancelamento de empréstimos a bancos falidos e subsequente recapitalização de instituições financeiras abaladas.

Esse tipo de crise é de difícil solução. Como deveria ser financiado o ajuste? Quem deveria arcar com os prejuízos? Como deveria ser minimizado o pânico? Os desafios são enormes. A estratégia atual exige cada vez maior financiamento oficial por períodos cada vez mais amplos. Será viável? Se não, alguém precisará repensar a questão. Sem Strauss-Kahn, eu me pergunto, quem agora será capaz de apontar o caminho.

Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.

-----------

Nenhum comentário: