A direção do PMDB, legenda de Renan Calheiros, tenta evitar que a crise que rói o prestígio do presidente do Senado contamine toda a legenda. Fez chegar a Lula a informação de que o apoio da legenda ao governo independe do desfecho do Renangate. Nos subterrâneos, Renan vinha ameaçando envenenar as relações do governo com o PMDB, maior partido do consórcio governista, caso o Planalto lhe negasse apoio. A mensagem do partido a Lula sinalizou o contrário. O presidente foi deixado à vontade para adotar a posição política que lhe pareça mais conveniente. Em avaliações internas, a cúpula peemedebista concluiu que não faria sentido exigir de Lula algo que o próprio partido negou a Renan. Há cerca de dez dias, o senador procurou o deputado Michel Temer, presidente do PMDB. Sentindo-se isolado, Renan rogou a Temer que o apoiasse publicamente. Sugeriu a divulgação de uma nota oficial do PMDB. O deputado recusou-se a atender o pedido, sob a alegação de que já não há mais condições políticas para uma manifestação do gênero. O malogro da embaixada de Renan junto a Temer é mais uma evidência da solidão do presidente do Senado. Antes da crise, o senador era um político de mostruário. Embora governista, mantinha relações amistosas com a oposição. O assédio da suspeição restringiu-lhe os movimentos. Em nota, o “DEMO” exigiu que Renan se licenciasse da presidência do Senado. Inicialmente comedido, o PSDB viu-se compelido a seguir as pegadas do parceiro de oposição. Há uma semana, Arthur Virgílio, líder dos tucanos, pediu, do alto da tribuna, o afastamento de Renan. Emparedado, o presidente do Senado, que “presidia” a sessão, reagiu com aspereza: “Se quiserem a minha cadeira, vão ter que sujar as mãos”, deblaterou, socando a mesa. No dia seguinte, informado de que arrostaria um protesto urdido por deputados, Renan esquivou-se de presidir uma sessão conjunta do Congresso. A fuga foi ao noticiário como a primeira evidência concreta de que Renan a suspeição e o comando do Congresso são coisas incompatíveis. A segunda evidência viria no dia seguinte. Munido das prerrogativas de “comandante” do Senado, o presidente Renan adiou a reunião em que a Mesa diretora da Casa decidiria sobre o envio à Polícia Federal de um pedido de aprofundamento da perícia dos documentos que compõem a defesa do réu Renan. O encontro dos senadores que dirigem o Senado, que deveria ter ocorrido na semana passada, está agendado para as 11h desta terça-feira (17). Espera-se que a Mesa do Senado autorize a PF a completar a sindicância preliminar que apontou incongruências nas transações agropecuárias com que Renan diz, bovinamente, ter bancado os repasses financeiros à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha. Escrito por Josias de Souza. Foto Fabio Pozzebom/Abr.
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